Tabuleiros de Jogo no Concelho do Alandroal - Board Games



Jogos, paralelos, relação com símbolos de
 protecção e sorte





1.Introdução


            O objectivo deste trabalho é divulgar um dos segredos da raia alentejana que são os tabuleiros de jogo. Um projecto interessante seria criar um roteiro na Vila ou no Concelho do Alandroal. Este roteiro permitiria a descoberta dos tabuleiros e dos monumentos onde estes se encontram.
Este trabalho foi realizado por nossa iniciativa e às nossas custas. Um investimento na nossa Identidade Cultural que fazemos com muito agrado. Infelizmente falta muita informação que esperamos completar no futuro. Faltam fotografias de melhor qualidade e com escala, faltam desenhos dos tabuleiros. No futuro esperamos acrescentar toda essa informação. Talvez um dia consigamos financiamento para um estudo dos tabuleiros de jogo. Enfim o sonho comanda a vida.
Ao longo dos anos fomos reunindo informação que vamos divulgando no nosso Blogue (jogosancestrais.blogspot.pt), aqui podem encontrar um mapa com cerca de 800 tabuleiros na Ibéria. Estamos também a criar um Inventário (Base de Dados) com os cerca 200 tabuleiros inéditos que localizámos. No Concelho do Alandroal temos 57 tabuleiros identificados. Destes 15 foram publicados noutros trabalhos, 42 são inéditos e foram localizados pela nossa equipa.
No Alentejo quando entramos numa taberna temos quase sempre um grupo que joga o Dominó, a Sueca ou o Xito. Por vezes ainda encontramos quem jogue a Malha nos terreiros. Os jogos de tabuleiro fazem parte da tradição lúdica alentejana que infelizmente está a desaparecer com o aparecimento das novas tecnologias. Eram jogados por crianças mas também por homens e por uma profissão em especial…os militares. Em conventos e mosteiros que foram quartéis, em fortificações, nos vários espaços onde estiveram os militares não faltam tabuleiros de jogo. Encontramos muitos tabuleiros nos adros das Igrejas, as mulheres ouviam a missa e os homens jogavam na rua.
Encontramos tabuleiros gravados no xisto, no mármore e nas baldosas. No património religioso encontramos muitos tabuleiros: em Conventos e Mosteiros, principalmente nos claustros; em Igrejas, Ermidas e Capelas, nos bancos e chão do adro, escadarias e portas; nos Cruzeiros; em Passos do Senhor. Também temos tabuleiros em Fontes; nas Fortificações, em Prisões; em casas e montes, nos balcões, nas janelas, nos bancos e até mesmo no interior das habitações; em afloramentos rochosos, locais de paragem de pastores; em moinhos. A maior parte estão em espaços públicos, de reunião ou descanso, quase sempre em locais com boa visibilidade, quem jogava  ia vendo quem passava. Noutras paragens por vezes encontramos as pedras onde se encontram os tabuleiros reutilizadas com novas funções. Grande parte dos tabuleiros do Alandroal parecem estar in situ.
No séc. XIII o Rei Afonso X de Castela reuniu os tabuleiros e jogos conhecidos no “Libro de los Juegos”. Neste livro alguns jogos de tabuleiro ganharam o nome de Alquerque do arábe al Quirkat. No mundo ocidental, graças a Afonso X, o nome Alquerque passou a designar vários tabuleiros de jogo. Mas são muitos os nomes e maneiras de jogar que encontramos pelo Alentejo e por esse Mundo fora.



2.Tabuleiros e maneiras de jogar 

2.1.Os Tabuleiros


No Concelho de Alandroal a maior parte dos tabuleiros são do Jogo do Alquerque dos 12 (figura 2). O mais perfeito está num Monte perto de Montejuntos (figura 3). Dos restantes só encontramos as covinhas que explicamos no Ponto 2.5.
Encontramos ainda o tracejado de vários tabuleiros do Jogo do Alquerque dos 3 (figura 1) que parece ter sido jogado até há pouco tempo. Este tabuleiro pode-se confundir com um símbolo: a Suástica. Explicamos esta situação no Ponto 3.1.
Do tabuleiro do Jogo do Alquerque dos 16 (figura 4) só encontramos dois possíveis exemplares em Juromenha e Terena (figuras 146 e 155). Este tabuleiro apesar de ser muito frequente em Portugal é raro no Alandroal. Portugal é o único país europeu onde encontramos o tabuleiro de Alquerque dos 16 ou Alquerque com Castelos. Será provavelmente uma importação da nossa feitoria em Malaca na Malásia. 



