Alquerques ou Ideogramas Mágico Religiosos?- I Parte - Folk Religion

Figura 1


I Parte
Índice
1- Introdução
2- Santuários
2.1 - Arte Rupestre Esquemática: Função Votiva e (re)sacralizante
2.2 - Templos (re)sacralizados
2.3 - Santuários de Grafitti: Função Votiva
2.4 - Redes, Fórmulas e outras Associações
Discussão 
Bibliografia 

II Parte (LINK)
Índice
3- Mundo Funerário: Função Apotropaica
4- Placas Apotropaicas: de Amuletos a elementos Arquitetónicos
5- Verticalidade: das Placa Apotropaicas ao Graffiti Histórico
Discussão
Bibliografia

III Parte (em construção)
Índice
6 - Horizontalidade em lugares de destaque
7 - Heráldica
8 - Covinhas
9 - Outros Suportes 
Discussão
Bibliografia

IV Parte (em construção)
Índice
10 - Significados
11 - Magia
12 - Cronologias
13 - Origem
14 - Considerações Finais
Bibliografia 


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I Parte


Introdução


    O xadrez é decididamente o meu jogo preferido. Aprendi a jogar com o meu pai no tabuleiro do meu avô. As peças de marfim e pau-preto são uma recordação das origens indianas e africanas da minha família. Foi o xadrez que levou ao interesse pelo  Alquerque. O facto de vivermos na Aldeia da Venda também ajudou. A Identidade Cultural por cá é muito forte e ainda se conserva muito Património. Nos nossos passeios lá fomos procurando pelos tabuleiros de jogo. No Sul de Portugal Continental e também  na Ilha da Madeira já encontrámos mais de 300 tabuleiros inéditos. Fizemos o levantamento de forma metódica dos tabuleiros do Concelho de Alandroal que podem encontrar AQUI. Fizemos apresentações sobre o tema dos tabuleiros de jogo  em Lisboa, Monsaraz e Olivenç(z)a.
    "Alquerque" vem do arábico "al Quirkat" que se traduz "o jogo". Com este nome o Rei Afonso X de Castela imortalizou três tabuleiros e algumas formas de jogá-los no seu “Libro de los Juegos”. Desde o século XIII inúmeros tabuleiros gravados em todo o tipo de rochas ou edifícios, encontrados em escavações arqueológicas desde a Idade do Bronze, gravados nos mais variados suportes e materiais têm sido identificados como "Alquerques". Na Figura 2 apresentamos os tabuleiros mais conhecidos, formas de jogar e categorias em Portugal e no Mundo. 


Figura 2



    Pensamos agora que grande parte das "Formas" identificadas como tabuleiros de jogo sejam Ideogramas Mágico Religiosos. Já vários investigadores sugeriram funções religiosas e mágicas para os Alquerques. O destaque vai para Marisa Uberti onde fomos buscar vários exemplos que incluímos neste Post. Esta investigadora, e colaboradores, reuniram um vasto acervo de Tabuleiros de Jogo no projecto "Centro Studi Triplice Cinta". Uberti encontrou muitos Alquerques desempenhando funções religiosas e mágicas que reuniu na sua obra "The Merels Board Enigma". 
   Outro trabalho de onde retirámos vários exemplos vem do Reino Unido. No Blogue "Raking Light" encontramos o interessante artigo de Anthea Hawdon - "Gaming up the walls". 
   Outra referência é o artigo - "From circle and square to the image of the world: a possible interpretation for some petroglyphs of merels boards" de Friedrich Berger. 
   Da vizinha España chega-nos o trabalho de Rodrigo de la Torre Martin-Romo - "Tradición de algunos juegos de fichas en los signos lapidários". Gostávamos de agradecer a todos estes investigadores os exemplos que retirámos dos seus trabalhos.
    Em Portugal a obra de referência sobre o Alquerque é de Lídia Fernandes - "Tabuleiros de Jogo inscritos na Pedra". Esta investigadora não deixa de fora o simbolismo e ritual dos Alquerques: 
    "Apesar do cepticismo com que se possa encara que o acto de jogar ou, de forma independente, a morfologia de um tabuleiro de jogo, possam estar relacionados com a esfera do divino ou pertencer a um mundo mágico-religioso, somos tentados a considerar tal hipótese de forma cada vez mais séria e fundamentada." (p. 256)
    ",..nestes traçados, em alguns casos, uma simbologia benéfica, um sentido de protecção para quem realiza a gravação...." (p. 256) 
    "A coexistência entre tabuleiros de jogo e mundo funerário e religiosos, deverá ser entendido, como um acto perfeitamente normal, do domínio comum e não leviano ou condenável, podendo, em alguns casos, associar-se-lhe uma simbologia apotropaica." (p. 257). 
    González Cordero (2000) no seu trabalho - "Los Grabados de tradición lúdica en sobre tabuleiros de jogo da Extremadura (España)" e acerca do simbolismo dos mesmos:
    "Esta corriente lo que en suma traduce es la existencia de una proyección cartográfica del arquetipo divino, uma "imago mundi" muy vinculada a las prácticas de sacralizáción medieval que tienen por objecto manifestar la presencia de una divinidad geocéntrica gobernadora de un mundo limitado, a la que se puede acceder a través de los caminos que atraviesan el cuadro." (p380).
    O mesmo autor afirma que a partir do século XVI a Igreja tenta extinguir esta atividade gliptográfica nos templos.   
    Luís Carolino no seu trabalho - "A gravação das Carreiras (Portalegre) e tradições lúdicas do Alto Alentejo" cita Diéguez Luengo:
    "El cuadrado representa, tanto en 1ª Hermética general del Occidente, como en la Simbologia Cristiana de figuras geométricas, al Mundo,. Los cuadrados, los tres recintos, representam los tres mundos de la Edad Media: el Mundo Terrenal, el Mundo Astral y el Mundo Celestial o Divino donde residian los Espiritus Puros con Dios." (p88).
    O mesmo autor acerca do Alquerque dos Nove ou Jogo do Moinho:
    "...o jogo do moinho poderá ter surgido como um jogo que tinha como base a representação simbólica do universo ou território...esta forma....foi utilizada e reutilizada com simbolismos vários...o sentido lúdico e o significado simbólico foram-se desligando...."
   Os investigadores Espinel Cejas e Garcia-Talavera Casanas (2010) sobre os Tabuleiros de Jogo das Canárias na sua obra - "Juegos Guanches Inéditos":
    "...ciertos juegos tiene funciones de adivinación del futuro, así como de indiscutibles valoraciones simbólicas y mágico-religiosas. esto ocurre entre los mazigios (berberes) del continente africano...." (p145). 
    As "Formas" que vamos abordar surgem no registo arqueológico do nosso território desde a Pré-História recente. No entanto podemos encontrá-las por todo o mundo em períodos cronológicos mais recuados. Podemos argumentar que estas Formas podem ter sido "inventadas" em várias partes do mundo ao mesmo tempo. A nosso ver parecem ter tido origem na Ásia e provavelmente no Sub - Continente Indiano. Porquê? Porque na Índia encontramos todas as centenas de Formas conhecidas e mais algumas. À medida que nos afastamos da Índia vamos tendo menos Formas. Na Ásia os nossos Alquerques ainda são jogados e de várias maneiras. Na Ásia os Alquerques ainda são Ideogramas Mágico Religiosos. Falaremos um pouco da origem espacial e temporal das nossas Formas mais à frente. No entanto não é esse o objectivo deste post. 


