Símbolos Religiosos, Manuscritos Medievais e Judeus - Folk Religion







Índice
1 - Introdução
2 - Símbolos Religiosos
3 - Símbolos Apotropaicos
3.1 - Alguns Testemunhos
3.2 - A Cruz
3.3 - O Pentagrama
3.4 - O Hexagrama
3.5 - O Octagrama
3.6 - A Roseta Hexapétala
3.7 - A Espiral
3.8 - A Suástica Lauburu
4 - Manuscritos medievais e Associação
5 - Das Pedras de Afiar à Mezuzah: a Mensagem
5.1 - Marcas de Afiar
5.2 - A Mezuzah
Bibliografia


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1 - Introdução

   Vai fazer uns 10 anos que viemos viver para a Aldeia raiana da Venda no Concelho alentejano do Alandroal. Lentamente fomos apresentados a um mundo escondido à vista de todos. Aqui na Aldeia e mesmo ao lado de casa, na Rua dos Ferreiros, está uma chaminé que tem pintada a azul uma flor. Uma decoração bonita mas que nada nos dizia. Sem saber foi a primeira chaminé decorada com um símbolo de protecção que vimos. A vista foi refinando e hoje já sabemos que a flor é uma Roseta Hexapétala. Desde então temos vindo a redescobrir milhares de Hexapétalas e outros simbolos em vários suportes. Infelizmente a memória e função destes simbolos vai desaparecendo. Uma vez apagados da memória também vão sendo apagados fisicamente e assim desaparece mais um bocado da nossa Identidade Cultural. 
  O objectivo primeiro deste post é divulgar este mundo de simbolos escondidos à vista de todos. Esperamos que a divulgação leve à sua preservação e que continuem a enriquecer o nosso Alentejo. Queremos também que deixem de ser associados à religião hebraica principalmente os Cruciformes, Pentagramas e Hexagramas. Todos estes simbolos foram usados ao longo da História e Pré-Historia pelas religiões monoteístas, incluindo as do livro, e pelos politeísmos a que chamamos hoje de paganismo. Os cruciformes que surgem nas ombreiras das portas não servem para identificar o povo judeu. São um de vários simbolos apotropaicos que protegem o lar. 
   Quero agradecer à equipa o esforço dos últimos anos despendido no registo de tantos informação. Relocalizamos simbolos principalmente no Distrito de Évora com pequenas investidas pelos Distritos vizinhos e pela Cidade Franca de Olivença. Agradeço a informação que nos chega constantemente através da Internet e principalmente pelo Facebook. Esta rede social é uma excelente ferramenta quando usada para o bem. A maior parte das fotos deste post são nossas, tiramos 10 000 por ano, outras foram saqueadas da Internet com a devida identificação do autor. Se tal não acontecer pedimos desculpa e entrem em contacto connosco para rectificarmos a situação. Este trabalho é apenas uma apresentação ao tema. Falta o levantamento dos grafitos com desenhos, fotos com luz rasante e escala. A luz rasante revela-se altamente eficaz apesar de ainda não dominarmos a técnica. A "leitura" dos grafitos é feita no terreno e em casa com programas de tratamento de imagem. É eficaz mas deixa alguma informação de fora. Quando tivermos mais tempo, quem sabe um apoio financeiro, faremos melhor. Espero que se divirtam a ler o post e o critiquem construtivamente. 



2 -Símbolos religiosos


   São muitos os simbolos religiosos que encontramos e nos mais variados suportes. Vários tipos de Suásticas e Cruciformes, Pentagramas, Hexagramas e Octagramas, Rosetas com número variado de pétalas, Crescentes, Losangos, Rodas solares, Espirais, pontos que são por vezes "covinhas" e até Alquerques... Para terem uma ideia vejam a Figura 1 que está em construção. Alguns destes simbolos podem ser considerados solares e outros lunares. Uns representam os deuses que trazem o dia e outros o movimento anual. Uns ainda são usados pelo Cristianismo outros foram "censurados". 
   Podemos então encontrar os simbolos numa forma mais visível e oficial, pintados ou em relevo, mas é no Graffiti, desenhados, riscados ou picados, que encontramos maior parte. É no Graffitti que encontramos a voz e as preocupações dos esquecidos pela História. Estamos a construir um Post sobre o tema do Graffiti. Matthew Champion (2015) justifica assim o estudo do tema: "The simple answer is that ancient grafitti offers us something that most other areas of medieval and church studies cannot give us. It offers us a window into the medieval world, and the minds of those who created it". (Oferece-nos uma janela para o mundo medieval e para as mentes de quem o criou)
   São vários os suportes onde encontramos simbolos religiosos passo a referir alguns onde são mais frequentes. Nas estelas funerárias e aqui destacamos a colecção que se encontra no Forte de Évoramonte, onde estão perto de 100 estelas discóides em mármore da idade média com vários simbolos. Nos templos encontramos a visível simbologia oficial, em relevos e frescos, e mais escondido o Graffiti, principalmente nas entradas, portas, adros e bancos. Nas muralhas e seteiras das fortificações também podemos encontrarmos muitos simbolos Grafitados. A fortaleza de Vila Viçosa bate todos os recordes com largas centenas de simbolos e várias cenas. Pedidos ou agradecimentos aos deuses com muitos antropomorfos. Nos artefactos destacamos as "Cornas" que são cornos de vaca trabalhados e usados como recipientes. A colecção "António Carmelo Aires" tem "Cornas" de uma grande riqueza simbólica. Neste post vamos tratar de simbolos apotropaicos que podemos encontrar no exterior da casa alentejana. O mundo dos artefactos ficará para uma próxima oportunidade. Mas se puserem uma "Pedra de Raio", um machado de pedra polida, na chaminé parece que a casa fica protegida contra relâmpagos. 
   Nos próximos parágrafos vamos descrever alguns simbolos. Queremos destacar a continuidade de toda esta tradição na casa alentejana. A maioria das pessoas continuam a repintar os simbolos quando "lavam as casas". Também os usam como decoração nas suas novas habitações. A maior parte desta gente pode até ter esquecido o nome dos simbolos mas certamente conhece a sua  função apotropaica, a protecção contra o mal que oferecem. Um caminho para esta investigação é inquirir quem usa esta simbologia. Um processo que leva tempo pois temos que ganhar a confiança das pessoas. É esta a minha desculpa para passar tanto tempo nos bares e cafés da Aldeia.....pesquisa. Esta continuidade é importante pois permite um regressar ao passado. As preocupações e necessidades do Homem sempre foram as mesmas. 
   Consideramos estes simbolos como religiosos, como uma ponte para comunicar com os deuses. Podendo ser apotropaicos, para afastar o mal ou para pedir algo aos deuses. O mesmo símbolo pode desempenhar as duas funções que se confundem. Colocar um pentagrama à porta para impedir a entrada do mal é também pedir a protecção divina. Não deixa de ser interessante que os mesmos símbolos surjam em diferentes religiões. Nas religiões do livro não é de estranhar, diferentes religiões que vão adoptando os mesmos símbolos mesmo que o significado possa ser diferente. Quando são religiões distantes no tempo e no espaço já dá que  pensar. Com tantos símbolos possíveis como é que encontramos tantas vezes os mesmos, muitas vezes associados. Por vezes em formas que não podem ser imaginadas, por serem tão elaboradas, em dois lugares diferentes. A frequência com que os mesmos simbolos surgem não pode ser coincidência. Leva-nos a procurar algo comum a toda humanidade. Quando a Arte e Ciência se confundiam com Magia e Religião. Na Figura 1 apresentamos o nome dos símbolos que surgem ao longo deste post. 