Figura 1 – Tabuleiro do Jogo do Alquerque dos 3




Figura 2 e 3 – Tabuleiro do Jogo do Alquerque dos 12




Figura 4 –  Tabuleiro do Jogo do  Alquerque dos 16



2.2.Maneiras de Jogar


            As maneiras de jogar são transmitidas oralmente o que torna difícil a sua compreensão e leva mesmo a alguma confusão. Esperamos reunir mais testemunhos no futuro mas é uma verdadeira luta contra o tempo.
            As maneiras de jogar são os Jogos propriamente ditos. O mesmo tabuleiro ganha assim uma grande variedade de nomes. Podemos dividir os jogos em jogos de alinhamento, em jogos de guerra e jogos de caça.
Nos jogos de alinhamento o objectivo é colocar três peças em linha (figura 5). O Jogo do Galo que todos jogámos em criança. O Alquerque dos 3 é um pouco diferente, os jogadores têm 4 peças que colocam à vez no tabuleiro, quem fizer o três em linha pode retirar uma peça do adversário do tabuleiro, quem ficar só com duas peças perde. Este jogo encontra-se espalhado por todo o Mundo (figuras 10 e 14) com vários nomes: Alquerque dos 3, Jogo do Galo, Jogo do Homem, Tic-Tac-Toe, Tapatan, Achi, Three Men Morris, entre outros. O simbolismo deste jogo é tratado no Ponto 3.1.
Os jogos de guerra são como o Jogo das Damas em que temos duas forças simétricas. Ambos os jogadores têm o mesmo tipo de peças que efectuam o mesmo tipo de movimentos. O jogo tem início com todas as peças no tabuleiro, eliminam-se as peças do adversário saltando por cima. Joga-se assim o Alquerque dos 12 e dos 16 (figura 6). No Alandroal o Alquerque dos 12 ganha o nome de Jogo dos Pocinhos devido às covinhas que encontramos numa grande parte dos tabuleiros.
Nos jogos de caça encontramos os adversários com forças assimétricas. Um tem uma peça mais poderosa o outro tem mais peças mas menos poderosas. Os objectivos são diferentes, um tem que encurralar a peça do adversário o outro tem que comer todas as peças do adversário. No Ponto 2.3. analisamos uma maneira de jogar muito interessante do Alandroal: o Gato e os Ratos.
Esperamos que esta apresentação nos traga mais informadores que nos ensinem mais maneiras de jogar e mais jogos.



Figura 5 –  Jogo do Alquerque dos 3




Figura 6 –  Jogo do Alquerque dos 12



2.3.O Jogo do Gato e dos Ratos: 

o paralelo entre o Alandroal e o Japão


            Agradecemos ao António Galhardas a informação.
         O Jogo do Gato e dos Ratos joga-se no tabuleiro de Alquerque dos 12 com forças assimétricas (figura 7). Um dos jogadores tem o Gato que pode comer as peças do adversário passando por cima delas, ganha quando eliminar todos os Ratos. O outro jogador tem os Ratos que podem variar em número mas não podem comer o Gato, ganha se conseguir encurralar o Gato, impedir o movimento do adversário.
         O tabuleiro de Alquerque dos 12 enquanto jogo de caça já surge no “Libro de los Juegos” de Afonso X mas aí temos a caça à lebre.
         Segundo Lídia Fernandes em Montemor-o-Novo jogava-se a raposa contra as galinhas.
         Ainda no tabuleiro do Alquerque dos 12 e no Nepal temos o Jogo do Bagh-Chal em que quatro tigres lutam contra vários homens (figura 13).
         No Brasil é a onça contra os cachorros num tabuleiro de Alquerque dos 12 com um triângulo. Este tabuleiro aparece no Japão, aqui temos de novo o Jogo do Gato contra dos Ratos (figuras 8 e 9).
Demos assim uma volta pelo Mundo ligando o Alandroal ao Japão.