Figura 3


    O objetivo deste Post é tentar provar que grande parte das formas interpretadas como tabuleiros de jogo são Ideogramas Mágico Religiosos. "Ideogramas" no sentido de representação de uma ideia ou conceito reconhecidos por vários indivíduos. É interessante verificar que este reconhecimento ultrapassa fronteiras e até continentes. "Mágico Religiosos" porque não queremos ferir suscetibilidades. No entanto a divisão entre magia e religião parece-nos muito recente e até difícil de encontrar.
    Na Figura 3 observamos as Formas discutidas ao longo deste Post. Na Coluna 1 encontramos as formas que podemos chamar de "originais". Estas desenvolvem-se ao longo das Linhas. Da Forma A1 parecem originar quase todas as outras formas. Exceto a Linha G que parece representar  uma "ideia" diferente e de que falaremos nas considerações finais. Na Coluna 2 temos as nossas Formas enquanto Suásticas. Ganharam o nome de "Gironadas" graças à Heráldica medieval e à língua francesa. Na Coluna 3 encontramos as nossas Formas enquanto "Covinhas". Nas Colunas 4 a 6 vemos as nossas Formas em transformação, por vezes simplificam-se, por vezes assumem forma de "Redes". Na Coluna 7 encontramos as nossas Formas "Circulares" provavelmente mais antigas. Na Coluna 8 encontramos as nossas Formas relacionadas com "Triângulos", surgindo com frequência no Alentejo, e na Forma de "Rosa Camuna" que é mais uma Suástica. 
    Na Figura 3 também podemos observar como as Formas se relacionam, como muitas delas são diferentes representações dos nossos "Alquerques" da Coluna 1. Estes Ideogramas Mágico Religiosos desempenham diferentes funções. Formam autênticos santuários repletos de votos e ex-votos fazendo a ponte entre o Homem e Deus. (Re)Sacralizam espaços e representações de religiões anteriores. Protegem os mortos na sua viagem ou impedem que voltem para atormentar os vivos. Têm uma função apotropaica protegendo indivíduos, edifícios e até nações. Os nossos "Alquerques" podem até ser "jogados" de forma a adivinhar o futuro.
    Os Ideogramas Mágico Religiosos chegam-nos de um tempo em que não existia distinção entre magia. religião e arte. De um tempo em que poucos sabiam ler e escrever. E mais importante, estes Ideogramas ainda estão vivos aqui na Raia Alentejana. Continuam desempenhando as suas funções Mágico Religiosas dentro da Religião Popular. Uma imensa  "continuidade". 
    Apesar de vários nomes locais, foi como "Alquerque" que três das nossas Formas ficaram imortalizadas e passaram a ser apenas um jogo. As três formas que encontramos no livro de Afonso X não eram apenas um jogo no século XIII. Esta é uma interpretação da equipa de Afonso X que trabalhou nos manuscritos. Estes "investigadores" trabalharam a partir de Sevilha e podiam desconhecer as outras Funções dos nossos Ideogramas. Um problema que continua até hoje. Muitos dos investigadores que estudam estas Formas partem do pressuposto que são tabuleiros de jogo. Aconteceu connosco. Identificam uma mão cheia de formas, no meio um universo simbólico vastíssimo, como tabuleiros de jogo. Trabalham por vezes com fontes secundárias e longe do terreno. Só passando uns anos por essas aldeias alentejanas é que se começa a deslumbrar um mundo simbólico e ritual escondido à vista de todos. 
    É muito interessante como várias formas, interpretadas como Tabuleiros de Jogo, nem sequer surgem na obra de Afonso X. No entanto são consideradas tabuleiros de jogo "à priori". Formas que surgem na "vertical" em suportes pétreos mas também em estuques e madeiras. Formas associadas a outras claramente apotropaicas. Formas que surgem nos mais variados suportes e apresentando características que nada têm a ver com tabuleiros de jogo. Não podemos arranjar explicações para todas as situações referidas de forma a justificar uma função lúdica. Quando o fazemos estamos a desperdiçar uma oportunidade de conhecer quem somos e como chegámos até aqui. 
    As maneiras de jogar em centenas de formas diferentes acabam por ser apenas três (ver Figura 2). Como Jogo de Alinhamento ou seja os vários três em linha. Como Jogo de Caça onde várias peças tentam encurralar outra mais forte. Como Jogo de Guerra semelhante às Damas. Por vezes até se diz que esta última maneira de jogar representa o antepassado das Damas. Pensamos que seja o contrário. Formas de jogar comuns e simples que foram adaptadas aos nossos Ideogramas Mágico Religiosos.     
    Podemos também considerar a omissão da equipa de Afonso X como intencional. Tem acontecido ao longo da História. No registo histórico parece ter havido uma explosão do graffiti na Idade Média. O que realmente aconteceu na Idade Média foi uma grande luta dos monoteísmos contra as várias expressões das religiões anteriores, Templos de religiões anteriores foram arrasados ou assimilados por novas construções. Mas este sincretismo religioso foi muito para além da Arquitetura. Formas e Ideogramas ancestrais foram completamente deturpados e associados ao mal. No entanto alguns deles chegaram a ser usados pelo Cristianismo. O Pentagrama é disso exemplo. Sendo muito comum num Cristianismo que podemos chamar de "primitivo". Foi depois associado a Bruxas, a Lucifer, ao Paganismo e até à religião Judaica. Passou a ser algo de negativo. Mas ainda está "vivo" aqui na Raia Alentejana. 
    Na Figura 4 apresentamos os símbolos encontrados com maior frequência protegendo edifícios pelo Alentejo. Podem encontrar o estudo AQUI. O Pentagrama surge em terceiro lugar como forma mais usada. À medida que vamos avançando no tempo deixa de surgir no discurso "oficial" dos edifícios e passa para o discurso "marginal" do Graffiti. Se procurarmos com atenção ainda encontramos muitos Pentagramas em elementos arquitetónicos de templos cristãos mais antigos. A Suástica Lauburu desapareceu quase por completo. A Roseta Hexapétala sobrevive até mais tarde como representação do Sol. O Deus cristão associado ao Sol e substituindo esse outro Deus solar que foi Mitra. Os nossos "Alquerques" estão por todo lado escondidos nos mais variados suportes mas principalmente no Graffiti. O Graffiti é uma forma de expressão daqueles que a História não deu voz, da gente comum. São estas gentes que guardam tradições milenares e é neles que encontramos a extraordinária continuidade dos Ideogramas Mágico Religiosos dentro da religião popular. 


Figura 4



    Este Post é resultado de muitas horas de trabalho de campo e da recolha de muitas centenas de grafitos. Talvez no futuro tenhamos financiamento/tempo para realizar a recolha dos grafitos de uma forma mais científica. Um levantamento ideal seria com luz rasante. Este método é de longe o melhor e permite recuar séculos na visualização de riscos muito ténues. Os levantamentos na forma de desenho, com uma película transparente, são sempre uma interpretação do desenhador. Nos grafitos e montagens que apresentamos falta uma escala. Vamos tentar colmatar esta situação na descrição onde apresentaremos as medidas e o material do suporte.
    Os grafitos que recolhemos são na sua maior parte inéditos. A estes vamos acrescentar exemplos de outros investigadores. Este "cruzamento" de exemplos é muito importante. Só assim conseguimos percebera dimensão e variedade dos Ideogramas Mágico Religiosos. A Internet é uma ferramenta essencial quando usada para o "bem". Queremos destacar dois grupos do Facebook de grande interesse e onde fomos buscar muitos exemplos. São eles o grupo "English Medieval Grafitti" e o grupo "Marcas de canteria, estelas discodailes, grafitos e otros gliptogramas". Gostávamos de agradecer aos elementos destes grupos e todos os amigos que tanto partilham na internet. Partilha é a palavra chave para qualquer investigação. 
    Este Post divide-se em duas Partes. Na Primeira fazemos uma introdução ao nosso trabalho. Vamos também abordar o tema dos Santuários ao ar livre e nas Urbes. Aqui encontramos as nossas Formas desempenhando uma Função Votiva. A Associação das nossas Formas a outras reconhecidamente Ideogramas Mágico Religiosos é importante. Falaremos também de algumas Formas que não sendo Alquerques são por vezes confundidas com tabuleiros de jogo. Na Segunda parte vamos visitar o Mundo Funerário onde muitas Estelas têm sido confundidas com "mesas de jogo". O mesmo acontece com aquilo a que chamamos de "Placas Apotropaicas". Falaremos também dos vários suportes onde os nossos Ideogramas surgem desempenhando funções apotropaicas. Visitamos a Heráldica que esconde muitos dos nossos Ideogramas. Guardamos a Magia para o fim onde abordaremos as também, por alto,  origens das nossa Formas.  



2 - Santuários


2.1 - Arte Rupestre Esquemática: Função Votiva e (re)sacralizante



    As primeiras sociedades humanas eram animistas. Acreditavam que toda a Natureza era a "alma". Animais, árvores, rochas, rios, fenómenos naturais ...... tudo estava ligado. Hoje a maior parte da humanidade perdeu esta ligação com consequências que ainda não compreendemos. No animismo alguns afloramentos rochosos são especiais. Estas  Rochas Sagradas são autênticos Santuários. Nestes Santuários podemos comunicar com os deuses através de Ideogramas a que hoje chamamos de Arte Rupestre. 
    Aqui na Raia Alentejana ainda temos uma maneira de ser antiga. Por cá o mais importante é a família. O chamado a "quem pertences". Fazendo o individuo parte de uma família alargada. A reputação desta família é a do indivíduo. A maneira de ser alentejana é muito forte..... a famosa "teimosia" alentejana. Esta "temosia" permitiu a sobrevivência de uma rica Identidade Cultural. Nesta encontramos tradições que podemos chamar de animistas. Estas tradições estão vivas e nunca esqueceram as Rochas Sagradas. 
    Ali no Monte de Vênus (Serra d'Ossa) temos a Rocha de S. Cornelho. Nesta Rocha oferecemos  cornos aos Deuses e pedimos proteção para os animais. Na nossa Freguesia de Santiago Maior encontramos a Pedra Alçada e muito perto a Pedra Escorregadia (Figura 5). Em Monsaraz encontramos a mesma situação. O Penedo Comprido e muito perto mais uma Pedra Escorregadia (Figura 6). Menires fálicos e "Escorregas de Bruxas" por onde as mulheres escorregavam em busca de fertilidade. Rituais de fertilidade antigos hoje associados a brincadeiras de crianças e às bruxas. Andamos mais um bocadinho até S. Pedro do Corval e lá está a Rocha dos Namorados (Figura7). Neste santuário lança-se uma pedra de costas para cima da rocha para tentar prever a data do casamento. Outro ritual milenar. Muito perto encontramos o Santuário de NS do Rosário que esconde uma pequena Qubba. Para Norte, entre o Redondo e o Alandroal, outra Qubba marca a Pedra de Santo Aleixo. Nesta rocha dormia-se numa cavidade para ver o que os sonhos nos diziam. 
    Voltando à nossa Freguesia encontramos a Pedra de Aluá (Figura 7). Visitamos esta rocha com frequência pois fica perto de nossa casa. Um sítio que tem uma concavidade circular escavada na rocha e uma energia muito positiva. Segundo o José Ramalho, a quem agradecemos a partilha, aqui pelas Aldeias ainda existe a tradição de visitar a Pedra de Aluá. Nesta realiza-se um pequeno ritual no Sábado de Aleluia. Sábado em que se acende o fogo sagrado no Círio Pascal. A Páscoa é o início do ano para povos antigos, tempo de renovação e fertilidade. O Círio Pascal é uma vela e nesta cravam-se as Cinco Chagas de Cristo. Um Ideograma milenar que vamos encontrar em muitos afloramentos sob a forma de "Covinhas". Rochas Sagradas, Ideogramas e covinhas ligados há milénios. Temas que continuamos AQUI.