Figura 1 
1 - Cruz Grega, 2 - Cruz Latina sobre Crescente, 3 - Cruz de Âncora, 4 - Cruz Lancelada, 5 - Cruz da Ordem de Cristo, 6 - Cruz Aguçada, 7 - Cruz Ponteaguda I, 8 - Cruz Ponteaguda II (perto do Losango), 9 - Cruz Latina, 10 - Cruz de S Filipe ou Nórdica, 11 - Cruz de S. Pedro, 12 - Cruz Patriarcal, 13 - Cruz Embolada, 14 - Cruz Irradiada, 15 - Cruz Mista, 16 - Cruz do Calvário, 17 - Cruz do Rosário (?), 18 - Avé Maria (Antropomorfico), 19 - Virgem das Virgens I ("Virgo Virginum"), 20 - Virgem das Virgens II (invertido), 21 - Sagrado Coração, 22 - Cálice....40 - Circulo I (Disco Solar ou Circunferência), 41 - Circulo Concêntrico Duplo, 42 - Circulo Concêntrico Triplo (o número de circulos concêntricos pode ir até doze), 43 - Cruz Solar (não sabemos se realmente representa o Sol), 44 - Cruz de Santo André I (Sautor ou "Decussata"), 45 - Cruz de Santo André, 46 - Cinco Chagas de Cristo, 47 - Espiral, 48 - Espiral Dupla (ou Voluta), 49 - Roda Solar (número de braços varia, não deve ser um simbolo solar mas sim uma suástica), 50 - Suástica Gironada Arredondada, 51 - Cruz Rodeada, 52 - Cruz Rodeada e Boleada, 53 - Nove Pontos Rodeados, 54 - Roseta Hexapétala dentro de circulo I (Roseta Hexafólia, "Daisy Wheel" em Inglês, os simbolos surgem por vezes dentro de um ou vários circulos, um reforço do poder do simbolo ou uma associação ao Sol), 55 - Roseta Hexapétala, 56 - Semente da Vida, 57 - Flor da Vida (rede de Hexapétalas), 58 - Crismon (Cristograma ou Chi Rho), 59 - Roseta Quadripétala, 60 - Roseta Tripétala (Triquera?), 61 - Flor de Lotus (ou Flor de Lis?), 62 - Roseta Hexapétala dentro de Circulo II (Esquemática), 63 - Roseta Hexapétala II (Esquemática), 64 - Roseta Hexapétala Boleada (Esquemática), 65 - Sete Pontos,....80 - Quadrado, 81 - Alquerque do Nove (Alquerque quer dizer "o Jogo" em arábico mas são também simbolos), 82 - Alquerque dos Nove e dos Três, 84 - Alquerque dos Nove com Suástica Gironada, 85 - Alquerque dos Nove (escondendo uma Suástica?), Quadrado com Cruz I, 86 - Quadrado Mágico 3x3, 87 - Quadrado Mágico 4x4, 88 - Quadrado sobre rectângulo (forma de Tau?), 89 - Quadrado com Cruz II, 90 - Quadrados Cruzados, 91 - Quadrados Cruzados com Suastica Gironada (formam também Triângulos Duplos muito comuns nos mosaicos de periodo romano), 92 - Alquerque dos Três (da categoria de "Jogos do Moinho", porque representa as velas de um moinho na sua forma de Suástica Gironada; da categoria "Morris" no Norte da Europa, em Coreano "Nori" que quer dizer "o Jogo", jogado no inicio do ano de forma auspiciosa; também chamado de "Jogo do Homem"), 93 - Alquerque dos Doze, 94 - Alquerque dos Doze na forma de Suásticas Gironadas, 95 - Alquerque dos Doze com uma Suástica Gironada, 96 - Pontos do Alquerque dos Doze I (ou covinhas), 97 - Pontos do Alquerque dos Doze II, 98 - Alquerque dos Três Lancelado (ou dentro de Quadrado), 99 - Alquerque do Três Duplo , 100 - Pontos do Alquerque dos Três Duplo, 101 - Alquerque dos Três em Cruz (o "Jogo do Assalto" da Majora), 102 - Alquerque com um Castelo (o Castelo é a Montanha no Oriente), 103 - Alquerque com dois Castelos, 104 - Suástica Gironada Quadrangular (está na Bandeira da Cidade de Lisboa, logo em todos os Concelhos de Portugal e ....Ceuta), 105 - Nove Pontos ("Nine Holes" no Norte da Europa; "Pai, Mãe e Filho" na Galiza), 106 - Nove pontos escondendo uma Suástica (este simbolo pode estar ligado ao "Navagraha" Hindu), 107 - Rosa Camuna I, 108 - Rosa Camuna II (semelhante ao Lauburu), 109 - Cruz Gamada (a Suástica mais conhecida por tristes razões), 110 - Lauburu (as "Quatro Cabeças" no Pais Basco), 111 - Suástica de Braços Curvos, 112 - Suástica Flamejante (o número de braços varia), 113 - Nó de Salomão I (assume vários nomes no Norte da Europa entre eles "Looped Square", vários simbolos podem por vezes assumir a forma de "Nó", damos como exemplo o simbolo nº142), 114 - Nó de Salomão II (Suástica do Alto Minho?), 115 - Nó de Salomão III escondendo Cruz Gamada......130 - Triângulo, 131 - Triângulo Invertido, 132 - Duplo Triângulo, 133 - Losango, 134 - Losango Cruzado com Pontos, 135 - Losangos Concêntricos (variam em número), 136 - Losango com Olho, 137 - Losango Horizontal, 138 - Crescente I , 139 - Crescente II, 140 - Quadrifolio (podem ser Quatro Crescentes), 141 - Rub el-Hizb ("Khatim" para o Islão, Estrela de Lakshmi para o Hinduismo; Estrela Tartéssica?), 142 - Rub el-Hizb em forma de Nó, 143 - Octagrama ("Auseklis" no Norte da Europa, "Gunelve" em Mapuche, Estrela de Ishtar na Suméria, é também um Cruciforme), 144 - Pentagrama (Pentalfa, ou Selo de Salomão, ou Anel de Salomão, em latim "Signum Salomonis", popularmente conhecido como "Sino Saimão" e vários outros nomes derivados; "Drudenfuss" na Alemanha), 145 - Pentagrama com Pontos, 146 - Hexagrama (Escudo de David, "Magen David" em Hebraico, "Anahata" no Hinduísmo), 147 - Hexagrama com Pontos 


Figura 2 -  A nossa "Tabela Periódica" de símbolos:
A Azul os símbolos ligados ao Cristianismo.
A Amarelo os símbolos solares que tiveram continuidade com o Cristianismo.
A Rosa os Alquerques considerados durante muito tempo como tabuleiros de jogo são também simbolos provavelmente Suásticas Gironadas.
A Laranja as Suásticas que representam o movimento do Universo, a Ordem.
A Verde os simbolos ligados à Lua e às Estrelas que trazem a manhã. Continuam a ser usados no Norte de África, ligados aos Berberes e ao Islão.
São todos símbolos religiosos, um meio de comunicar com os Deuses. Para afastar o mal, para trazer a sorte, para pedir ou agradecer algo. 
Nesta Tabela temos também Redes e Nós para "apanhar" o mal.
Uma tabela sempre em construção, baseada em "casos reais", na forma, na possível função, na possível cronologia e nos locais onde surgem os diversos simbolos. 
Ainda procuramos enquadramento para os Nós, as Espirais, os Quadrados Mágicos, as Flores esquemáticas e outros símbolos que encontram sem cor na nossa "Tabela Periódica".


Figura 3 - Apresentamos alguns simbolos que nos chegam, pelo menos, desde a Idade do Ferro. A linha preta mostra o seu uso enquanto simbolo religioso "oficial", sancionado pelo Estado-Igreja enquanto simbolo religioso. A linha azul mostra a passagem do "oficial" para outros usos. Todos continuaram na religião "Popular". Apesar de Igreja já não os reconhecer o povo continuou a usá-los. Continuou a usá-los em rituais não reconhecidos pela Igreja. Estes rituais pagãos, por vezes, escondem-se em rezas e simbolos cristãos "oficiais". Um destes rituais é precisamente o tema deste post - a protecção do lar contra o mal. 
A Roseta Hexapétala continua a ser sancionada pela Igreja Católica até aos nossos dias. Um importante simbolo solar que representa Jesus enquanto o Sol e a luz. A maior luta do Cristianismo foi precisamente contra os outros monoteísmos solares. Maria assumiu o papel das Deusas da Lua. Os mais de 1000 nomes de Maria como diz Moisés Espírito Santo. 
O Pentagrama foi usado pela Igreja Católica até à Idade Média a partir daí passou para a religião "popular". Hoje o "Sino Saimão" é um dos simbolos com mais "força" no Alentejo. 
Os outros simbolos mais ligados ao Islamismo quase desapareceram. O Octagrama, o Hexagrama e o Crescente são todos usados na religião "popular" mas pouco frequentes. O Octagrama teve uma notável sobrevivência nas Artes da Olaria e na Tapeçaria. Artesãos de fé islâmica? 
Os Alquerques passaram a jogos provavelmente com o Islamismo. Alquerque quer mesmo dizer "o jogo" em arábico. Afonso X no século XIII deu uma ajuda a transformar os Alquerques em jogos. Hoje continuamos a considerá-los meros tabuleiros de jogo. O Alquerque dos Nove foi lentamente desaparecendo e é muito raro no Sul de Portugal. O Alquerque dos Três enquanto simbolo, provavelmente uma Suástica Gironada, está por todo o lado. 
Vários outros simbolos continuaram "discretamente" a ser usados pelo Cristianismo. Simbolos associados a este ou aquele Santo. Temos o exemplo da Roda Solar que foi transformada na Roda de Tortura e associado a Santa Catarina. Claro que tudo isto são hipóteses agora...... temos que prová-las. 