Figura 7 –  O Gato e os Ratos no Alandroal


 
Figura 8 e 9 –  O Gato e dos Ratos no Japão: caixa de jogo e gravura

2.4 Outros paralelos de tabuleiros e jogos com a Ásia


            Nas nossas pesquisas temos encontrado muitos paralelos. Tabuleiros idênticos em Portugal e noutras partes do Mundo. Por vezes são jogados da mesma maneira como vimos no ponto anterior.
A Índia parece ser a origem de quase todos os tabuleiros que depois se espalham pelo resto do Mundo. Nas figuras 10 a 12 encontramos tabuleiros da Índia. No Alandroal temos precisamente os mesmos tabuleiros com os nomes de Alquerque dos 3, Alquerque dos 16 e Alquerque dos 12. Na figura 12 encontramos as mesmas covinhas que encontramos por exemplo na escadaria da Igreja de NS da Conceição. Outro pormenor interessante, no Alandroal grande parte dos tabuleiros estão em templos (ver Ponto 4.3), acontece precisamente o mesmo na Índia.
Na Coreia temos os tabuleiros de jogo genericamente chamados de Nori. Quase todos surgem na Europa por vezes em petroglifos. Na Europa ganharam o nome de Morris, um som muito semelhante a Nori. Na figura 14 vemos alguns deste tabuleiros, a vermelho temos os que surgem no Alentejo.

 



  
Figuras 10 a 12 –  Tabuleiros de Jogo na India



  
Figura 13 –  Jogo do Bagh-Chal no Nepal



  
Figura 14 –  Tabuleiros de Jogo da Coreia



2.5.Traços e covinhas


As figuras seguintes explicam a transformação do tracejado de um tabuleiro em covinhas. Os vértices onde se colocam as peças gastam-se mais, as casas centrais mais ainda (ver figura 189). O tracejado desaparece com o tempo e a erosão, ficam só as covinhas. Estas covinhas surgem muito na forma de petroglifos por vezes com datações pré e proto históricas.



  
Figuras 15 a 17 –  Do traçado do tabuleiro às concavidades no Alquerque dos 3



  
Figuras 18 a 20 –  Do traçado do tabuleiro às covinhas  no Alquerque dos 12



3.Outros paralelos, símbolos de proteção e sorte

3.1.O Alquerque dos 3 como símbolo: a Suástica da Pré-história aos nossos dias



           O tabuleiro do Alquerque dos 3 tem a particularidade de poder ser um símbolo: a Suástica. A Suástica é um símbolo de proteção e sorte originário da Índia que assume várias formas.
Nas figuras 21 e 22 vemos o Alquerque dos 3 enquanto Suástica na Pedra de Kermaria, da proto história francesa, e numa moeda da antiguidade grega.
Esta representação da Suástica vem explicar o facto de encontrarmos alguns Alquerques dos 3 na vertical, por vezes no revestimento dos monumentos, por exemplo nas janelas da Torre de Menagem do Castelo de Olivença (figuras 23 e 24).
         Esta forma de Suástica aparece também em todas a bandeiras dos Concelhos portugueses. Segue a tradição da bandeira da cidade de Lisboa na parte dita de gironada (figuras 26 a 28).
         No antigo tribunal medieval de Monsaraz, mesmo debaixo do fresco do “Bom e do Mau Juiz”, encontramos um grafito da nossa Suástica (figuras 29 e 30).
         O nosso estudo de tabuleiros de jogo levou-nos a pesquisar as covinhas que encontramos em vários afloramentos rochosos e monumentos megalíticos. Destacamos as covinhas num menir intencionalmente cortado do Cromeleque dos Almendres. Estas formam um tabuleiro de Alquerque dos 3 que pode ser  uma Suástica  (figuras 31 a 33). O mesmo acontece no Cromeleque dos Perdigões em Reguengos de Monsaraz (figuras 34 e 35).
         Numa grande percentagem destes conjuntos de covinhas aparece um outro simbolo: a Cruz de Santo André. Mas isso é outra história.


           


 

Figuras 21 e 22 –  Alquerque dos 3 enquanto Suástica na Pedra de Kermaria e numa  moeda da antiguidade grega





Figuras 23 e 25 – Alquerque dos 3 enquanto Suástica numa janela da Torre de Menagem do Castelo de Olivença e no exterior do pano da muralha acompanhado de um Pentagrama




  
Figuras 26 a 28 –  Do Alquerque dos 3 à Suástica que encontramos na bandeira da cidade de Lisboa





Figuras 29 e 30 –  Suástica grafitada debaixo  do Fresco do Bom e Mau Juiz em Monsaraz






Figuras 31 a 33 –  Covinhas de Suástica num menir cortado do Cromeleque dos Almendres em Évora