Figura 5

Figura 6

Figura 7



    Compreendemos então a importância das rochas e como estas são autênticos santuários alvo de culto até hoje. Uma continuidade incrível escondida na religião popular. Deixamos os critérios que podem definir um santuário de Arte Rupestre ao ar livre por Coimbra 2009 (p. 100):
    "The procedure mentioned above allowed defining, for the moment, three criteria for considering an open air rock art site as a collective sanctuary. Thus, a rock with engravings may have that function when: 
    1. The engravings have an unequivocal religious character. 
    2. The same rock is carved during several chronological periods and/or has many superimpositions. 
    3. The carved rock is worshiped still recently in association with christianism or other religions. 
    In some rock art sites these criteria may appear isolated or together."
    Segundo este autor temos três critérios que podem surgir isolados ou juntos. As gravações têm que ter um significado religioso inequívoco, têm que haver continuidade nas gravações e associação ao Cristianismo ou outras religiões. 
    Nos exemplos seguintes tentaremos demonstrar que várias das Formas que surgem em afloramentos rochosos e descritas como Arte Rupestre esquemática/geométrica ou tabuleiros de jogo são ideogramas mágico-religiosos. Nestes afloramentos rochosos encontramos também Ideogramas ligados ao Cristianismo nomeadamente Cruciformes e Pentagramas. Estes Ideogramas encontram-se em clara associação com várias das Formas que apresentámos na Figura 3. Temos então critérios suficientes para considerar que estes painéis de Arte Rupestre são Santuários. Podemos também perceber que os mesmos Ideogramas Mágico Religiosos surgem sob diversas formas. Estas formas surgem em vários outros suportes assumindo também funções de carácter mágico-religioso. Não podemos escolher algumas destas formas retirando-as do contexto e considerá-las tabuleiros de jogo só pelo facto de estarem na horizontal. 
    Na Figura 8 apresentamos a Laje dos Cantinhos em Vieira do Minho. Retirado de Cardoso e Bettencourt (p.36, 2015). Neste painel de Arte Rupestre encontramos a Forma E1, Cruciformes e Pentagramas dentro de Círculos. Este painel foi buscar o nome ao Jogo dos Cantinhos. As Formas geométricas são quase sempre vistas como jogos. No entanto a Forma E1 é muito mais que um jogo. Apresentamos alguns exemplos. Na Figura 9 vemos esta Forma num pequeno amuleto da Idade do Ferro, numa moeda da antiguidade grega e associada a "covinhas" de que falaremos mais à frente. Lídia Fernandes também encontrou esta Forma riscada no tampo de uma mesa na Sé de Viseu (ver Figura 30). 
    No conjunto da Laje dos Cantinhos temos 27 representações da Forma E1. Se fosse efetivamente um jogo teríamos tabuleiros para 54 jogadores. Simplesmente não havia necessidade de desenhar tantas vezes a mesma forma se fosse apenas um jogo. As 27 representações encontram-se também muito próximas umas as outras. Esta densidade é semelhante à dos vários Cruciformes que surgem associados. O quantidade de Formas E1 e a densidade em que surgem afasta a hipótese de uma função lúdica. 
    Os Pentagramas que surgem são claramente Ideogramas Mágico Religiosos e como os Cruciformes podem ter uma função (re)sacralizante. A religião dominante tomando posse de sítios sagrados de religiões anteriores. Pentagramas e Cruciformes também podem representar continuidade dentro de uma função votiva. Os habitantes locais continuando a cultuar sítios sagrados mas agora com símbolos da religião dominante. A primeira hipótese aponta para um corte com a antiga Forma E. Estamos mais inclinados para a segunda hipótese. Até porque a nosso Forma E1 continuou a ser usada e em sítios tão sagrados com a Sé de Viseu.
    A Forma E1 e o Pentagrama aparecem na Laje dos Cantinhos com Cruciformes "anexados". Porquê associar Cruciformes a tabuleiros de jogo? Porque não são tabuleiros de jogo. Esta associação, feita de "raiz" ou posteriormente "anexada", afasta a hipótese da função lúdica da Forma E1.  Uma associação que cria novos Ideogramas Mágico Religiosos  compostos e da qual vamos dar mais exemplos.


Figura 8


Figura 9


    Os investigadores Cardoso e Bettencourt em relação aos sítios de Arte Esquemática ao ar livre da bacia do rio Ave onde se inclui a Laje dos Cantinhos: 
    "Se é possível admitir que a gravação destes lugares materializa ou potencia os seus significados originais, então é de admitir que determinados afloramentos, cursos de água e lugares de passagem teriam propriedades para as populações pré-históricas, numa lógica do pensamento animista.
    Dada a importância destes lugares gravados cremos, ainda, que muitos deles permaneceram ativos na longa duração, quer através da memória oral quer através das adições de motivos, sendo, portanto, lugares multisignificantes na longa duração e passíveis de vivências e de experiências distintas. Pela análise da iconografia, das técnicas, das localizações dos motivos no afloramento e da toponímia, coloca-se a hipótese de que estes lugares tiveram uma longa biografia mantendo-se ativos na memória das populações, certamente com adições e alterações de significados em relação aos originais. Aliás, a maior expressão de adição nota-se em momentos em que se pretendeu alterar o sentido real ou imaginado destes lugares, inserindo-os na lógica do cristianismo." (p.37). 
   Segundo esta interpretação dos investigadores estamos na presença de autênticos Santuários onde uma leitura das Formas como tabuleiros de jogo perde todo o significado.
    Na Figura 10 temos o Santuário do Chão da Rapada em Ponte de Barca. Apresentamos o desenho na placa informativa local (Retirado do Blogue Megaliticia). Neste Santuário encontramos Pentagramas, Cruciformes, as nossas Formas E1 e G1 (o Alquerque dos 9). Aqui temos mais um exemplo de como as Formas apresentadas não são tabuleiros mas sim Ideogramas Mágico Religiosos. Neste Santuário encontramos cinco representações da Forma G1. Um número completamente desnecessário num contexto lúdico. As nossas Formas estão também associadas a Pentagramas e Cruciformes reconhecidamente símbolos religiosos cristão. 


Figura 10


    Na Figura 11 encontramos a Rocha 4 da Bouça da Cova da Moura na Maia (infelizmente destruída). Desenho retirada de Bettencout et al. (2012, p.53). Neste Santuário encontramos várias representações das Formas E1, F7 e G1. Mais uma vez encontramos estas Formas associadas a Cruciformes. Em quase todas as Formas um Cruciforme foi "anexado" criando um novo Ideograma Mágico Religioso composto. Precisamente o mesmo que aconteceu na Laje dos Cantinhos. Mais uma (re)sacralização por parte do Cristianismo? Talvez não. Pensamos que estes ideogramas tenham sido construídos "de raiz". Vamos dar alguns exemplos que apoiam a nossa hipótese. 
    


Figura 11


    As fachadas da Igreja de Santa Maria em Estremoz estão repletas de grafitos (Figura 12). Neste Santuário "popular" encontramos gravados largas dezenas de Ideogramas. Entre eles Cruciformes, datas, nomes, anagramas, animais, flores.... Surge também uma Forma B1 (o Alquerque dos 12) associada a um cruciforme e na vertical (Figura 13). Marisa Uberti (2012, p.149) também encontra a Forma G1 (o Alquerque dos 9) associada a um Cruciforme e na vertical. Este está grafitada num quadro de NS das Rosas na Igreja de San Rocco em Piglio. Estes dois exemplos, medievais ou modernos, apoiam a nossa hipótese de que as Formas com Cruciformes "anexados"  forma feitas de "raiz". Estas Formas são  novos Ideograma Mágico Religiosos "Compostos".
    Outros exemplos encontramos na  Figura 14. Retirados do "Centro Studi Triplice Cinta" de Marisa Uberti. Aqui encontramos mais dois exemplos de Cruciformes "anexados" à Forma G1. Desta vez em afloramentos rochosos e pelo menos um deles na vertical. Respectivamente em Casette di Val Verga (Itália) e na "Roche da la Peinture" em Larchand (França).
    Segundo Bettencourt et al. (2012, p.52) e ainda em relação à Bouça da Cova da Moura:
    "Na superfície superior foi gravado um grande número de motivos num processo que se crê de adição. Destacamos uma estratigrafia figurativa complexa que inclui círculos e figuras quadrangulares e retangulares, normalmente consideradas como representações de tabuleiros do jogo designado por “do moinho” ou de “Alquerque” e gravuras em forma de cruz latina e de cruz grega com pontos nas extremidades. Um círculo com covinha central e linhas radiais, um quadrado de cantos arredondados internamente dividido e uma gravura de ‘tabuleiro de jogo’ foram sobrepostos por diferentes motivos cruciformes com menor grau de erosão..." 
    Compreendemos assim como a interpretação das várias Formas como jogos de tabuleiro "à priori" pode levar a leituras menos corretas. As Formas "compostas" de que vimos falando não têm uma função lúdica. São Ideogramas Mágico Religiosos compostos pelas nossas Formas e Cruciformes. Encontramos paralelos destes Ideogramas em época medieval, moderna e em posição vertical. Riscados em paredes ou obras de Arte. Estes novos Ideogramas e os seus paralelos levam-nos a repensar a antiguidade de alguns dos Santuários de Arte Rupestre Esquemática.