3 - Simbolos Apotropaicos 


   Apotropaico na sua definição simples, com a origem no Grego que dizer "para afastar o mal". José Luis Olmo Berrocal brindou-nos com uma definição mais elaborada a quem agradecemos: 
   "Efecto apotropaico es un término antropológico para describir un fenómeno cultural que se expresa como mecanismo de defensa mágico o sobrenatural evidenciado en determinados actos, rituales, objetos o frases formularias, consistente en alejar el mal o protegerse de él, de los malos espíritus o una acción mágica maligna en particular, purificándose (catarsis) con este rito u objeto ritual. 
   El término deriva del verbo griego αποτρέπειν (apotrépein ‘alejarse’), y se relaciona fundamentalmente con la necesidad psicológica de hallar cierta seguridad ante lo incierto y desconocido, lo que comúnmente se relaciona con lo peligroso y posiblemente dañino. Es común que en el orden lingüístico e idiomático esto se refleje haciendo juegos de palabras, circunloquios, perífrasis o eufemismos a fin de evitar ciertas palabras, especialmente las consideradas tabú."
   A "Norfolk Medieval Graffiti Survey" tem reunido vários levantamentos do Graffiti em igrejas do Reino Unido e acerca dos vários simbolos que vão encontrando refere no seu site:
  "Apotropaic: a symbol, marking or object believed to have the power to ward off evil or harmful spirits. 
   At the present time we believe that the vast majority of these designs acted as ‘ritual protection’ (apotropaic) markings. There is no simple explanation of the form and function of apotropaic markings. At their most basic level they could be seen as bringing luck and protecting individuals from evil or malign influence. At a more complex quasi-theological level they were designed to trap the demons that roamed the world within their complex structure, quite literally pinning them to the walls
   In the very simplest of general terms these markings are believed to turn away, or ward off, evil. Apotropaic markings in general are often thought of as acting as a form of sympathetic magic, where, for example, the ritual scorching of newly built timbers would subsequently protect the building from fire and lightning strikes; quite literally ‘fighting fire with fire’. However, whilst some ritual protection markings found in medieval churches may follow this form, the vast majority appear to be derived from a more complex system of beliefs. They can be considered to be the physical manifestations of a system of belief that thought in multiple layers of spiritual defence; essentially each symbol can be considered a protective marking that operated in addition to, but not separate from, the prayers of the medieval church." 
  Charles Fairey acrescenta acerca de simbolos e figuras apotropaicas em casas comuns: 
  "Carvings upon Buildings - Like the apotropaic carved guardians upon churches, houses and other secular buildings also have protective devices, either carved in stone or in the majority wood. Like those upon churches they appear in a range of forms, from grotesques and green men, like on churches, to figures, faces, mythological beasts, animals, symbols, plants, flowers, and floral patterns. Each has a meaning, which in its symbolism protects the occupants of the house from evil influences, in the outdoor world, from visitors of either this world or another, and like churches, they often appear near entrances, openings, or by chimneys / fireplaces. Some also serve as good luck practices, to give the occupiers prosperity, etc. The eyes of human, mythological representations of man or beast or animal, as an apotropaic device, further reinforce protection from the most prevalent of themes throughout world cultures, that of the ‘Evil Eye’, the blighting envious gaze. Whether day or night, these protective carvings, and their eternal watchful eyes, defend the occupiers and ward off the malevolence of the Evil Eye’s gaze." (Fairey 2018).



3.1 - Alguns Testemunhos 

   Muito obrigado ao nosso vizinho Correia Manuel que descreve a tradição aqui no Concelho de Alandroal:
   " Ainda me recordo de ouvir que as pessoas tinham muito medo de feiticeiras e parentes. Tentavam proteger tudo o que era seu com símbolos, cruzes e outros, que as bruxas lhes ensinavam. Tudo o que corria mal na vida, doença, morte de animais, a culpa era das feiticeiras. Além das pessoas serem portadoras de objectos com símbolos também os desenhavam em casa, cabanas, chiqueiros, etc. Ainda vi alguns."
   
   O Vítor Rafael Sousa, a quem agradecemos toda a informação que nos tem enviado, partilhou connosco esta descrição em Alvarinhos no Ribatejo:
   "O tipo de construção e arranjo exterior é o mesmo de sempre, mas o pátio de entrada merece que nos detenhamos um pouco. Repare o visitante na vedação desse anexo desta casa saloia. Em vez de muro o seu limite é feito por grandes lages colocadas a pino. Note os sinais cruciformes pintados a cal nessas lages. Há muitos anos que conhecemos Alvarinhos e garantimos que sempre aqui vimos essa figuras. A sua caiação é renovada como agora o foi, mas hoje como ontem o artista caiador teve o cuidado de não lhes alterar a forma. "Servem para afugentar as bruxas ou o diabo", assim nos afirmam no lugarejo, mas o visitante que é bom observador notou já que, na povoação que antecede esta escassos quilómetros, começavam a aparecer esses sinais cruciformes por paredes e de casas e muros." 

   O Sal que tem propriedades apotropaicas, quem não conhece o ritual de jogar sal por cima do ombro. No Japão é costume pôr sal na soleira da porta depois de alguém não desejado ter saído. Luciano Pereira partilha esta reza connosco que usa o sal:
   "Em terras de Miranda considera-se que o mau-olhado deriva da inveja dos que não nos querem bem e nos querem ver mal na vida. É uma espécie de maldição, até involuntária rogada a pessoas ou bens: 
Entre quem há de entrar pela porta dentro 
Saia quem há de sair pela porta fora 
Entre Jesus Cristo pela porta dentro 
E saia o diabo pela porta fora 
Depois de rezar coloca sal nos cantos da casa fazendo uma cruz à porta de entrada."


3.2 - A Cruz

  Pedro Javier Cruz Sanchez em relação ao uso da Cruz na arquitectura popular esclarece: 
  "En todos los casos parece que existe común acuerdo para asegurar que la cruz cuando comparece en determinados espacios de la casa –puertas, ventanas, chimenea, portones, postigos-, funciona como un detente contra la entrada del mal, entendido como el demonio, las brujas, las tormentas o cualquier otro fenómeno de la naturaleza perniciosa (putaciegas, rayos, granizo, etc.) o, simplemente, lo desconocido. En una sociedad en la que la asistencia médica era nula y los avances técnicos inexistentes, se hacía necesaria la superstición como posible solución a eventuales problemas.... La cruz como detente se muestra como un símbolo omnipresente en la arquitectura popular. Ya San Isidoro dejaba sentado el hecho de que la casa se erigía poco menos que en un espacio sagrado, inviolable, en el que personas, animales y enseres se encontraban convenientemente protegidos. No obstante, aquellos no lo estaban totalmente frente a lo desconocido, bien sean las inclemencias meteorológicas o lo ignoto, casi siempre encarnado en el mal y en sus infinitas manifestaciones y que la tradición popular ha personalizado habitualmente en demonios o en brujas, pero también en ánimas, en culebrones, fantasmas o toda una larga lista de seres intangibles.
   La mejor manera de luchar contra estos elementos externos desconocidos fue el acompañarse de toda una extensa panoplia de símbolos mágico-protectores –hexapétalas, figuras de gallos, cruces– que la tradición ha colocado como inefables detentes. Se da en el mundo de las creencias populares, en palabras de Mircea Eliade (1994), una especie de hierofanía, esto es una manifestación de la divinidad, que lo hace desde distintas perspectivas, como arma represiva de lo irracional. El hombre tradicional tratará de cargar de racionalidad lo irracional, por medio de leyendas, mitos, creencias y prácticas de las que, en prácticamente todos los casos, aparece el símbolo protector por excelencia -la cruz-, acompañada de otros símbolos que, aunque nacidos de diferentes tradiciones, a veces profanas, aparecen capitalizadas y asumidas por la cultura cristiana imperante. Es así como la cruz, como símbolo protector, como espantademonios o espantabrujas (Cea, 2005), aparece profusamente en la arquitectura vernácula desde la Edad Media hasta nuestros días, corriendo su desarrollo iconográfico parejo al de la arquitectura culta, con la cual van casi de la mano y con la que comparten así mismo, posibles significados. El símbolo de la cruz se encuentra a priori en aquellos espacios o partes del edificio por donde, tal y como es creencia popular generalizada, puede penetrar el mal. Así es como en puertas, ventanas, portones, chimeneas u otro tipo de aberturas, encontramos por lo común una o más cruces. En Galicia, por ejemplo, las cruces trazadas en las jambas de las puertas son símbolos contra las brujas (Llinares, 1991)." (Cruz Sanchez 2012, p317 e 318).
   A Cruz é tão antiga como a humanidade. A Cruz Grega ou a Cruz de Santo André na simplicidade das suas formas surgem há milénios. Na Ásia e Médio Oriente são vários os tipos de suportes onde podemos encontrar a Cruz anterior ao Cristianismo. O seu significado perdeu-se nos tempos, de uma letra num alfabeto a um símbolo religioso, são várias as hipóteses que se complementam. A cruz tornou-se o símbolo do cristianismo e é como tal que a identificamos hoje nas suas 385 formas. As Cruzes estão por todo o lado em território português onde a população é 80% católica. Conhecemos a origem de muitas destas Cruzes por exemplo as Cruzes associadas a ordens militares. Mas não vamos falar das Cruzes ligadas à religião "Oficial", à religião imposta pelo Estado e pela Igreja. Vamos procurar as Cruzes ligadas a uma religião "Popular". Aquelas que não são sancionadas pela Igreja e que escondem rituais antigos. Cruzes "escondidas" em grafitos nas ombreiras de portas ou janelas ou pintadas nas chaminés para todos verem. 