Figuras 34 e 35 –  Covinhas de Suástica num menir tombado do Cromeleque dos Perdigões em Reguengos de Monsaraz



3.2.Outras suásticas e símbolos no Concelho do Alandroal e na Raia


            Dando continuidade ao Ponto anterior apresentamos outras Suásticas que surgem no Concelho do Alandroal na forma de “Lauburu”. Em Juromenha temos várias nas janelas e portas, associadas a Rosetas Hexapétalas, descobertas por José Carnerero e Eva Sánchez (figuras 36 e 37).
         Numa chaminé da Aldeia das Hortinhas encontramos uma Suástica associada a Rosetas Hexapétalas (figuras 38 a 40). Ainda em chaminés na Aldeia dos Motrinos em Reguengos de Monsaraz (figura 41) e na Vila de Ouguela em Campo Maior (figura 42).



  
Figuras 36 e 37 –  Suásticas na Igreja Matriz de NS de Loreto em Juromenha




Figuras 38 a 40 –  Símbolos em Chaminé na Aldeia das Hortinhas, Alandroal



Figura 41 –  Símbolos em Chaminé na Aldeia dos Motrinos, Reguengos de Monsaraz


  
Figura 42 –  Símbolos em Chaminé na Vila de Ouguela, Campo Maior


3.3. Outros símbolos de proteção que também podem ser jogos



         O Pentagrama foi usado pelos Cavaleiros Templários na Idade Média. Ficou na Raia Alentejana como símbolo de proteção por aqui com o nome de Sino Saimão. Uma adulteração do original nome de Selo de Salomão. Segundo Leite Vasconcelos também pode ser um tabuleiro de jogo ou um quebra-cabeças (figura 43).
         O Octagrama pode ser o nosso Jogo do Galo (figuras 45 a 47).
      Encontramos também Pentagramas, Hexagramas protegendo tabuleiros desde a Idade Média aos nossos dias (figuras 192 e 194).
        A relação entre tabuleiros de jogo e símbolos de protecção é complexa é será analisada noutro post.
         



Figura 43 –  O Pentagrama  como jogo segundo Leite de Vasconcelos





Figura 44 –  Pentagrama em Chaminé na Vila de Ouguela, Campo Maior




  
Figuras 45 a 47 –  O Jogo do Galo e o Octagrama




Figura 48 –  Octagrama em balcão da Aldeia das Hortinhas, Alandroal


4.Os tabuleiros no Concelho do Alandroal

4.1.Localização




Figura 49 –  Tabuleiros de Jogo no Concelho de Alandroal



Localização por (antigas) Freguesias
NS da Conceição Alandroal
38
Santo António de Capelins
9
S. Pedro de Terena
8
Santiago Maior
1
NS de Loreto Juromenha
1

Localização por Monumento
Vila do Alandroal
Fonte das Bicas
8
Igreja Matriz de NS da Conceição (escadaria)
7
Capela de Santo António (bancos do adro)
7
Cruzeiro da Ermida de S. Pedro
5
Ermida de S. Bento (cruzeiro e adro)
4
Capela de S. Sebastião (escadaria e bancos exteriores)
3
Ermida de NS da Consolação (bancos exteriores)
1
Ermida de NS das Neves (adro)
1
Passo do Senhor (Rua Dr. Teófilo Braga)
1
Murete de Palacete
1
Vila de Juromenha
Cadeia (janela)
1
Vila de Terena
Igreja Matriz de S Pedro (bancos do adro)
5
Pelourinho
2
Resto do Concelho
Igreja de Santo António de Capelins (bancos exteriores)
6
Igreja de Santiago Maior (adro)
1
Igreja de Montejuntos (adro)
1
Aldeia das Hortinhas (banco)
1
Monte isolado (quarto e reutilização)
2


4.2.Outros dados

Materiais
Xisto
27
Mármore
20
Baldosas (cerâmica)
10

Tipo de Tabuleiro
Alquerque dos 3 (tracejado)
6
Alquerque dos 3 (covinhas)
1
Alquerque dos 12 (tracejado)
1
Alquerque dos 12 (covinhas)
27
Alquerque dos 16
2
Indeterminado
20

Elemento arquitectónico
Igreja (bancos do adro)
12
Igreja (chão do adro)
5
Igreja (bancos exteriores)
9
Igreja (escadaria)
8
Cruzeiro
7
Passo do Senhor
1
Pelourinho
2
Fonte
8
Murete
1
Banco
1
Janela
1
Quarto (entrada)
1
Reutilizada
1