Figura 12


Figura 13


Figura 14


    A Forma E7  é muitas vezes interpretada como mais um Tabuleiro de Jogo. Esta forma é um Ideograma Mágico Religioso com grande continuidade e muito usado no Cristianismo. 
    Na Figura 15 vemos a Forma F7 escondida num dos muitos "Monogramma Chrisi". Um Sincretismo que aproveita um símbolo antigo e o reconstrói como símbolo cristão. A ideia do primeiro Cristograma surgiu a Constantino I no século IV e num sonho (os sonhos e prever o futuro....). Neste cristograma temos a junção das letras do alfabeto grego Chi e Rho com o Alfa e Omega dentro de um círculo. Ainda na Figura 15 encontramos a nossa Forma F7 no Templo de Kornak na Índia (Uberti 2012, p.105). Uma das 24 rodas solares deste Templo o que nos diz algo acerca deste Ideograma. Na mesma Figura temos  a nossa "roda" numa moeda celta. 
    Na Figura 16 a nossa Forma F7 encontra mais um Sincretismo enquanto "Ichtyus". "Ichtyus" querendo dizer "Peixe" em Grego e esconde em anagrama a frase "Jesus Cristo Deus Filho Salvador". Na nossa Forma F7 encontramos todas as letras gregas deste anagrama. 
    Na Figura 17 encontramos alguns Sincretismos nos instrumentos do martírio dos Santos. A nossa Forma F7 como a "roda" do martírio de Santa Catarina. São Lourenço surge associado a uma forma reticulada que representa o "grelhador" onde sofreu o seu martírio. Santo André foi martirizado numa cruz em "X". 



Figura 15



Figura 16


Figura 17

    Passamos a apresentar alguns exemplos da nossa Forma F7 enquanto Ideograma Mágico Religioso. Pela sua localização parece desempenhar funções apotropaicas em portas. Não sabemos se dentro de crenças Pagãs ou Cristãs. 
    Na Figura 18 encontramos a nossa Forma F7 "guardando" a entrada de uma casa na Vila espanhola da Alburquerque na Extremadura (fotos do Site Celtiberia). É muito interessante a posição de destaque desta Forma no meio da entrada Aqui encontra-se associada a várias outras Formas que nada têm a ver com tabuleiros de jogo. 
    Na Figura 19 encontramos a nossa Forma F7 no chão de uma das portas que dá acesso à arena do Anfiteatro Romano de Mérida. Pela sua posição horizontal esta Forma é confundida com um tabuleiro de jogo. Acreditamos que seja mais um Ideograma desempenhando funções apotropaicas.
    A Forma E7 é a forma circular da Forma A1 provavelmente terá surgido primeiro sendo depois assimilada pelos sincretismos religiosos. A Forma A1 ainda está "viva" enquanto Ideograma Mágico Religioso aqui na raia. Esta transformação das formas circulares em quadradas parece ter acontecido também com a Forma G1 como vamos ver mais à frente. Parece que o mundo ficou "quadrado".


Figura 18


Figura 19


    Na Figura 20 vemos a Pedra dos Cantinhos em Oliveira de Frades. Desenho retirado de Gomes (2002, p.145). Um nome que nos leva de novo para o Jogo dos Cantinhos. Neste Santuário encontramos mais uma vez Cruciformes "anexados" a formas geométricas provavelmente algum tipo de "Palettes". Esta últimas podem estar associadas a rituais com uso de fogo (Fossati 2008). 


Figura 20


    As Figuras 21 a 23 dizem respeito à Arte Rupestre do Guadiana mesmo aqui ao lado de casa. Os desenhos foram retirados do trabalho de Baptista e Santos (2013). Na Figura 21 temos o desenho da Rocha I do Sector I da Cooperativa Agrícola. Nesta rocha encontramos a Forma E7 associada a vários Cruciformes. Esta forma, uma cruz dentro de um circulo, é claramente um Ideograma. Este ideograma surge depois na Rocha do Moinho do Lurico (Figura 22). Neste a nossa Forma E7 surge associada às Formas D1 e B1. Estas Formas serão, por associação, também Ideogramas. Como reforço da ideia encontramos a Forma B1 associada a uma tesoura. Podem observar este pormenor na Figura 23. Na mesma Figura encontramos outras associações de Ideogramas Mágico Religiosos a navalhas na Laje do Poço de Alcaria. Um ritual antigo provavelmente para "cortar o mal". 


Figura 21


Figura 22


Figura 23


    Encontramos o mesmo ritual nos bancos de xisto no exterior da Igreja de S. Pedro de Terena (Figura 24). Aqui encontramos tesouras e navalhas associadas a vários ideogramas e a uma mão. Podemos também ver a nossa Forma A1 (10x10cm) associada a Cruciformes, à Forma D3 (as Cinco Chagas de Cristo) e ao Anagrama W.
   Paralelos da Figura D1 vamos encontrá-los num banco de Estremoz e na Arte Rupestre do Brasil (Figura 25). Em Estremoz podemos observar que a Forma original era a Figura D1 e depois foram acrescentados mais traços. Provavelmente uma tentativa de "disfarçar" esta Forma como tabuleiro de jogo. Encontramos precisamente a mesma situação na Arte rupestre do Guadiana (ver Figura 22).


Figura 24


Figura 25



    Na Figura 26 apresentamos o Painel 3 da Fraga da Lapa no Mogadouro. Desenho retirado de Sanches (1985, Est.V). Neste Santuário encontramos um verdadeiro altar no Painel 3. Deixamos as palavras da investigadora:
    "5. O Painel 3 parece ser o painel central e isto no sentido mais amplo do termo. É aquele onde surge uma maior variedade de motivos gravados (seis no total), e o único que inclui figuras esquemáticas e semi-esquemáticas.
    Adentro deste refira-se a grande figura sub-quadrangular que domina e parece "chamar a si", ou por ligação, ou por simples associação, todos os restantes motivos do conjunto central.
    Pelas características apontadas e ainda porque, conjuntamente com as linhas ondulantes situadas à sua esquerda, é executada com traço profundo, extremamente regular e nítido (e talvez regravado nalguns pontos) podemos considerá-la a figura ou tema dominante de toda a composição.
    Efectivamente, ao aglutinar no mesmo painel a maior variedade de motivos, faz deste o mais rico e complexo.
    6. Todos os restantes painéis situam-se, em termos de riqueza decorativa, hierarquicamente abaixo do painel 3, pois naqueles, à medida que aumentam a distância em relação ao centro compositivo, a variedade de motivos presentes diminui....." (p.12 e 13).
    Na Fraga da Lapa a nossa Forma A1 surge em lugar central e "dentro" de uma forma antropomórfica bem destacada. Marisa Uberti (2012, p.6) encontra na Arte Rupestre de Valcamonica uma outra figura antropomórfica parecida com a da Fraga da Lapa. Nesta os oito raios do "corpo" do antropomorfo parecem simular movimento fazendo lembrar uma suástica. A nossa Forma A1 é muito mais que um tabuleiro de jogo. 
    Luís IL encontrou outro exemplo de um afloramento com Formas A1 (Figura 27). Este painel parece ser sido descoberto por um amigo na zona da Extremadura. Um painel "coberto" de Formas A1, Mais um Santuário onde podemos compreender que a Forma A1 representa muito mais que um Tabuleiro de Jogo. Um Ideograma Mágico Religioso que na sua simplicidade parece ter dado origem a vários outros.


Figura 26


Figura 27


    Passamos a dar alguns exemplos da Forma C1 que também é confundida com um tabuleiro de jogo apesar de não surgir na obra de Afonso X.
    A Figura 28 leva-nos ao Santuário dos Castelinhos no Alandroal. Neste Santuário surgem várias cenas e numa delas encontramos uma Moura-Serpente associada a cruciformes e a uma reza. Estea interessante Moura-Serpente esconde duas das nossas Formas. Nas suas "vestes" encontramos as Formas A1 e Forma C1.  Encontramos na Forma C1 mais um Ideograma Mágico Religioso. Este é formado pela Forma A1 dentro de si mesma em Losango. A Forma C1 parece ser como que um "reforço" do ideograma A1.  
    Na Figura 29 temos o painel de Arte Rupestre Esquemática de Lalla Mina Hammoudo no Atlas Marroquino (Werner 2008). Neste encontramos as nossas Formas A1, C1 (variante), D1 e E1. Todas Formas que surgem com frequência e em vários suportes no território português. Acho que temos que começar a olhar mais para Sul.
    Na Figura 30 encontramos a Forma C1 associada à Forma E1 numa mesa da catedral de Viseu. Fotos, desenhos e achado de Lídia Fernandes (2013, p. 97 a 99). 


Figura 28


Figura 29


Figura 30


    Na Figura 31 temos a espectacular Pietra de Merler em Itália onde encontramos várias das nossas Formas. Desenho retirado de Fernandes (2013, p. 27). Nesta "Pietra" encontramos as Formas B1, F4 e G3 entre Crucifomes e outros simbolos. Nas palavras do investigador que identificou o painel :
    "...queste incisione sono troppo piccole per esser servite effectivamnete a giocare, anche se la moderata inclinazione della roccia lo permetterebbe; hanno perció scopo simbólico" (Fernandes 2013, p.26). 
    Várias "provas" apontam para que estas formas não desempenham uma função lúdica. O investigador refere o tamanho e a inclinação da pedra. A estas "provas" acrescentamos o número e densidade das Formas. Estamos na presença de Ideogramas Mágico Religiosos. Chamamos a atenção para a "covinha" que surge no centro de das várias Formas com destaque para a Forma G1.
    Passamos agora a dar alguns exemplos de dois Ideogramas Mágico Religiosos que por vezes passam despercebidos. As nossas Formas F4 e F5. Duas Formas que são representações simples da Forma A1. 
    Na Figura 32 temos a Forma F4 na Arte Rupestre do Guadiana. Na Rocha 4 do Sector 1 do Roncanito. Segundo Baptista e Santos (2013, p.212). Na mesma Figura encontramos a Forma F4 na Arte Rupestre da Galícia. Uma Forma que encontramos de Sul a Norte na Ibéria. 



Figura 31


Figura 32


    Na Figura 33 vemos como a Forma F5, variante da Forma F4, está também por todo o lado. Esta Forma (uma estrela) tem sido muito usada pelo Cristianismo. Surge como Cruz Baptismal, como Cúrbunculo na Heráldica, como Cruz Irradiada e por vezes até como Cristograma. 
  Na Figura 34 encontramos a Forma F5, provavelmente com funções apotropaicas, na Igreja do Carmo em Lisboa (20x10cm), num banco de uma Igreja de Alvito (10cm), aqui associada a um cruciforme, e numa Talha (20cm). Esta Forma é um Ideograma Mágico Religioso e bem antigo. 