Figura 4 - Em (1) encontramos a Cruz sacralizando sítios com milénios na Arte Rupestre do Vale do Côa (foto de Zilhão 1997). Em (2) temos a alminha mais bonita mas também a mais triste que conhecemos. As "Quatro Cruzes" em Vila Viçosa, foi-nos apresentada pelo Luís Martins e relata o assassinato de uma família inteira. Em (3) e (4) temos os Cruzeiros que encontramos em frente de Templos ou marcando os Passos da Via Sacra. O Cruzeiro da Ermida de S. Sebastião em Monsaraz (4) é muito interessante pois tem o Grafito de uma.....Cruz. Uma descoberta do Carlos Dias que teve a amabilidade de partilhar connosco. O Grafito vem acrescentar algo ao próprio Cruzeiro, um pedido, um agradecimento, algo pessoal. Em (5) encontramos um marco de propriedade nas ladeiras medievais de Monsaraz protegido por uma Cruz. Em (6 e 7) vemos as Cruzes "oficiais" protegendo portas e portões. 


3.3 - O Pentagrama

   Continuamos a nossa pesquisa bibliográfica com o Mestre Leite de Vasconcelos que descreve vários símbolos no "Signum Salomonis" (1918). Podem encontrar esta obra de referência AQUI. Encontramos em destaque e em maior número de exemplos o Selo de Salomão, popularmente conhecido por Sino Saimão, o nosso Pentagrama. Descreve também o Hexagrama, o Octagrama (o Sino Saimão Dobrado), o Nó de Salomão, as Cinco Chagas de Cristo, na forma de tatuagens, a Mão de Fátima e a Figa entre outros. Deixamos algumas passagens em que o Pentagrama e o Hexagrama surgem com função apotropaica na casa:
   "Lembrarei algumas superstições modernas. Os Muçulmanos livram-se do mau-olhado, pintando o pentalfa nas casas e os do Norte de África fazem uso d'ele em quadros e fórmulas mágicas. (p210)
   ....No Fausto....O pentalfa chame-se em alemão Drudenfuss, isto é, "pé de Drude", como quem dissesse em português "pé de Bruxa". A popularidade que o Poeta deixa entrever, continua hoje na Alemanha. O Drudenfuss livra de bruxedo, e pintam-no frequentemente nas portas, nos leitos, etc, contra isso e contra o pesadelo. (p225)
  ....há um vampiro que entra em várias casa, excepto uma em cuja porta, na soleira, está um pentalfa....(p227)
   ...Na ilha de Rodes.....O pentagrama figura em pedras funerárias, e igualmente o traçam na porta de uma casa construída de novo: isto sem dúvida, para afastar o mal.(p228)
   ...Protector do individuo, e dos objectos de que ele se utiliza, ou que pousam nos pescoço e no dorso de animais que lhe fazem serviço, também naturalmente protege a cama em que se dorme, a casa de habitação, ou qualquer edificio em que permaneça. Estive uma vez (1918) numa abegoaria do Concelho de Óbidos, e observei que na cabeceira da tarimba, em que o abegão dormia, estava talhado um sino-saimão. Em 1894 vi na Cova de Lavos uma casa que tinha o sino-saimão pintado em quasi todas as portas: a dona, segundo me informaram, era muito supersticiosa. Em Guifões (arredores de Leça da Palmeira) vi noutra ocasião um sanselimou (assim se pronuncia por lá) feito de tinta branca, em uma porta, vid. fig.141; na mesma porta estavam pregadas mais duas ferraduras, mas sós. Não há dúvida que em ambos estes casos o pentalfa desempenhava o seu papel profilatico....
   ...No Museu de Faro existe uma pedra...a qual tem esculpida duas cruzes-de-cristo (uma acima da outra), e gravado superiormente a ambas um sino-saimão........e parece que parte de um peitoril de uma janela....no que me confirmou um pedreiro que consultei.....
   ...Eis outros empregos do pentalfa cuja explicação pode caber aqui: ele está gravado numa pedra do chão , à entrada de uma das portas do Castelo de Linhares (Beira-Baixa), à direita - como observei em 1910 (sino-saimão simples); e igualmente num penedo de Castelo de Piconha, próximo de Tourém (Montalegre)" (p241 e 242).

   O Pentagrama ou Pentalfa foi uma letra na Mesopotâmia e surge em moedas milenares na Índia. Foi usado por Pitágoras e pela sua Escola na antiga Grécia. Reúne em si Astrologia, Geometria e Religião num mundo em que ainda se confundiam. Associado às estrelas da manhã, como Vénus, que "trazem" a luz na madrugada e depois desaparecem para o submundo. Vem daqui a sua ligação a  Lucifér, aquele que trazia a luz e foi transformado no Diabo pelo Cristianismo. O Pentagrama representa os cinco sentidos ou as cinco chagas de Cristo, uma mão ou uma pegada e até o corpo humano. Enquanto estrela está representado em inúmeras bandeiras e quase sempre associado a movimentos politicos. Para as religiões do livro ganhou o nome de "Selo de Salomão", em latim "Signum Salomonis", que passou a "Sino Saimão", com inúmeras variantes, na gíria popular. O "Sino Saimão" aparece nos mais variados suportes pelo nosso Alentejo assumindo uma função apotropaica. Parece ter sido usado com esta função apotropaica pelo Cristianismo. Damos vários exemplos na Figura 5. A partir do fim da Idade Média deixa de aparecer pelo menos "oficialmente". Aqui na raia alentejana ainda é um símbolo com "força" e faz parte de um amuleto usado por muitos alentejanos. Este amuleto é constituído pelo Pentagrama, a Figa, o Crescente e o Corno. 


Figura 5 - Apresentamos várias representações "oficiais" do Pentagrama em vários templos do Alentejo. Em (1) na Igreja de S Pedro em Évoramonte. Em (2) na Igreja de Nossa Senhora da Anunciação em Viana do Alentejo protegendo a pedra de fecho de uma das abóbodas. Em (3) protegendo uma porta da Igreja de Santa Maria, o Museu Municipal de Marvão. Em (4) protegendo uma porta na Igreja de Nossa Senhora de Loreto em Juromenha. Em (5) ,noutra pedra de fecho, no Palacete onde se localiza a Direcção Regional de Cultura do Alentejo. Em (6) num óculo da Sé de Évora.

   Acerca do Pentagrama não podia faltar a opinião de um grande investigador dos nossos símbolos o Fernando Coimbra:
   "Through the examples presented in this article, it can be noticed that the pentagram in rock art can have more than one meanning: sometimes it’s associated with images of divinities, having this way an apotropaic character, that happens also when the symbol is carved near astral bodies; in other cases, it appears together with the depiction of warriors and weappons, having a protective role in war; later, in the Middle Ages is used against evil and also as a good-luck charm. The presence of this symbol on several artefacts and monuments shows a surprising survival since prehistory untill the present days. In a general way it’ s used as a protective sign but has also, sometimes, an apotropaic character. That’s what happens, for example, among Christianism where the pentagram was a symbol during the first centuries of this doctrine and must have been adopted from pagan times.  The connection of the pentagram with religion seems to be a tradition with prehistoric roots that survives untill very late, “officially” at least untill the middle Ages. For example, in this period, it appears in a very large number, on funerary tombstones and also in some medieval churches...." (Coimbra 2008).