4.3.Uma leitura dos dados


         Encontramos a maior parte dos tabuleiros na Vila do Alandroal (67%), na Vila de Terena e na Igreja de Santo António de Capelins (tendo Ferreira sido sede de Concelho). Temos mais jogos nas sedes de Concelho porque estas são um ponto de encontro mas também por existirem aqui mais monumentos religiosos. Nas Igrejas, Ermidas e Capelas, nos adros, bancos dos adros, bancos exteriores e cruzeiros temos a grande fatia dos tabuleiros (72%). Quarenta e um tabuleiros logo à saída dos templos, grande parte no adro, o religioso e o lúdico bem perto. Lançamos algumas hipóteses: pelos templos serem um ponto de encontro; porque as mulheres ouviam a missa e os homens jogavam.
         Na figura 50 observamos que os trinta e oito tabuleiros da Vila do Alandroal estão no centro da Vila (71%) ou nos caminhos pontuados por Ermidas. Quem jogava era visto e queria ver quem passava. Esta actividade não teve nada de ilegal e seria aceite pela comunidade. Não sabemos se o padre concordaria com esta hipótese. A Fonte das Bicas apresenta o maior número de tabuleiros (oito) mas podem ser muitos mais. A sua localização central e frescura tornam-se factores de peso. Os tabuleiros que encontramos estão em monumentos posteriores ao século XVI ou que sofreram reconstruções desde então. Muitos dos tabuleiros devem ser relativamente recentes pois encontramos uma patine em lajes de xisto que assim indica.
         A maior parte dos tabuleiros são do Jogo do Alquerque dos 12 (49%), sensivelmente metade. Só temos um tracejado mas temos covinhas de vinte e sete. Encontramos muitos tabuleiros de Alquerque dos 16 em outros Concelhos mas no Alandroal encontram-se sub representados. Não sabemos porquê. O tabuleiro do Alquerque dos 3 pode ser confundido com a Suástica como desenvolvemos no Ponto 3.1. Dos tabuleiros  indeterminados esperamos que futuros estudos permitiram perceber de que jogos se tratam. A sobreposição de tabuleiros dificulta a sua identificação (ver figuras 68, 169 e 192). É no entanto, prova da longa duração da actividade lúdica nesses locais que obrigou a nova marcação dos tabuleiros
         Quase metade dos tabuleiros estão gravados no xisto (47%), a pedra mais comum e que aflora no Concelho. Temos muitos tabuleiros gravados no Mármore, estes são os mais visíveis graças à dureza desta pedra. Interessante o grande número de tabuleiro gravados em baldosas, em cerâmica.
        


5. Os Tabuleiros da Vila do Alandroal



Figura 50 –  Concentração dos Tabuleiros de Jogo no centro da Vila do Alandroal e nas Ermidas que pontuam os caminhos.



Figura 51 –  Localização dos Tabuleiros de Jogo na Vila do Alandroal

Legenda da Figura 51:
1– Ermida de NS da Consolação
2- Ermida de S. Pedro
3- Igreja Matriz de NS da Conceição
4- Murete de Palacete
5- Passo do Senhor
6- Fonte das Bicas
7- Capela de S. Sebastião
8- Capela de Santo António
9- Ermida de S. Bento
10 – Ermida de NS das Neves



5.1.Fonte das Bicas


            A origem desta Fonte aponta para o século XVII. Localizada no centro da Vila foi sempre um ponto de encontro. Fonte barroca em mármore com seis bicas zoomórficas. Com bebedouro para animais e canalização da água para várias hortas da Vila. Nesta Fonte encontramos várias covinhas e alguns tracejados. Algumas das covinhas são de grande profundidade. Isto levou a que o Jogo do Alquerque ganha-se por aqui o nome de Jogo dos Pocinhos. Identificamos os tabuleiros de seis Jogos do Alquerque dos 12 e dois tabuleiros indeterminados. Na figura 53 temos os cinco tabuleiros que melhor se identificam. Nas figuras 66 a 68 temos uma montagem do Murete Oeste da Fonte onde identificamos mais três tabuleiros (a azul). Aqui temos vários tabuleiros sobrepostos o que demonstra uma grande actividade lúdica ao longo do tempo.