Figura 33


Figura 34


    Nas Figuras 35 e 36 apresentamos mais dois painéis de Arte Rupestre repletos de Formas G3, G7 e E7. Pela quantidade, densidade e associação de Formas não estaremos perante tabuleiros de jogo. 
    Na Figura 35 visitamos Ferronhe em Viseu onde encontramos as Formas G3 e G7. Foto retirada de Fernandes (2013, p. 19). 
    Na Figura 36 vamos ao penedo das Micas I onde encontramos as formas G3, G7 e E7. Retirado do Blogue "Megaliticia". 
    Além das interessantes associações queremos destacar a "covinha" central que os ideogramas G3 e G7 apresentam. 

Figura 35



Figura 36


    Procurando mais exemplos com "covinha" central visitamos o painel de La Villeta em Caceres (Figura 37). Retirado de Gonzalez Cordero (2000, p.387). Neste painel encontramos várias Formas G1 que são claramente Ideogramas Mágico Religiosos. A covinha central na maioria dos Ideogramas pode ter tido alguma funcionalidade ritual. 
    Esta covinha vai surgir também em Formas A1 horizontais consideradas tabuleiros de jogo (Figura 38).  Apresentamos alguns exemplos. A primeira Forma localiza-se nos bancos exteriores da Ermida de Santo António de Capelins no Alandroal. Esta Forma tem dimensões exageradas (50x45cm) para um tabuleiro de jogo. No centro encontramos um pequeno círculo destacado. Nos mesmos bancos temos mais Formas A1 associadas a mãos e outros símbolos. A Ermida localiza-se na Serra da Sina. Um topónimo muito interessante. Na imagem seguinte andamos uns Km para Este e chegamos à Igreja de Montejuntos. De novo uma Forma A1 (30x30cm) com o ponto central aprofundado. Na última imagem encontramos as covinhas do menir-altar do Cromeleque dos Almendres em Évora. Estas parecem representar a Forma A3 uma variante da A1. A Forma A3 é construída por concavidades. Estas surgem nas interseções dos segmentos de reta da Forma A1. Na Forma A3 dos Almendres também encontramos a covinha central bem mais funda e larga. Esta é uma maneira de identificar esta Forma que por vezes "desaparece" numa confusão de várias covinhas. De ideogramas "desenhados" em cima uns dos outros ou retraçados.
    Esta covinha central mais aprofundada ou simplesmente destacada pode ser mais uma evidência de que estamos perante Ideogramas Mágic Religiosos. Pode até dar-nos uma pista sobre a função de alguns dos ideogramas ou daquilo que representam. 


Figura 37


Figura 38


2.2 - Templos re(sacralizados)



    Na Figura 39 voltamos à Arte Rupestre de Valcamonica (Itália). Aqui em dois painéis da Idade do Ferro encontramos a Forma G1 riscada por cima de reperesentações antropomórficas (Uberti, 2012). Formas que são interpretadas pelos investigadores como simbólicas e não lúdicas. Provavelmente (re)sacralizando representações mágico-religiosas mais antigas. 
    Em Kurna no Egipto encontramos o Templo de Seti I. Em várias telhas deste Santuário surgem Formas esgrafitadas (ver Figura 40 retirada de Uberti 2012, p.19). Segundo vários investigadores algumas das representações são de tabuleiros de jogo e das mais antigas conhecidas. A antiguidade dos Grafitos é sempre duvidosa podendo ter sido feitos em qualquer data desde a construção do Templo. Mas certamente que não são tabuleiros de jogo. Segundo Henri Parker, o descobridor, todos os símbolos terão um significado místico com uma eventual função apotropaica (Fernandes, 2013, p.48). Concordamos que são Ideogramas Mágico Religiosos assumindo funções votivas ou (re)sacralizantes. O mais interessante acerca de Kurna é o facto da maior parte dos Ideogramas representados também surgirem em território português. Nove deles já apresentámos neste Post. Estes ideogramas fazem  parte de uma linguagem universal.


Figura 39


Figura 40


    Na Figura 41 vemos a Fraga Pintada do Cachão da Rapada em Carrazeda de Ansiães. Desenhos retirados de Gomes (2002, p.141) e do site Geocaching (o desenho colorido). Este Santuário é duplamente interessante. Sendo vertical impossibilita que as formas encontradas sejam tabuleiros de jogo. Podemos também observar que as Formas E1, E7 e C6 surgem noutra cor. Estão quase todas em redor das Formas mais avermelhadas. Um excelente exemplo de Formas que (re)sacralizam um Santuário mais antigo. Um excelente exemplo das nossas formas E1, E7 e C6 como Ideogramas Mágico Religiosos. A Forma C6 surge muitas vezes noutros contextos como um "Quadrado Mágico". 
    Passamos a dar alguns exemplos de Quadrados Mágicos. Na Figura 42 encontramos um protegendo a entrada da Igreja Matriz de Alcanede em Santarém. Foto e achado de Vítor Rafael Sousa a quem agradecemos. Na mesma Figura encontramos outro possível Quadrado Mágico (4X4) na sua Forma B6 guardando uma porta do Convento de NS da Graça em Évora. Imagem retirada do trabalho Pedras que Jogam. Mais à frente vamos falar de várias formas que encontramos "guardando" portas e muitas delas surgem na  horizontal. Sempre que um Ideograma Mágico Religioso surge na horizontal é automaticamente considerado um "Alquerque". Temos que repensar estas interpretações.

Figura 41

Figura 42


    Vamos agora apresentar outro interessante exemplo de (re)sacralização mas agora de um espaço religioso. Gravada na fachada SO do podium do Templo romano de Évora vamos encontrar uma Forma G1. Os investigadores pensam que esta Forma é um dos tabuleiro de jogo mais antigos de Portugal. Não vamos elaborar acerca da verticalidade da Forma. Passamos a apresentar algumas evidências de que a zona onde se encontra a pedra com a gravação foi alvo de uma reconstrução. Se observarmos toda a fachada SO do podium do templo conseguimos discernir o interface de destruição (Figura 43). 
    Na Figura 44 podemos observar como as fiadas do lado esquerdo do podium nada têm a ver com as do lado direito (o lado reconstruído). A metade NO do Templo teve melhor sorte que a metade SE. Do lado reconstruído encontramos vários elementos pétreos mal aparelhados ou reaproveitados. A própria pedra onde encontramos a nossa gravação é de diferente coloração e forma irregular. Encontramos também o reaproveitamento de pedras ditas "almofadadas". Estas não têm razão de ser numa fachada que seria rematada com estuque. 
    Na Figura 45 vemos o interface de destruição a linha preta, a vermelho temos algumas das pedras almofadadas reutilizadas e a azul alguns dos ideogramas. 
    Na Figura 46, na primeira foto, apresentamos a nossa Forma G1 à luz rasante, outra forma semelhante mas incompleta, um Cruciforme e uma das pedras almofadadas. Pensamos que a Forma G1 tenha sido gravada, provavelmente na Idade Média, com uma função (re)sacralizante e dentro da religião popular. Mais um Ideograma Mágico Religioso confundido com um tabuleiro de jogo apesar da sua posição vertical e contexto religioso. 


Figura 43


Figura 44

Figura 45


Figura 46


2.3 - Santuários de Grafitti: Função Votiva


    Vamos agora visitar Santuários medievais construídos nas  "Urbes". Um dos maiores Santuários em Portugal é o Mosteiro da Batalha. Este Santuário é também a Catedral do Graffiti medieval no nosso território. No Mosteiro da Batalha foram localizadas várias das nossas Formas. Muitas delas foram consideradas tabuleiros de jogo por vários investigadores. Orlindo Jorge (2017, p.26) no seu levantamento do Grafitti do Mosteiro da Batalha questiona esta interpretação:
    "Uma das problemáticas dos jogos no Mosteiro da Batalha é que muitos deles encontram-se nas paredes do mosteiro. Sendo um jogo de tabuleiro, portanto jogado na horizontal de forma a ser possível colocar as peças, como seria praticável jogar com o tabuleiro desenhado nas paredes, ou seja, na vertical? O problema foi levantado por Lídia Fernandes e Jorge Nuno Silva 33 que colocaram várias hipóteses: Poderiam ter sido realizados antes da aplicação da pedra em obra perdendo a sua função assim que fosse colocada na parede, na vertical. No entanto existem desenhos de tabuleiros ultrapassando as juntas e ocupando mais que um bloco de pedra, como é o caso da imagem 2 da figura 22, comprovando a realização em parede já levantada. Isto levou os investigadores referenciados a colocarem a hipótese de ter existido algum tipo de jogo/regras que viabilizassem a utilização destes tabuleiros."
    São treze as Formas identificadas enquanto tabuleiros por Fernandes e Silva (2013) no Mosteiro da Batalha. Nove destas Formas estão "pintadas" na parede assumindo uma posição vertical. Em pelo menos uma delas os traços estão em dois blocos de pedra distintos inviabilizando uma reutilização (ver a Figura 47 retirado de Jorge 2017, p.25). 
    Na Figura 48 encontramos três Formas B1 (o Alquerque dos 12) no mesmo bloco de pedra e com diferentes tamanhos. Na mesma Figura "espreita" mais uma Forma A1 (Alquerque dos 3) identificada por nós. 
    Se passarmos as paredes do Mosteiro da batalha a pente fino vamos encontrar centenas de Formas que são reconhecidas como Ideogramas Mágico Religiosos: Pentagramas, Suásticas, Nós de Salomão..... Na Figura 49 apresentamos algumas delas incluindo um Pentagrama associado a uma "porta ou janela". 
    As Formas identificadas por vários autores como tabuleiros de jogo no Mosteiro da Batalha são Ideogramas Mágico Religiosos. Passamos a apresentar o nosso "caso":
- Porque estão num Santuário medieval
- Porque estão associadas a outras Formas reconhecidamente Ideogramas Mágico Religiosos
- Porque a maior parte está na vertical 
- Porque muitas estão pintadas
- Porque os traços de pelo menos uma das Formas ocupam vários blocos de pedra.
- Porque no mesmo bloco encontramos várias vezes a mesma forma e de diferentes dimensões
    Não podemos retirar os nossos Ideogramas do contexto e interpretá-los à priori como tabuleiros de jogo. Não conseguimos imaginar os construtores do Mosteiro da Batalha a jogar Alquerque nos blocos de pedra. Colocando-os depois nas paredes com o jogo virado para fora. Como que dizendo "em vez de trabalhar estive na jogatana". Não conseguimos imaginar os monges pintando jogos nas paredes e jogando com giz. Para além do facto de ser impraticável jogar com giz o Alquerque dos 12. 
   A função dos nossos ideogramas mágico-religiosos está perfeitamente contextualizada nas paredes do Mosteiro da Batalha. Os nossos ideogramas são Votos ou Ex-votos, pedindo ou agradecendo a Deus. São a expressão da gente comum na sua maior parte iliterada à época. Estas gentes expressam-se de uma forma que podemos chamar de "marginal" através do Graffiti. Usam Ideogramas conhecidos e reconhecidos dentro da Religião Popular há gerações. Encontrámos estes Ideogramas Mágico Religiosos nos vários exemplos que demos de Santuários ao ar livre. Vamos agora encontrá-los em Santuários Medievais Cristãos enquanto Graffiti. Não sabemos se os Santuários ao ar livre são medievais ou se são mais antigos sendo posteriormente cristianizados. Sabemos que muitos deles ainda são alvo de culto aqui no interior alentejano.