Figura  6 - Apresentamos o Pentagrama em vários suportes. Em (1) encontramos o Pentagrama na sua função apotropaica em várias embarcações de Setúbal. Este Pentagrama representa a Nossa Senhora dos Navegantes a protectora dos perigos do mar e rios. Tão importante que foi para os nossos navegadores e tão importante que é para os nossos pescadores. Em (2) temos botões com Pentagramas. Descoberta do Joaquin Larios Cuello a quem agradecemos. O grande descobridor das últimas gravuras de Arte Rupestre do Guadiana no Concelho de Elvas. Acerca destas gravuras nada foi feito, ninguém quer saber, lá ficaram a ser pisadas pelas vacas. Em (3) o Pentagrama protege a subida para um Coche no Museu da Fundação Eugénio de Almeida em Évora. Em (4) temos a Pia Baptismal na Charola do Convento de Cristo em Tomar. Na parede por cima desta Pia encontramos vários Cruciformes. Debaixo dela, escondido, está um espectacular Pentagrama. Belo exemplo de Religião "oficial" e Religião "popular". Em (5) o Brasão de Viana do Alentejo com dois Pentagramas que agora passaram a ser Hexagramas (?). Em (6) um, de vários, Pentagramas na Arte Rupestre do Guadiana (desenho retirado de Baptista, 2013). Em (7) damos um salto ao Algarvee visitamos os banhos islâmicos de Loulé. Aqui encontramos um belo Pentagrama em relevo numa das colunas. 


   Rodriguez Perez (2014) em relação ao Pentagrama, ao número cinco e ao Islão:
   "También la pentalfa o estrella de cinco puntas tiene también especial valor en el Islam, siendo el cinco una cifra con valores benéficos y profilácticos. Al margen de sus simbolismos generales, son cinco los “pilares” del Islam, las oraciones diarias, la parte proporcional del azaque y del botín que ha de ser entregado al Estado, las generaciones que mantienen vigente la venganza tribal, los camellos de la diya o “precio de la sangre”, los dedos de la mano o las letras en grafía consonántica árabe del nombre del Profeta38. Todo esto le confiere un gran valor como protección y es por ello muy utilizado no solo en amuletos, sino en todo tipo de soportes." (p69).


Figura 7 - Nesta Figura observamos uma grande concentração de Pentagramas em apenas alguns metros da muralha medieval de Vila Viçosa. Por vezes estas concentrações surgem em portas desempenhando uma função claramente apotropaica. Neste caso será um ritual que desconhecemos, provavelmente funcionam como votos ou ex-votos, pedindo ou agradecendo algo aos deuses. Esta situação faz lembrar a concentração de Alquerques que encontramos em alguns afloramentos rochosos. Rituais do mundo natural que tiveram continuidade no espaço urbano. 


3.4 - O Hexagrama

   Mais testemunhos de Leite de Vasconcelos (1918) agora em relação ao Hexagrama:
   "Também na Igreja paroquial de Duas-Igrejas (Miranda do Douro) se pintou duplamente um hexalfa, não sei com que intuito, numa parede, á esquerda de quem entra pela porta principal: vid fig 189. Está ai associado à cruz. (p251)
   .....que o hexalfa tem nos Açores também o nome de são-selimão, e afugenta influencias diabólicas, maleficios, mau olhado, e acção do tanglo-mango.....
   ...No Brasil, para onde grande parte das tradições populares que lá existem foi de Portugal, dizem que é bom , para evitar que as Bruxas e as Carochas ataquem as crianças, traçar um hexalfa no quarto em que estas dorme." (p253).

   O Hexagrama, "Magen David" ou Escudo de David é muito confundido com o Pentagrama e frequentemente associado à religião judaica. Estes símbolos, muitas vezes descritos como estrelas ou estreliformes, foram usados por várias religiões como símbolos religiosos. Não podemos associar nenhum deles a uma religião específica. O Hexagrama foi adoptado pelos Zionistas no fim do século XIX e passou a figurar na Bandeira do Estado de Israel já no século XX. É um símbolo com raízes na Índia no Hinduísmo onde representa o equilíbrio. No Sudoeste asiático é usado em rituais de adivinhação. Surge também em livros de "magia" em hebraico e arábico. Por cá encontramos amuletos islâmicos da Idade Média com o Hexagrama na função apotropaica. Como o Pentagrama parece  ter sido usado pela Igreja, como símbolo "oficial",  até à Idade Média. No entanto no Alentejo surge em menor número que o Pentagrama ou o Octagrama. Podemos mesmo considerá-lo raro. 

Figura 8 - Em (1) o Hexagrama protege o Papa bordado na sua Mitra. Em (3) protege um pastor gravado na cortiça do seu Tarro. Do Papa ao Pastor. Em (2) encontra-se num óculo da Sé de Évora entre outros simbolos. Em (4) temos o Hexagrama num ladrilho Hispano-Mourisco da Arte Mudéjar. Podemos encontrá-lo na exposição no Castelo de S Jorge em Lisboa. Em (5) temos o Hexagrama esgrafitado no xisto de um balcão muito perto da Igreja de Santiago em Monsaraz. Aqui podemos ver a simplicidade da sua forma em que dois triângulos de cruzam. 

   O Casal Varela Gomes (1998) em relação ao Hexagrama, ao Islão e ao número seis:
  "O numero seis é, no Islão, considerado perfeito, correspondendo aos dias da criação do mundo. Os motivos estreliformes integrados em círculos ou contendo círculos, conforme acontece no presente caso, carregam a ideia de perfeição, conotada com a organização própria do Cosmos, portanto, contrária ao Caos, contendo o poder de esconjurar o mal nele gerado e, especificamente, a força capaz de anular os maus olhados (Chevalier e Cheerbrant, 1997, 203, 591). Idêntica função apotropaica deve ter a decoração da porta da mesquita al-Qarawiyyin de Fez, já referida." (p.146).

   Nas palavras de Rodriguez Perez (2014):
   "La estrella de seis puntas (hexalfa) formada por la intersección de dos triángulos equiláteros tiene una función profiláctica contra el mal de ojo, sobre todo si está rodeada de un círculo. Desde la Edad Media se le asocia al rey David y es asociada por muchos al Judaísmo, si bien es símbolo antiquísimo, el cual ya fue utilizado como ornamento y como protección mágica en objetos de las primeras civilizaciones de Mesopotamia e India." (p68).


3.5 - O Octagrama

   Outro símbolo que também surge na obra de Leite de Vasconcelos é o Octagrama. O autor chama-o de Sino Saimão Dobrado. O Octagrama no Norte de Europa chama-se Auseklis e está associado ao Deus que traz a manhã, muito interessante. A Sul encontramos o Octagrama na Arte Islâmica formando autênticas "redes" para afastar ou apanhar o mal. Aqui encontra-se associado a outro simbolo formado por dois quadrados "cruzados". Este simbolo também é uma estrela de oito pontas mas com o nome de Rub el Hizb. 
   Aqui pelo Alentejo encontramos muito o Octagrama protegendo tapeçarias e talhas. Este símbolo é também uma Cruz muito semelhante à Cruz Aguçada. Na sua forma mais simples o Octagrama é o "Jogo do Galo" que todos conhecemos. Quase todos os simbolos acabam por ser "jogados". Um exemplo é o Pentagrama que também é um "quebra-cabeças" (ver Figura 10). Abaixo vamos desenvolver o tema do Alquerque enquanto simbolo.


Figura  9 - Apresentamos o Octagrama protegendo várias Talhas alentejanas. É o símbolo que mais surge em Talhas. A primeira foto, do lado esquerdo, foi tirada no Museu Municipal de Estremoz. 


Figura 10 - Na imagem da esquerda temos o Octagrama enquanto Jogo do Galo numa jogada impossível. Apresentamos também o Pentagrama enquanto jogo ou quebra-cabeças, ao centro por Leite de Vasconcelos acompanhado de uma interessante e explicativa Décima e à direita nas Ilhas Canárias numa reconstrução de Espinel Cejas e Garcia Talavera-Casanas (2009, p116). 