Figura 52 –  Fonte das Bicas



Figura 53 –  Os 5 tabuleiros que melhor se identificam na Fonte das Bicas
(Figuras 54 a 65)



 

Figuras 54 a 56 –  Tabuleiro 1 da Fonte das Bicas (ver figura 53)




Figuras 57 e 59 –  Tabuleiro 2 da Fonte das Bicas (ver figura 53)




  

Figuras 60 e 61 –  Tabuleiro 3 da Fonte das Bicas (ver figura 53)




Figuras 62 e 63 –  Tabuleiro 4 da Fonte das Bicas (ver figura 53)




Figuras 64 e 65 –  Tabuleiro 5 da Fonte das Bicas (ver figura 53)






Figuras 66 a 68 –  Murete Oeste da Fonte das Bicas com dois tabuleiros bem visíveis (a amarelo) e três outros que também consideramos (a azul)





Figuras 69 e 70 –  Murete Oeste da Fonte das Bicas depois de uma chuvada. Temos assim uma melhor visualização de mais tabuleiros.



5.2. Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição


Imponente Igreja Matriz da Vila do Alandroal do século XVI. Dedicada a nossa Senhora da Conceição e rica em decoração. Edificada dentro do Castelo e adossada à Torre de Menagem. Na escadaria em mármore desta Igreja encontramos várias covinhas e alguns tracejados. Identificamos sete tabuleiros, cinco do Jogo do Alquerque dos 12 (figuras 79 a 83) e dois indeterminados.


Figura 71 –  Castelo e Igreja Matriz de NS da Conceição



  
Figuras 72 e 73 –  Escadaria da Igreja Matriz de NS da Conceição







Figuras 74 a 77 –  Localização dos tabuleiros na escadaria da Igreja Matriz de NS da Conceição










   
Figuras 78 a 85 –  Tabuleiros da escadaria da Igreja Matriz de NS da Conceição

  

5.3. Capela  de Santo António

         Nos bancos do adro desta Capela do século XVII encontramos várias covinhas que formam sete tabuleiros de jogo gravados no xisto. Temos quatro tabuleiros do Jogo do Alquerque dos 12 (figuras 89 a 92) e três tabuleiros indeterminados.




Figura 86 –  Capela de Santo António




Figura 87 –  Bancos do adro da Capela de Santo António











Figuras 88 a 95–  Tabuleiros nos bancos do adro da Capela de Santo António


5.4.Ermida e Cruzeiro de S. Pedro


            Ermida do século XIV num antigo caminho. Nas baldosas do Cruzeiro encontramos várias covinhas que formam dois tabuleiros de Jogo do Alquerque dos 12 (figuras 101 e 102). Encontramos mais covinhas que formam três tabuleiros indeterminados. O Joaquim “Ameixa” Elias encontrou uma espectacular peça de jogo em xisto que teve a amabilidade de partilhar connosco (figura 100).




Figuras 96 e 97 –  Ermida e Cruzeiro de S Pedro


   
Figuras 98 e 99 –  Tabuleiros no Cruzeiro da Ermida de S Pedro



Figura 100 – Peça de Jogo


 





  
Figuras 101 a 105 –  Tabuleiros no Cruzeiro da Ermida de S Pedro


5.5. Ermida e Cruzeiro de S. Bento


            Ermida do século XVI num antigo caminho. Sitio com muita água o que levou à construção de algumas fontes e uma hospedaria. Local de lendas e provavelmente um dos templos mais antigos do Alandroal. Destacamos os espectaculares frescos que representam S. Bento, o Sol e a Lua entre outros elementos. No chão do adro do templo encontramos várias covinhas nas baldosas que correspondem a dois tabuleiros de Jogo do Alquerque dos 12. No Cruzeiro mas agora no mármore encontramos mais covinhas que correspondem a dois tabuleiros de Alquerque dos 12.


  
Figuras 106 e 107 –  Ermida e Cruzeiro de S. Bento




Figuras 108 e 109 –  Frescos da Ermida S. Bento



Figura 110 –  Adro da Ermida de S. Bento


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Figuras 111 a 114 –  Tabuleiros no chão do adro da Ermida de S. Bento

 





Figuras 115 a 118 –  Tabuleiros no cruzeiro da Ermida de S. Bento


5.6. Capela de S. Sebastião 

            Capela do século XVI muito reconstruída no antigo Terreiro do Mártir. No mármore da escadaria e nas baldosas dos bancos exteriores encontramos várias covinhas que correspondem a três tabuleiros de Jogo do Alquerque dos 12.