Figura 47


Figura 48

Figura 49



    Vamos visitar  um Santuário muito importante aqui na Raia alentejana. O Santuário de NS da Conceição, a padroeira de Portugal, em Vila Viçosa. Na muralha mesmo em frente do Santuário, a escassos metros de onde se acendem as velas, encontramos mais um local de devoção. As argamassas que revestem a muralha da fortificação medieval são um autêntico muro das lamentações. Nesta muralha encontramos "cenas", parecidas com as de ex-votos pintados, e largas centenas de Ideogramas Mágico Religiosos (Figuras 50 a 52). Nas muralhas de Vila Viçosa temos representados todos os Ideogramas que são muitas vezes considerados tabuleiros de jogo. As nossas Formas A1 (Alquerque dos 3), B1 (Alquerque dos 12) e G1 (Alquerque dos 9). Esta Formas surgem riscadas na argamassa, na vertical, associados entre si ou a outros ideogramas. Uma situação semelhante à do Mosteiro da Batalha.


Figura 50


Figura 51

Figura 52


    Vamos agora para Norte em busca de mais exemplos. No Reino Unido encontramos muito Graffiti nas Igrejas. Provavelmente por não terem tido uma Inquisição ou porque que têm feito mais levantamentos. As nossas Formas estão por todo o lado. Na maior parte dos casos ainda são interpretadas como tabuleiros de jogo. Encontramos uma exceção no trabalho de Anthea Hawdon - "Gaming up the walls" - que podemos encontrar no Blogue "Raking Light". Deixamos a conclusão da investigadora no fim do seu trabalho: 
    "I wish I had a neat conclusion to give you at the end of this article. The games that make up the merel graffiti family stretch back to the middle ages in Europe and, in some cases, considerably beyond. It also appears that they have been used as a symbol almost as long. Their study requires a balancing act between the mundane, prosaic game boards and the symbolic, possible protective symbol."
    Hadwon encontra uma função apotropaica nos nossos ideogramas e uma das provas que apresenta está no gráfico da Figura 53. A investigadora fez o levantamento do Grafitti em 43 Igrejas de Essex. Em 28 destas encontrou Formas por vezes consideradas como tabuleiros de jogo. Das 90 Formas encontradas 80 estão na vertical riscadas nas paredes (89%). Claramente que não são reutilizações de tabuleiros de jogo mas sim Ideogramas Mágico Religiosos.
    Na Figura 54 temos uma partilha de Alan Smith que podemos encontrar no site "Centro Studi Triplice Cinta". Esta refere-se ao sarcófago do Juiz Sir John Markham, do séc. XVI, em Nottinghamshire no Reino Unido. Neste sarcófago encontramos 28 das nossas Formas por vezes interpretadas como jogos de tabuleiro. Estas Formas pela sua localização, quantidade, disposição, densidade, tamanho e associação dificilmente serão tabuleiros de jogo. Na tampa deste sarcófago encontramos centenas de Ideogramas e anagramas de cariz magico-religioso. Este autêntico Santuário ou altar leva-nos a repensar a função de muitos dos supostos tabuleiros de jogo que encontramos na horizontal. A Religião Popular está escondida à vista de todos em muitos templos de época histórica. 
    Em Vila Viçosa também encontramos um exemplo interessante numa das janelas do Forte onde em tempos esteve a prisão. Na Figura 55 temos a janela com várias das nossas Formas num espaço relativamente pequeno e de acesso complicado. Aqui não havia necessidade de desenhar tantos tabuleiros de jogo em cima uns dos outros. Estamos perante mais um pequeno "altar" repleto de Ideogramas Mágico Religiosos. 


Figura 53

Figura 54


Figura 55



2.4 - Fórmulas, Redes e outras associações


    Vamos agora apresentar alguns exemplos de Ideogramas que formam autênticas "fórmulas mágicas". Encontramos Ideogramas dentro de outros como que reforçando as suas propriedades. Encontramos Ideogramas que se repetem criando "redes". Encontramos as estas mesmas associações de Ideogramas em locais separados por milhares de Km. As nossas "fórmulas mágicas" eram reconhecidas e usadas por pessoas que não falavam sequer a mesma língua.
    Na Figura 56, ainda em Vila Viçosa,  observamos as muralhas medievais onde encontramos uma série de Pentagramas. Em dois deles temos um Pentagrama menor dentro de um maior. Uma duplicação do ideograma que vem redobrar o seu "poder"?
    Na Figura 57 encontramos a mesma situação em várias estelas funerárias medievais de Évoramonte. Octagramas, Hexagramas (dobrados), Pentagramas com Hexapétalas dentro. Ideogramas Mágico Religiosos em "fórmulas" medievais de proteção que já esquecemos. 
 Na Figura 58 encontramos algumas Formas que são desenvolvimentos da Forma A1. Em Kurna encontramos uma "rede" apotropaica construída pela repetição da nossa Forma A1. Estas redes serviam para "apanhar" ou "bloquear" o mal. Com são repetições de Formas simples confundem-se com tabuleiros de jogo. Um dos ideogramas que surge muito em rede é a Roseta Hexapétala. assumindo o nome de "Flor da Vida". Na Figura 58 apresentamos uma destas redes, feita de Hexapétalas, guardando a porta da Sé de Évora. Estes padrões atingem o seu expoente máximo nas artes decorativas do Islão. Na mesma Figura podemos também observar como a Forma A1 se reforça dentro si mesma em Losango. Em Lalla Mina Hammou chegamos a ter 3x a Forma A1. Precisamente o mesmo reforço de ideogramas que vimos nas muralhas medievais de Vila Viçosa ou nas Estelas de Évoramonte. 


Figura 56


Figura 57


Figura 58




    Vamos continuar a dar exemplos de reforços e associações dos nossos Ideogramas Mágico Religiosos que formam "fórmulas mágicas".
    Na Figura 59 encontramos a Forma G1 associada a uma Roseta Hexapétala, a uma "Árvore da Vida" e a um Cruciforme. Na Figura 60 encontramos de novo a Forma G1 mas agora associada às Formas A1 e B1. Na última imagem vemos a Forma G1 "reforçada" por si mesma. Fotos de Marisa Uberti (CSTC), P. Malvone (CSTC), Tino Coviello (CSTC), Pannetier (CSTC) Encarnation Martin Lopez e Culture 24. 
    Na Figura 61 encontramos uma "fórmula mágica" com "dois ingredientes" que são as nossas Formas B1 e G1. Na primeira foto a nossa fórmula está riscada no chão da Matriz de Viana do Alentejo (80x40cm). É de notar que houve uma tentativa de apagá-la. Na segunda foto temos a mesma fórmula em Álava (España) numa foto de Ortiz de Landaluce.
    Na Figura 62 mais uma fórmula agora com as Formas A1 e G1. Na primeira foto riscada nas argamassas da muralha medieval de Vila Viçosa (25x10cm). Na segunda foto encontramos a mesma fórmula numa gruta da floresta de Larchant (França) numa foto de Beaux (2011). Esta última fórmula é interessante porque os dois exemplos dados são quase idênticos. Notem que as Formas não se tocam. É também muito interessante porque estão na vertical. No exemplo francês o investigador encontrou uma associação entre as formas G1 e A1 em 37% dos casos que estudou no Massivo de Fontainebleau:
    "Très particulière est la présence ou l'association avec la marelle simple, carré orné de ses diagonales à la façon d'un drapeau anglais (Fig. 9). Ainsi 30 triples enceintes se trouvent en présence de cette marelle sur le même panneau, soit 37,5 %. Si des relations, déjà observées ailleurs, existent entre ces deux figures, elles paraissent réelles mais restent encore mal expliquées." 
    Começamos a perceber que os nossos Ideogramas podem associar-se, duplicar-se ou repetir-se reforçando assim as suas propriedade. Estas "fórmulas" mágico-religiosas são compreendidas desde o Alentejo até à região floresta francesa de Larchant.