Figura  11 - Em (1) apresentamos o Octagrama grafitado no Santuário dos Castelinhos no Alandroal. Aqui encontramos o Octagrama associado a um Pentagrama e protegendo um cavaleiro. Este Santuário apresenta larga diacronia mas pode ter grafitos da Idade do Ferro. Post em construção. Em (4) o Octagrama de novo na Arte Rupestre desta vez no Guadiana e de novo associado a vários símbolos: Navalhas, uma Foice, um Lauburo, as Cinco Chagas de Cristo entre outros (retirado de Baptista 2013). Em (2) encontramos um Octagrama num balcão da Aldeia das Hortinhas no Alandroal, fazendo parte de um conjunto de quatro que protegem um forno. Em (3) temos este simbolo num original oratório no cemitério da Aldeia da Granja em Mourão. Estes cemitérios da raia alentejana, a Sul, são de uma tradição provavelmente islâmica. Em (5) encontramos o Octagrama protegendo um óculo da Sé de Évora. Em (6) temos um Tarro bem protegido com o Octograma. Encontramos esta "Arte rural" em inúmeros artefactos do nosso Alentejo. Esta forma de Arte é a guardiã de um mundo antigo de rica simbologia. Vários simbolos foram deixando de ser usados noutros suportes, mas no Alentejo continuaram a ser desenhados na madeira e na cortiça até aos nossos dias. Hoje são por vezes descritos como meras decorações geométrica e vegetais, Estamos convencidos que quem os desenhou conhecia bem a sua função apotropaica. 


3.6 - A Roseta Hexapétala

  Acerca da Roseta Hexapétala encontramos no Blogue La Cantabria Burgalesa a descrição da sua função apotropaica e uso no lar :
   "También resurge la significación solar y protectora de la hexapétala sobre las casas particulares entre los siglos XVII y XX. Las hay talladas sobre dinteles de piedra o incluso de madera en puertas o ventanas, grabadas sobre el revestimiento exterior de las chimeneas, pintadas en las paredes, en aperos de labranza, muebles y otros objetos de uso común. . En algunos casos reaparecen como complemento representaciones lunares, repitiéndose el esquema ya observado más de un milenio atrás en las lápidas romanas.
   En este período histórico, parece que la hexapétala pasa a ser sobre todo un elemento de proteccion. Tiene el fin de combatir los aojamientos atribuidos a brujas, seres con un maligno poder en su forma de mirar -Los ojos eran considerados las ventanas del corazón- y que podían causar grandes estragos. Estas creencias convivían con otras acerca de seres mitológicos portadores del mal, medio animales, medio humanos, que podían presentarse repentinamente en cualquier momento y lugar, y de los que convenía estar adecuadamente protegidos. Protección contra los espíritus nocturnos: el poder de disipar las tinieblas reside también en la imagen de la luz. Las brujas y espíritus negativos encuentran su mejor acogida en el espacio nocturno; así, colocando el sol en la chimenea, su luz desplaza las tinieblas y, consiguientemente, mantiene alejados a estos jinetes de la noche. Analizado de esta manera, su significado no ha cambiado tanto después de 2000 años. Además, tanto chimeneas como puertas y ventanas son aberturas que comunican el mundo interior, privado y protegido de la casa con el exterior."


   A Roseta Hexapétala é o segundo símbolo que mais surge "oficialmente" logo depois da Cruz e foi usado até aos nossos dias, nos mais variados suportes e à vista de todos. No estudo das chaminés alentejanas encontramos a Cruz como simbolo mais frequente, pois surge em quase 70% das chaminés com simbolos apotropaicos. A Hexapétala é o segundo simbolo mais frequente surgindo em 25% das chaminés. 
No Grupo "Grafitti e Simbolos" do Facebook vamos encontrando muitas partilhas de edifícios modernos e contemporâneos protegidos pela Hexapétala. Pensamos que este simbolo milenar possa representar o Sol. Em época romana encontramos muitas Hexapetalas associadas a Crescentes. Esta associação continuou na Arte religiosa cristã, nos frescos das ermidas alentejanas encontramos sempre o Sol e a Lua. 
   A Hexapétala também representa uma flor e são vários os motivos florais com funções apotropaicas. O Cardo  é colocado nas portas com funções apotropaicas e representando o Sol (ver Figura 215). A Flor de Lótus surge por vezes associada à Mão de Fátima e está por todo o lado. Teve continuidade no Europa com a Flor de Lis. Esta flor de Lotus representa o renascer anual e podemos encontrá-la em grafitos protegendo portas. 
   A Hexapétala é um símbolo complexo desenhado a compasso. Forma por vezes composições mais elaboradas. Encontramos a Semente da Vida em muitas chaminés. Várias Hexapétalas unidas formam a Flor da Vida. Esta faz uma "rede" apotropaica, agarrando ou impedindo o mal de passar. Encontramos esta "rede de protecção" riscada nas portas de madeira da Sé de Évora. O famoso "Programa da Cristina" da SIC também está protegido por um tapete que é uma Flor da Vida. O que provavelmente explica o sucesso de audiências (ver Figura 165). 


Figura 12 - Em (1) temos a Hexapétala guardando um Colmeal numa Herdade alentejana. Em (2) está talhada na cortiça de um Tarro. O "Tarro" era a lancheira do pastor, leve e isolado contra os elementos, aproveitando assim as características naturais da cortiça. Em (3) encontramos a Hexapétala na cabeça de uma "Cágueda". A "Cágueda" servia para prender a coleira onde se punham os chocalhos aos animais. Em (4) temos várias Hexapétalas numa "Corna". Estes cornos de vaca trabalhados serviam de recipientes. Encontramos "cornas" para levar as azeitonas, para levar a pólvora.... Os artefactos que encontramos no Alentejo rural são ricamente decorados. Esta decoração tem também uma função apotropaica. Encontramos muitas vezes os mesmos simbolos em diferentes artefactos. Estes simbolos têm paralelos em outros suportes onde também desempenham funções apotropaicas. As peças (2, 3 e 4) fazem parte da Colecção António Carmelo Aires organizada em exposição pelo Hugo Guerreiro a quem dou os parabéns pelo excelente trabalho. Em (5) encontramos a Hexapétala protegendo o Aqueduto de Évora. Neste Aqueduto encontramos vários símbolos, muito interessante. 

   Cruz Sanchez (2009) acerca da Hexapétala enquanto simbolo apotropaico apresenta a hipótese de esta ser uma representação solar:
   "Los vanos de la mayor parte de las casas contaron con sencillas decoraciones esgrafitadas que al tiempo que buscan un fin estético, se buscó un fin claramente profiláctico. Es lo que ocurre con los adornos en forma de flor hexapétala, que tradicionalmente interpretada como elemento protector d elos hogares, valor que hay buscar su origen, según algunos autores, en viejas creencias pre-cristanas. Estos motivos radiales se les han venido emparentando con representaciones solares, hecho que supone una antitesis de aquelles otras nocturnas, las cuales vetarian el acceso por ventanas y chimeneas a los habitantes de la noche."

Figura 13 - Em (1) encontramos a Roseta Hexapétala em estelas funerárias de período romano no Museu Nacional de Arqueologia. Aqui a Hexapétala encontra-se por vezes associada a crescentes. Em (2) damos um salto à Idade Média para encontrar a Hexapétala associada a Octagramas, Hexagramas e Pentagramas. Podem encontrar este espectacular conjunto de estelas funerárias em mármore no Forte de Évoramonte. Estes símbolos desempenham provavelmente a mesma função que os Crescentes. Os Crescentes foram desaparecendo do mundo Cristão provavelmente devido à sua associação ao mundo do Islão. O mesmo aconteceu com a Cruz sobre Crescente que acabou por se "transformar" numa Âncora. Este símbolo surge muito em grafitos sendo por vezes confundido com um barco.  Em (3) vemos estelas funerárias em Odrinhas e Alburquerque. Ambas estão grafitadas com Pentagramas que surgem já de forma marginal. Os Octagramas, Hexagramas e Pentagramas também acabaram por desaparecer do discurso decoratico-apotropaico oficial. Mas ainda estão por aí escondidas à vista de todos. 


Figura  14 - Nas três fotos de cima vemos a Roseta Hexapétala protegendo as portas da Aldeia de Santa Susana em Alcácer do Sal. Podemos observar o uso deste símbolo, na sua função apotropaica, até aos anos 50 do século XX e de forma "oficial". Nas fotos da fila de baixo temos três fotos onde encontramos a Hexapétala em edifícios modernos e contemporâneos e até num relógio de Sol. As fotos são do Vítor Rafael Sousa a quem agradecemos, Este investigador partilha muitos dos seu achados nas redes sociais. Um exemplo de partilha e de trabalho de equipa. Parabéns. 