    
Figuras 119 e 121 –  Capela de S. Sebastião e bancos exteriores

 








  
Figuras 122 a 127 – Tabuleiros na escadaria e bancos exteriores da Capela de S. Sebastião

  

5.7.Passo do Senhor


            No Passo do Senhor, Via Sacra do século XVIII, da Rua Dr. Teófilo Braga encontramos várias covinhas no xisto da soleira. Nestas identificamos um tabuleiro de Jogo do Alquerque dos 12.



 

Figuras 128 a 131 –  Passo do Senhor e tabuleiro


5.8.Murete de Palacete


            Num murete de um palacete na Rua João de Deus encontramos várias covinhas no mármore. Estas correspondem a um tabuleiro de Jogo do Alquerque dos 12.


 



Figuras 132 a 134 –  Murete de Palacete e tabuleiro



5.9.Ermida de NS das Neves


            Ermida do século XVI num antigo caminho para onde foi transferido o cemitério público no século XIX. No xisto do chão do adro encontramos várias covinhas de um tabuleiro de Jogo do Alquerque dos 12. Desta Ermida temos que destacar os espectaculares frescos representando vários Santos, a Assunção da Virgem e claro o Sol e a Lua (figuras 136 e 137).


Figura 135–  Ermida de NS das Neves



Figuras 136 e 137 –  Frescos da Ermida de NS das Neves




  
Figuras 138 a 140 –  Tabuleiro da Ermida de NS das Neves



5.10.Ermida de NS da Consolação



            Ermida do Século XVI, pode ter sido uma Qubba islâmica marcando um antigo caminho. Aqui repousa o Governador Geral da Índia Diogo Lopes de Sequeira. Num banco exterior deste monumento encontramos algumas covinhas no xisto que correspondem a um tabuleiro do Jogo do  Alquerque dos 3.






Figuras 141 e 142 –  Ermida de NS da Consolação



  
Figuras 143 a 144 –  Tabuleiro da Ermida de NS da Consolação   


6. O Tabuleiro da Vila de Juromenha na Cadeia


            A cadeia da Fortificação de Juromenha é um edifício posterior ao século XVII, já na zona da fortificação abaluartada. Neste edifício  encontramos uma cela reforçada com placas de mármore ligadas por gatos. Numa placa de mármore horizontal da janela encontramos o traçado e algumas covinhas de um tabuleiro de Jogo do Alquerque dos 16. Os prisioneiros passavam o tempo jogando, onde havia mais luz, e vendo quem passava do lado de fora.






Figuras 144 a 150 –  Cadeia de Juromenha e tabuleiro na janela


7. Os Tabuleiros da Vila de Terena

7.1 Pelourinho


            O Pelourinho de Terena é uma remontagem com materiais de diferentes proveniências e épocas. Não sabemos a data de edificação e se estará no sítio original. Na sua base encontramos traçado no xisto um tabuleiro de Jogo do Alquerque dos 16 (figuras 152 a 155) e um outro tabuleiro indeterminado.


Figuras 151 –  Pelourinho de Terena









Figuras 152 a 157 –  Tabuleiros no Pelourinho de Terena



7.2.Igreja Matriz de S. Pedro


Igreja do século XIV já muito alterada por sucessivas reconstruções. O edifício original devia de ser espectacular e muito ornamentado em mármore branco de Estremoz. Infelizmente encontramos muitos elementos arquitectónicos espalhados pelos quintais da Vila de Terena. Na frontaria da Igreja ainda podemos ver duas estátuas originais de S. Pedro e Santa Catarina. Nos bancos do adro encontramos dois traçados de Alquerque dos 3 de pequenas dimensões, cerca de 10x10 cm (figuras 162 a 165). Estes traçados pelas suas pequenas dimensões e pelo facto de estarem associados a uma Roseta Hexapétala (figura 160 e 161) levam-nos a pensar que são representações de Suásticas. Como podemos observar nas figuras 166 e 167. Encontramos ainda o traçado de mais três tabuleiros indeterminados. Dois deles estão sobrepostos (figuras 168 e 169) o que demonstra a continua actividade lúdica e a dificuldade em identificar os respectivos tabuleiros.