Figura 59

Figura 60



Figura 61

Figura 62

    Nas Figuras 63 e 64 temos mais uma curiosa associação. A mão esquerda desenhada por cima ou ao lado dos nossos Ideogramas. A Forma representada é na maior parte dos casos a A1. A razão de termos a mão esquerda representada pode ter a ver com a maioria dos indivíduos serem destros. Desenham a mão esquerda usando a direita. Quem desenhou ou não sabia escrever ou queria tornar o "ritual" mais pessoal. 
    Na Figura 63 temos, na primeira foto, mais uma descoberta de Marisa Uberti (Uberti 2012, p.121). Esta investigadora descobriu uma mão riscada por cima de uma forma A1, na soleira de uma porta, em Adria (Itália). Temos que repensar muitos dos supostos tabuleiros de jogo que surgem nas soleiras da portas. Na segunda foto apresentamos um desenho de uma mão riscada por cima de uma variante da Forma G1 (Torre, 1985, p.6). Esta encontra-se no Castelo de Esnes em França.
    Na Figura 64 a primeira foto foi tirada na casa do forno de um Monte perto de Monsaraz. Aqui encontramos uma pequena mão ao lado da Forma A1 e ambas riscadas no estuque da parede. A Forma A1 apresenta grandes dimensões cerca de 70x60cm. Na segunda foto voltamos aos bancos em redor da Igreja de S. Pedro em Terena. Aqui encontramos uma mão desenhada por cima de uma Forma quadrangular. Encontramos outra Forma associada, mais pequena e incompleta que pode ser a A1. A Forma maior terá uns 25X30cm e a mais pequena uns 10x10cm.


Figura 63

Figura 64



Discussão

Encontramos vários tabuleiros de jogo desde a Arte Rupestre até ao Graffiti Histórico. Estes tabuleiros podem ser jogados de várias formas. Na Ibéria os tabuleiros, e maneiras de jogar, são conhecidos pelo nome de “Alquerque”. Pensamos que estes “Alquerques” possam ser também Ideogramas Mágico Religiosos. Apresentamos as nossas provas.

Em relação à obra de Afonso X:

- Muitas das Formas Geométricas são interpretadas como tabuleiros de jogo do “Alquerque” apesar de não surgirem na obra de Afonso X. As regras dos jogos do “Alquerque” que surgem na obra de Afonso X são associadas a estas Formas.

Existe o erro sistemático de chamar “Alquerque” a muitas Formas simplesmente por serem quadrangulares ou parecidas com aquelas que surgem na obra de Afonso X.

Em Santuários Rupestres:

- Surgem dezenas de diferentes Formas Geométricas gravadas em Santuários Rupestres, enquanto Arte Rupestre ou Graffiti Histórico, só algumas são interpretadas como tabuleiros de jogo. Surgem misturadas com outras que são reconhecidamente Ideogramas Mágico Religiosos. Por exemplo Cruciformes e Pentagramas.

Os Santuários Rupestres apresentam vários Ideogramas Mágico Religiosos gravados com funções Votivas ou (re)Sacralizantes. Não podemos retirar alguns do seu contexto, considerá-los como tabuleiros de jogo, só por serem Geométricos ou parecidos com os “Alquerques”.

- As Formas Geométricas surgem em grande número e muito próximas umas das outras (Figura 8 a 11, 20 a 23, 27, 29, 31, 35 a 37).

Simplesmente não havia necessidade de gravar tantos tabuleiros de jogo, tão perto uns dos outros e em lugares tão ermos.

- Algumas das Formas Geométricas surgem gravadas na vertical (Figuras 39 e 41, 102 a 106).

Esta posição torna impossível a utilização das nossas Formas como tabuleiros de jogo ou possíveis reutilizações como tanto se apregoa em meio urbano.

- Por vezes as Formas Geométricas têm Cruciformes associados (Figura 14).

Uma associação que acontece também com o Pentagrama (Figura 8). Uma associação que se repete com os Ideogramas em posição vertical. Esta é uma associação comum entre Ideogramas que inclui as nossas Formas Geométricas. Podemos concluir que as nossas Formas são também Ideogramas Mágico Religiosos.

- Algumas das nossas Formas Geométricas fazem parte de figuras antropomórficas. Por exemplo na Fraga da Lapa (Figura 26) ou no Castelinho (Figura 28).

Esta associação reforça o carácter mágico-religioso das nossas Formas.

- As Formas Geométricas que encontramos nos Santuários Rupestres surgem também em vários outros suportes. Por exemplo em moedas (Figura 9), em amuletos, na Heráldica ou associadas a Santos (Figura 17).

O facto das Formas Geométricas surgirem representadas noutros suportes de carácter mágico-religioso parece ser ignorado pelos investigadores. Não me parece que fossem representar tabuleiros de jogo nestes suportes. O melhor exemplo é o pano de fundo da bandeira da Cidade de Lisboa.

- Muitas das Formas Geométricas apresentam um ponto central bem destacado (Figuras 10, 11, 31, 35 a 38).

Este ponto central leva-nos para o mundo do ritual. Por exemplo a “covinha” podia servir para colocar uma vela.

Em Templos:

- As nossas Formas Geométricas surgem com grande frequência, como parte da ornamentação ou enquanto Graffiti Histórico, em vários tipos de Templos, da Pré-história até aos nossos dias.

Observa-se que algumas das Formas Geométricas foram usadas, enquanto Ideogramas Mágico Religiosos, na “oficial” ornamentação/proteção dos Templos (Figura 98). Um sincretismo que podemos chamar de arquitetónico. A partir de certa altura, os ideogramas, foram censurados e começam a surgir apenas sob a forma do “marginal” Graffiti Histórico. Este processo aconteceu com vários outros Ideogramas Mágico Religiosos como por exemplo com vários “Estreliformes”.

- As Forma Geométricas surgem muitas vezes associadas a conhecidos Ideogramas Mágico Religiosos. Como por exemplo o Cruciforme ou o Pentagrama. Surgem também associadas entre si (Figuras 60 a 62).

Os Templos apresentam vários Ideogramas Mágico Religiosos gravados com funções Votivas ou (re)Sacralizantes. Não podemos retirar apenas alguns do seu contexto e considerá-los como tabuleiros de jogo só por serem Geométricos ou parecidos com os “Alquerques”.

- Algumas das Formas Geométricas estão na vertical e têm Cruciformes associados. O melhor exemplo encontra-se na fachada da Igreja de Santa Maria em Estremoz (Figuras 13 ou 75).

Esta é uma associação comum entre Ideogramas incluindo as nossas Formas Geométricas. Podemos concluir que as nossas Formas são também ideogramas Mágico Religiosos. É também um excelente exemplo para contrariar a hipótese de reutilizações de tabuleiros de jogo em edificios no geral.

- As Formas Geométricas surgem muitas vezes numa posição vertical gravadas na pedra, em estuques (Figuras 146 e 151) e na madeira (Figura 145).

Muitas vezes as nossas Formas geométricas surgem gravadas na pedra em posição vertical. A explicação mais frequente é que foram reutilizadas. Os canteiros, em vez de trabalhar, jogavam Alquerque e depois colocavam os tabuleiros de jogo na obra à vista de todos? Uma explicação no mínimo estranha. Esta teoria é impossível quando as Formas Geométricas surgem gravadas, na vertical, em estuques e na madeira. A única explicação para encontrarmos para surgirem tantas das nossas Formas Geométricas, na vertical e nos mais variados tipos de suportes, é estas serem Ideogramas Mágico Religiosos.

- Por vezes encontramos as nossas Formas Geométricas, na vertical, em portas (Figura 145 e 148), janelas (Figuras 135 e 136) e arcadas (Figura 147).

Estas localizações são “estratégicas”. É aqui que encontramos as maiores concentrações de Ideogramas Mágico Religiosos desempenhando Funções Apotropaicas. Pensamos que as nossas Formas Geométricas se encontrem nestas posições “estratégicas”, enquanto Ideogramas Mágico Religiosos, desempenhando Funções Apotropaicas.

- As Formas Geométricas apresentam por vezes pequenas dimensões ou foram traçadas de modo irregular. Vamos encontrar a mesma situação em Fortificações, Edificios Públicos e Comuns.

A maneira como as Formas Geométricas foram traçadas impossibilita o seu uso enquanto tabuleiros de jogo. A proximidade das linhas entre si não permite a colocação de peças.

- As nossas Formas Geométricas surgem por vezes pintadas na vertical. O melhor exemplo é o Mosteiro da Batalha (Figuras 47 e 48 ou 150). Aqui surgem várias Formas muito perto umas das outras, de diferentes dimensões e pintadas em mais que um bloco de pedra.

Encontramos a mesma Forma Geométrica pintada sobre vários blocos de pedra. Isto demonstra que as Formas foram pintadas depois de os blocos estarem colocados na sua posição vertical final. Uma situação que torna impossível qualquer hipótese de reutilização. Estamos perante vários Ideogramas Mágico Religiosos pintados nas paredes do Mosteiro com Funções Votivas. Aliás as paredes do Mosteiro da Batalha estão repletas de Graffiti Histórico onde surgem largas dezenas de outros Ideogramas.

Em Santuários de Graffiti e Altares

- As nossas Formas Geométricas surgem por vezes em Santuários de Graffiti. Surgem sempre associadas a conhecidos Ideogramas Mágico Religiosos. Como por exemplo o Cruciforme ou o Pentagrama. Estes Santuários de Graffiti localizam-se nas fachadas de Templos, muito perto destes, em janelas, onde serão talvez Altares, ou em Monumentos Funerários. Os melhores exemplos são:

As muralhas medievais em frente do Santuário de NS da Conceição em Vila Viçosa (Figuras 50 a 52 e 142).

As fachadas da Igreja de Santa Maria em Estremoz (Figuras 13 ou 75).