   Ainda acerca da Hexafolia José Miguel Navarro López (2018)  acerca do Pirinéu Aragonés diz-nos: 
   "Representacion astral, muy común en todo el Pirineo, compuesta por una rosa hexapétala inscrita o no en un círculo. Colocada en dinteles, jambas o muebles, es un amuleto protector contra los malos espíritus y otros seres de la noche, ya que representa su enemigo secular; el sol u tro tipo de astro luminoso. 
Podría haber tenido también un simbolismo vegetal conlo que, además de su finalidad protectora, se le podriá adjudicar también una finalidad propiciatoria y fecundante." 

 
3.7 -  A Espiral

  A Espiral ou Voluta é uma forma que surge muito no mundo natural. Na sua forma mais simples surge desde a Pré-História na Arte Rupestre em vários afloramentos rochosos confundindo-se por vezes com os Circulo Concêntricos. Poderá representar o Sol ou um movimento eterno como no caso da Suástica. Alguns autores encontram na Espiral uma Cobra ou os Cornos de um Carneiro. Pode também ser um olho para afastar o mau-olhado como acontece com o Losango. A Espiral foi mesmo escolhida para o Logo do Centro Nacional de Arte Rupestre. 
A Espiral Dupla surge muito em cerâmicas ibéricas da Idade do Ferro. Em época clássica a Espiral Dupla continuou a ser muito usada na decoração-protecção arquitectónica. Vamos também encontrá-la no Apocalipse de Lorvão, de que falaremos mais abaixo, assumindo uma função apotropaica. Na mesma iluminura encontramos duas Espirais Duplas cruzadas formando uma Suástica. Encontramos esta forma de Suástica em cerâmicas estampilhadas da Idade do Ferro do Sul de Portugal. Muito interessante.   Hoje surge um pouco por todo o lado nos edifícios do Alentejo. Terá certamente a ver com o Neoclassicismo e aqui podemos incluir também a Roseta Hexapétala. No entanto o seu papel de símbolo religioso não deve ter sido esquecido pois surge frequentemente associada a símbolos apotropaicos. As espirais que guardam os portões do Alentejo são mais que uma mera decoração. Guardam a entrada para o mundo pessoal onde cada árvore, cada pedra e cada um tem o um lugar. 


Figura 15 - Em (1) temos a Espiral associada a um antropomorfo. Esta gravura foi escolhida para o Logo do Centro Nacional de Arte Rupestre. Gravura que infelizmente foi sacrificada a mais uma Barragem. Encontra-se no Cachão do Algarve (Arte Rupestre do Vale do Tejo, Vila Velha de Ródão). As palavras de Martinho Baptista acerca da gravura: "Na aliança entre o homem e a espiral se conjugavam as origens e a temporalidade da vida. A espiral é, mais do que o círculo, um símbolo do absoluto e do eterno retorno, onde tudo se contém e nada se conserva, onde tudo se transporta e transforma em perpétua reorganização." (retirado do Blogue "Da Finitude do Tempo"). Em (2) temos a Espiral no Santuário dos Castelinhos no Alandroal. Um Santuário que será provavelmente da Idade do Ferro.  Em (3) a Espiral guarda um Portão de S. Pedro do Corval em Reguengos de Monsaraz. Em (4) vamos encontrá-la numa peça de cerâmica no Museu do Barro de Redondo. Em (5) encontramos a Espiral num relevo onde uma cobra comendo um sapo (retirado do Blogue "Memória de Pez"). Em (6) temos a espiral no Apocalipse de Lorvão de que falaremos abaixo. Nesta iluminura vemos a Espiral Dupla e uma Suástica, construída com Espirais, associadas a outros símbolos no combate da "Besta". Em (7) encontramos os mesmos simbolos em cerâmicas estampilhadas da Idade do Ferro do Sul de Portugal (Arnaud e Gamito 1974-77). Em (8) encontramos vários tipos de Espirais decorando e protegendo cerâmicas ibéricas da Idade do Ferro. 


3.8 - A Suástica Lauburo 

   
   A Suástica ganhou má fama no mundo ocidental depois de ter sido usada pelos fascistas, na Alemanha, no princípio do século XX. No entanto este símbolo tem imensas variantes e é usado há milénios. Mesmo a Cruz Gamada, usada pelos nazis, encontra-se por todo o território português em vários monumentos. A Suástica já protegia o trono de Afonso X no século XIII como vamos ver abaixo. O nome "swastika" tem origem no Sânscrito e quer dizer "objecto de bem-estar". A suástica ainda é usada na Índia como um símbolo de protecção e sorte. Por cá temos vários tipos de Suásticas ganhando o nome pela forma ou região onde foram identificadas pela primeira vez. 
   Nas palavras de Freed e Freed (1980, p87): 
   "Know by a word derived from Sanskrit that means "object of well-being" the swastika is humanity´s oldest and nost widespread symbol of any complexity. The only constant interpretivefact about it is that it syymbolizes good luck....it probably first appeared in Western Asia in an area bounded by the Indus river, Mesopotamia, and the Hellespont in the fourth millenium..." 

Figura 16 - Apresentamos em (1 e 2) exemplos da Suástica Rosa Camuna. O nome está vem da região onde foi identificada, pela primeira vez, no Val de Camonica em Itália. Em (3) temos esta Suástica gravada num elemento arquitectónico encontrado em Guifões (Matosinhos) da Idade do Ferro. Em (4) na Arte Rupestre do Guadiana associada a vários outros simbolos (retirado de Baptista 2013). Esta Suástica Rosa Camuna é muito semelhante a outra Suástica com o nome de Lauburu. O Lauburu é o um dos símbolos nacionais do País Basco. Surge nesta região nos mais variados suportes. Lauburu em "Euskera" quer dizer "Quatro Cabeças". Agora não sei como é que vamos dizer aos Bascos que o Alentejo também está cheio de Lauburus. Encontramos este tipo de Suástica nas nossas chaminés, em portas, janelas, moinhos,etc 

   Os investigadores ainda discutem o que representa a Suástica. Tendo em conta as suas diferentes representações por esse mundo fora também pode ter os mais variados significados. Fernando Coimbra (1996), o especialista no tema das Suásticas, diz-nos acerca dos suportes onde surge:
   "Entre os simbolos pré-históricos a swastika é provavelmente aquele que teve uma maior sobrevivência......surge numa de vestígios de carácter arqueológico ou etnográfico, espalhados praticamente pelos quatro cantos do mundo. Assim encontramos swastikas em: cerâmicas diversas, arte rupestre, fibulas, aras, moedas, mosaicos, lápides funerárias, texteis, documentos escritos, 
mobiliário....." ( p32). 
   Quanto ao significado deste simbolo o mesmo autor explica: 
   "....representação solar, união do sexo masculino e feminino, simbolo de um deus dos fenómenos atmosféricos, simbolo do relâmpago ou do raio, representação figurada da água, imagem do deus supremo, simbolo do fogo,..." ( p32). 


Figura 17 - Em (1 e 2) temos a Suástica Lauburu em chaminés alentejanas. Em (3 e 4) temos o Lauburo protegendo uma pedra de fecho numa pequena Ermida. Esta foi construída numa torre da primeira muralha de Évora, no Palácio de Cadaval. De (5 a 7) temos o Lauburu numa bandeira do Pais Basco, numa "Argizaiola", representando o fogo do lar e o culto dos que já partiram, e numa estela funerária. 


Figura 18 - Apresentamos agora outras formas de Suásticas em outros contextos. Em (1) temos um corno trabalhado, usado como recipiente para pólvora. Neste espectacular "Polvorinho" temos vários simbolos apotropaicos, Na foto vemos duas Suásticas Flamejantes associadas a uma Roseta Hexapétala. Esta peça faz parte da Colecção António Carmelo Aires. Em (2) observamos um mosaico romano emoldurado por Cruzes Gamadas, outra forma de Suástica. Em (3) temos uma estela funerária, também de período romano, com uma Suástica Flamejante. As duas últimas fotos foram tiradas no Museu Nacional de Arqueologia. Em (4) a Suástica protege a pedra de fecho de uma abóboda num palacete de Évora. Em (5) protege o portal de uma Igreja de Setúbal. 