Figuras 158 e 159 –  Igreja Matriz de S. Pedro em Terena e bancos do adro




Figuras 160 e 161 –  Roseta Hexapétala nos bancos do  adro da Igreja Matriz de S. Pedro

 





Figuras 162 a 165 –  Tabuleiros ou Suásticas nos bancos do adro da Igreja Matriz de S. Pedro em Terena




Figuras 166 e 167 –  Tabuleiro de Alquerque dos 3 e a Suástica





Figuras 168 e 169 – Sobreposição de tabuleiros nos bancos do adro da Igreja Matriz de S. Pedro


 


Figuras 170 a 171 –  Tabuleiro num banco do adro da Igreja Matriz de S. Pedro


8. Tabuleiros no restante Concelho do Alandroal

8.1.Igreja de Santo António de Capelins



            Igreja do século XVI que terá sido uma Qubba Islâmica encontra-se na Serra da Sina, um cabeço com grande visibilidade e domínio estratégico, um provável povoado Calcolítico segundo Manuel Calado. Nos bancos exteriores da Igreja encontramos seis tabuleiros traçados no xisto mas podem ser mais. Temos três tabuleiros do Jogo do Alquerque dos 3 bem traçados. Um deles de grandes dimensões e com um círculo no meio, na casa mais importante (figuras 178 e 179). Deixamos em aberto a hipótese de alguns destes tabuleiros de Alquerque dos 3 terem tido também a função simbólica de protecção enquanto Suásticas. Os outros três tabuleiros são indeterminados (figuras 180 a 183).




  
Figuras 172 a 173 –  Igreja  de Santo António de Capelins

 






  
Figura 174 a 183 –  Tabuleiros nos bancos exteriores da Igreja  de Santo António de Capelins


8.2.Igreja de Santiago Maior


            Igreja com referências desde o século XVI, encontra-se nos caminhos de Santiago e terá sido provavelmente uma Qubba Islâmica. No xisto do chão do adro encontramos um traçado de um tabuleiro indeterminado.






Figuras 186 e 187–  Igreja de Santiago Maior  e tabuleiro



8.3.Igreja de Montejuntos


            No adro desta Igreja em xisto encontramos um bem traçado tabuleiro de Jogo do Alquerque dos 3. A casa central encontra-se bastante gasta do uso que teve.





Figuras 188 e 189 –  Igreja de Montejuntos e tabuleiro



8.4.Aldeia das Hortinhas

            Na espectacular Aldeia de xisto das Hortinhas encontramos este banco perto de um do fornos comunitários (figura 190). No banco temos um (ou mais) tabuleiros indeterminados. O mais interessante são os Pentagramas e Octagramas que encontramos associados aos tabuleiros (figuras 191 e 192). Quem esperava pela fornada de pão ia jogando e riscando uns símbolos de protecção, não vá o diabo tecê-las. Marisa Uberti chamou-nos a atenção para uma representação do “Libro de los Juegos” de Afonso X em que temos um Tabuleiro do Alquerque dos 12 protegido por Hexagramas (figuras 193 e 194).






Figuras 190 a 192 –  Tabuleiro e símbolos de protecção num banco da Aldeia das Hortinhas





Figuras 193 e 194 - “Libro de los Juegos” de Afonso X em que temos um Tabuleiro do Alquerque dos 12 protegido por Hexagramas



8.5.Monte isolado


            Num Monte isolado da Freguesia de Santo António de Capelins encontramos um tabuleiro do Jogo do Alquerque dos 12 (figura 195). Este é o tracejado mais visível e geométrico que encontramos em todo o Concelho. Está no chão, à entrada de um quarto, traçado nas baldosas, para jogar?, para proteger? Não sabemos……
         No mesmo Monte temos também as covinhas de um outro tabuleiro indeterminado (figura 196), numa pedra reutilizada no exterior da casa.






Figuras 195 e 196 –  Tabuleiros em Monte isolado


9. Mais sobre os jogos

9.1.Livros


Govert Westerveld – The History of Alquerque 12

José Manuel Espinel Cejas y Francisco Garcia-Talavera Casañas  Juegos Guanches Inéditos

Lídia Fernandes – Tabuleiro de jogo inscritos na pedra

 

9.2.Internet



José Manuel Jesus Hidalgo – Juegos de Tablero Romanos e Medievales - http://juegosdetablerosromanosymedievales.blogspot.pt/


Marisa Uberti – Centro Studi Triplice Cinta - http://www.centro-studi-triplice-cinta.com/

Mats Winther – Board Games - http://mlwi.magix.net/bg/index.htm




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