Precisamente a mesma situação que observámos nos Santuários Rupestres mas agora em meio urbano. Acrescentamos que, nesta situação, a maior parte dos nossos Ideogramas estão em posição vertical. A sua localização “estratégica” é mais uma achega para o facto de serem Ideogramas Mágico Religiosos. Autênticos Santuários da Religião Popular dentro de Santuários da Religião Oficial.

- Encontramos Formas Geométricas nas coberturas de dois Templos fortificados e associadas a vários outros Ideogramas Mágico Religiosos.

No tecto da Ermida de Santa Catarina em Monsaraz (Figuras 136 e 153).

No telhado inclinado do Santuário da Boa Nova em Terena (Figuras 154 a 156).

Encontramos aqui um interessante paralelo entre a Ermida de Santa Catarina e o Santuário da Boa Nova. O número de Formas Geométricas, o contexto e posição em que se encontram leva-nos a pensar que estas sejam Ideogramas Mágico Religiosos. As placas de xisto, onde encontramos o Graffiti, podem mesmo ser consideradas Placas Apotropiacas ou Votivas “in situ”.

Em Fortificações:

- As nossas Formas Geométricas surgem com grande frequência, enquanto Graffiti Histórico, em vários tipos de Fortificações. Surgem muitas vezes associadas a conhecidos Ideogramas Mágico Religiosos. Como por exemplo o Cruciforme ou o Pentagramas. Surgem também associadas entre si.

A frequência com que as nossas Formas Geométricas surgem, as associações, a frequente verticalidade…... Tudo isto não pode ser explicado com possíveis reutilizações. É uma explicação simplista para uma realidade vasta e complexa.

- As nossas Formas Geométricas surgem muitas vezes numa posição vertical gravadas na pedra, em estuques (Figuras 130 e 133) ou argamassas (Figuras 50 a 52 e 140 a 142). Encontramos a mesma situação em Edificios Públicos e Comuns (Figuras 126 a 128).

Os Graffitos em estuques e argamassas tornam impossível a teoria da reutilização de tabuleiros de jogo. Afirma indiscutivelmente as nossas Formas Geométricas enquanto Ideogramas Mágico Religiosos. Encontramos o melhor exemplo nas muralhas medievais de Vila Viçosa.

- Por vezes encontramos as nossas Formas Geométricas, na vertical, em portas (Figura 137), janelas (Figuras 130, 132 a 136) e cunhais (Figuras 119, 120 e 144). Encontramos a mesma situação em Edificios Públicos e Comuns (Figura 111 a 113 e 127).

Esta localização “estratégica” vem reforçar a interpretação das nossas Formas Geométricas como Ideogramas Mágico Religiosos. O melhores exemplos são as seteiras das torres de menagem dos Castelos de Elvas e Olivença.

Em Edificios Públicos ou Comuns:

- As nossas Formas Geométricas surgem com alguma frequência, enquanto Graffiti Histórico, em vários tipos de Edificios Públicos ou Comuns. Surgem muitas vezes associadas a conhecidos Ideogramas Mágico Religiosos. Como por exemplo a “Mão” (Figura 63, 64 e 126) ou “Passarinhos” (Figura 128).

A frequência com que as nossas Formas Geométricas surgem, as associações, a frequente posição vertical…… Mais uma vez tudo isto não pode ser explicado com possíveis reutilizações. A frequente associação das nossas Formas Geométricas com a “Mão”, para dar um exemplo, aponta para um ritual. Reafirma também as nossas Formas enquanto Ideogramas Mágico Religiosos.

No Mundo Funerário e em Altares:

- As nossas Formas Geométricas surgem com alguma frequência, enquanto ornamentação ou Graffiti Histórico, em vários elementos de vários tipos de monumento funerário. Surgem muitas vezes associadas a conhecidos Ideogramas Mágico Religiosos. Como por exemplo o Cruciforme ou o Pentagrama.

Tendo em conta o suporte onde surgem. Por um lado fazem parte da ornamentação “oficial”. Por outro lado, enquanto Graffiti Histórico, surgem em grande quantidade e densidade criando autênticos altares. Em qualquer das situações só podem ser Ideogramas Mágico Religiosos.

- As nossas Formas Geométricas surgem por vezes em Altares de várias Religiões, oficiais ou populares, na vertical e sob a forma de Grafitti Histórico (Figuras 38, 54, 55, 67, 68, 117 e 118.

Mais um exemplo da continuidade das nossas Formas Geométricas enquanto Ideogramas Mágico Religiosos dentro da Religião Popular.

Em Placas Apotropaicas e Amuletos:

- As nossas Formas Geométricas surgem com grande frequência, enquanto Graffiti Histórico, em Placas Apotropaicas e Amuletos.

Sempre que surge um Alquerque num bloco pétreo solto assumimos que é um tabuleiro de jogo. Como vimos muitos destes blocos podem ter feito parte de estruturas onde foram gravadas as Formas Geométricas enquanto Ideogramas Mágico Religiosos. Voltamos a apresentar os exemplos do Santuário da Boa Nova e Santa Catarina. Muitos destes blocos surgem também em contextos funerários. Um local carregado de significado e estranho para grandes jogatanas. Outros blocos apresentam gravações de pequena dimensão, gravações irregulares, gravações associadas a conhecidos Ideogramas ou entre si. Tudo isto aponta para que estejamos perante Placas Apotropaicas com Ideogramas Mágico Religiosos. Placas que vamos encontrar também na ornamentação “oficial” de vários tipos de edificios. Quando estas Placas são de pequenas dimensões passamos a identificá-las como Amuletos (Figuras 80 a 83).

- As Formas Geométricas apresentam por vezes pequenas dimensões ou foram traçadas de modo irregular.

A maneira como várias das Formas Geométricas foram traçadas impossibilita o seu uso enquanto tabuleiros de jogo. Um tabuleiro de de jogo tem estar bem organizado, apresentando simetria entre os campos de jogo e com espaços para a colocação das peças. Nestas Formas irregulares a proximidade das linhas entre si não permite a colocação de peças. A proximidade das linhas exteriores com a borda da Placa também impossibilita a colocação de peças. Estas Formas Geométricas não foram feitas para serem jogadas mesmo quando surgem em posição horizontal.

Enquanto Redes Apotropaicas:

- As nossas Formas Geométricas por vezes repetem-se formando padrões que podemos chamar de “Redes Apotropaicas” (Figura 58, 98 e 104).

Em alguns Ideogramas Mágico Religiosos encontramos a mesma repetição e as mesmas Redes que encontramos nas nossas Formas. Apresentamos o exemplo do Ideograma “Roseta Hexapétala” que se repete transformando-se na “Rede Apotropaica” conhecida como “Flor da Vida”. A Arte Islâmica é também um bom exemplo destas repetições apotropaicas. Estas Repetições das nossas Formas, e os paralelos que apresentámos, reforçam a ideia de estarmos perante Ideogramas Mágico religiosos.

Enquanto Fórmulas Mágicas:

- As nossas Formas Geométricas surgem por vezes associadas entre si (Figuras 59 a 62).

Esta associação merece destaque pois surge em diferentes áreas geográficas. As Formas geométricas surgem por vezes gravadas na vertical, em estuques e argamassas, e com pequenas dimensões. São autênticas “Fórmulas Mágicas” construídas pelas nossas Formas Geométricas enquanto Ideogramas Mágico Religiosos.

Resumo

As nossas Formas Geométricas surgem em Santuários Rupestres, Templos, Templos – Fortificações Santuários “Populares” de Graffiti, Altares “Populares” ou Oficiais, Fortificações, Edificios Públicos e Comuns, Monumentos Funerários, Placas Apotropaicas e Amuletos.

Em todos estes contextos, com destaque para o religioso onde as encontramos com mais frequência, surgem associadas a reconhecidos Ideogramas Mágico Religiosos. Por vezes formam mesmo “Ideogramas Compostos” com Cruciformes anexados. Surgem também associadas entre si ou a figuras antropomórficas, lâminas e mãos.

As nossas Formas Geométricas surgem em grande número e densidade. Surgem na vertical pintadas ou riscadas na pedra, fazendo parte da “ornamentação” oficial ou Graffiti Histórico, riscadas na madeira, no estuque e em argamassas. Surgem também em lugares “estratégicos” como janelas, portas, arcadas e cunhais. Por vezes são de pequenas dimensões e estão mal traçadas.

Por tudo isto pensamos que todas as Formas Geométricas apresentadas neste Post são Ideogramas Mágico Religiosos e não tabuleiros de jogo .




Obrigado


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Exposições

Jogos Intemporais (2011): Tabuleiros e pedras de jogo do Castelo Velho de Alcoutim

Pedras que Jogam (2004): Jogos de tabuleiro de outras épocas


Sites e Blogues

Ares Cronida

Board Games - Mats Winther

Centro Studi Triplice Cinta - Marisa Uberti

Celtiberia

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Juegos de Tablero Romanos e Medievales - José Manuel Jesús Hidalgo

Marcas de cantería, estelas discoidales, grafitos y otros gliptogramas - Rafael Fuster ruiz

Megaliticia

Raking Light - Anthea Hawdon






2 comentários:

  1. Resgatando todo este manancial de uma vivência muitas vezes já esquecida, ou desvalorizada, conseguiu respostas a várias questões que estavam em aberto, trazendo um entendimento sobre o enigma dos supostos tabuleiros. Particularmente interessa-me a ligação correspondente ao Mosteiro da Batalha, ao qual me tenho dedicado, obrigando-me e rever toda uma série de elementos e seus contextos.
    Muitos parabéns por todo este precioso trabalho.

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    1. Muito obrigado pela motivação. Bem preciso pois faltam duas partes. Fico muito curioso com os segredos do mosteiro da Batalha. Abraço

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