4 - Manuscritos Medievais e Associação


   O "Apocalipse de Lorvão" é um manuscrito iluminado do século XII. É uma obra do Mosteiro de Lorvão em Coimbra. Este manuscrito é um dos mais antigos de Portugal. É um comentário ao Livro do Apocalipse. Uma cópia de um dos vários códices do Beato de Liébana do século VIII. Na iluminura com o título de "A mulher sobre a besta" encontramos representados vários símbolos. Leite de Vasconcelos no seu "Signum Salomonis" faz a seguinte interpretação: 
   "A idade-média ministra-nos no Comentário do Apocalipse de Lorvão, códice da Torre do tombo, que data de 1189, os desenhos ou sinais que reproduzo nas fig. 118 a 123, e que vêem no começo de um capitulo onde se trata da expositio de muliere sedente super bestiam. A mulher tem um calis na mão esquerda, e o chrisma, ou monograma de Christo, na mão direita. Os sinais são: o sino-saimão simples, ou pentalfa, duas vezes,; o sino-saimão dobrado; uma estrela de sete raios; uma espécie de S; uma espécie de X: não há dúvida que pelo menos ao sino-saimão, quer simples, quer dobrado, ligou o desenhador significação mágica, pois no comentário, a que eles servem de ilustração, se fala de várias superstições, de ensalmos, de amuletos, e de caracteres, quod signum salomonis rustici dicunt. Com quanto este comentário não tenha origem portuguesa, mas asturiana, e apenas o copiasse certo Egeas, que ao certo não sabemos se também é nosso conterrâneo, não hesitei em o mencionar aqui, já por haver pertencido ao Convento de Lorvão, já porque, fosse qual fosse a origem das ilustrações, tanto presentes como de outras, elas estão de acordo com os costumes nacionais.(nas notas) Estes sinais são até certo ponto comparáveis aos que ilustram uma das Cantigas de Afonso o Sábio, a que me referi supra, p. 220, cantiga em que se fala de um clérigo nigromante. Mais notarei que o sinal em forma de S tem conhecidamente caracter mágico: vid. Religiões da Lusitânia, III, p. 586 e 587. O sinal de forma de X pode apenas ser um S cruzado com outro; todavia é comparável, de algum modo, a um sinal gravado em uma pedra protohistorica da Citânia de Briteiros: vid.ob.cit., III, 73. A estrela é natural que ande associada a simbolos mágicos, que em grande parte são ao mesmo tempo astrológicos. Do sino-saimão dobrado trato mais adiante." (Vasconcelos 1918, p. 238).
   Queríamos destacar nesta iluminura do Apocalipse de Lorvão a associação dos vários símbolos representados. Pelo facto de aparecerem juntos podemos dizer que assumem as mesmas funções.  Esta iluminura explica que símbolos podemos usar para afastar este grande mal que é a "Besta". Temos então vários símbolos apotroapicos associados,  símbolos ainda em uso no século XII e que continuaram a ser usados no século XIII surgindo nas   "Cantigas de Maria" de Afonso X. Com Afonso X os Alquerques passaram a ser apenas jogos de tabuleiro. A antiguidade da Espiral Dupla e da Suástica recua até à Proto-História. Encontramos estes símbolos decorando-protegendo cerâmicas recuperadas de contextos arqueológicos da Idade do Ferro do sul de Portugal. 


Figura 27 - Iluminura do Apocalipse de Lorvão com o título de "A Mulher sobre a Besta" onde encontramos os vários símbolos associados no combate da besta.


Figura 28 - A nossa interpretação dos símbolos que surgem na iluminura da "Mulher sobre a Besta". É muito interessante porque estes são precisamente os símbolos que surgem com mais frequência no Alentejo.  

   Nas figuras seguintes apresentamos o trabalho do grande Afonso X o Sábio do século XIII. 

Figura 29 - Seguimos a pista de Leite de Vasconcelos e visitámos a Cantiga de Maria CXXV. Nesta encontramos um clérigo lutando contra as forças do mal, dentro de um Pentagrama e rodeado de vários outros símbolos. Encontramos outro Pentagrama (2), o Octagrama (1) e o Selo de Salomão (3). Encontramos também vários números, letras, pontos e traços. Fórmulas mágicas de que falaremos na Parte IV. A tradição do Pentagrama desenhado como protecção no chão contra as forças do mal é referida várias vezes no trabalho de Leite de Vasconcelos. Deixamos uma delas: 
   "Crê-se de modo geral no Alto-Minho que quando uma pessoa se vê "atormentada" por qualquer mal, deve riscar "um quadro de sanse-lamon no chão", e meter-se dentro, para se defender; o mal foge logo" (Vasconcelos 2018, p. 237). 


Figura 30 - Seguimos outra pista, desta vez do Cláudio Torres, e voltámos às Cantigas de Maria de Afonso X. As tapeçarias que cobrem os altares representadas em grande parte das iluminuras são muito interessantes. Nelas vamos encontrar uma decoração que podemos chamar de apotropaica. Nesta surgem vários dos símbolos que temos vindo a estudar. Suásticas de diferentes tipos em (6 e 7), o Nó de Salomão em (3), o Octagrama em (2), o Losango em (1,4 e 5). O próprio trono do Rei encontra-se protegido por Suásticas na forma de Cruzes Gamadas em (12). Esta recolha foi feita na Internet e não tem a melhor das qualidades. Uma pesquisa com acesso a uma reprodução melhor do documento levaria à descoberta de um interessante mundo simbólico.


Figura 31 - Apresentamos o "Libros de Ajedrez, dados y tablas" também de Afonso X. Aqui encontramos um tabuleiro de jogo do Alquerque dos doze protegido por seis Hexagramas (obrigado Marisa Uberti pela partilha). É muito interessante encontrarmos este símbolo protegendo outro símbolo. Afonso X refere os Alquerques como meros jogos. Temos aqui um encobrimento histórico do seu papel como símbolo religioso? Ou a culpa é do mundo do Islão que os baptizou como Alquerques, "O Jogo"? Estariam estas duas fontes históricas a falar apenas do jogo e não da forma do tabuleiro? Uma distinção importante. Fica em aberto a nossa "Teoria de Conspiração". 


Figura 32 - Apresentamos mais alguns manuscritos e iluminuras onde surgem símbolos. Em (1) temos símbolos em instrumentos musicais no "Cancioneiro da Ajuda" do século XIII. Encontramos Pentagramas, Cruciformes e Suásticas protegendo os instrumentos. Em (2) um manuscrito Copta que apresenta vários símbolos. Entre eles o Octagrama, em grande destaque, Hexagramas e até um possível Alquerque. Em (3) mais símbolos em tabuleiros de jogos. Hexagramas e Losangos de lado nos tabuleiros. 


Figura 33 - Em (1) temos uma iluminura muito interessante. Nesta podemos ver a mulher lutando com o "dragão-besta". Iluminura do manuscrito medieval do Beato de Girona (século X). Esta segura um escudo que representa o Sol e cavalga a Lua. O Sol-Luz é representado pelo Octagrama entre Círculos, Flores e outros pequenos símbolos, muito elaborado. A Lua é representada pelo Crescente. Os anjos ajudam na tarefa e nos seus escudos encontramos Suásticas. Muitos dos nossos simbolos surgem como escudos contra o mal. O Hexagrama também é conhecido pelo Escudo de David (a força de David). O Pentagrama surge no poema do século XIV "Sir Gawain and the Green Knight" protegendo o escudo de Sir Gawain.  Em (3) temos outro manuscrito medieval mais recente.  Ainda temos o Sol e Lua mas já representados de uma forma mais esquemática. O lugar de destaque é agora de Jesus menino. À medida que os manuscritos vão sendo copiados os símbolos antigos vão desaparecendo. Em (2) podemos encontrar o nosso Octagrama-Sol, numa forma bastante semelhante à do Beato de Girona, mas aqui protegendo uma calçada num pátio de Vila Viçosa. Apesar de as instituições irem substituindo os símbolos, estes sobrevivem noutros suportes pelo nosso interior alentejano. Encontramos nos templos mais antigos, que por vezes pertenceram a várias religiões, este complexo mundo simbólico que ainda está vivo no mundo rural, que é sem dúvida o maior guardião da nossa identidade cultural. 


5 - Das Marcas de Afiar à Mezuzah: a Mensagem

5.1 - Marcas de Afiar

   Um edifício é um ambiente muito rico em símbolos e marcas. Um símbolo apotropaico ou uma marca de canteiro compreendem em si uma mensagem. Têm um objectivo ou razão de ser, transmitir uma mensagem aos deuses ou...a quem passa. Num tempo em que poucos sabiam escrever estes símbolos e marcas tinham uma importância ainda maior. Existem também uma série de marcas, intencionais ou não, que não têm como objectivo transmitir uma mensagem. Marcas de desgaste pelos elementos, marcas de impactos vários, marcas de construção ou marcas de tarefas realizadas usando como base partes do próprio edifício. Aqui entram as marcas de afiar, marcas de afiar o gume ou a ponta de objectos metálicos. Algumas destas marcas de afiar têm sido associadas a Judeus ou Cristão-Novos. Não sabemos porquê. Os objectos metálicos a afiar são vários: desde facas, navalhas, tesouras, armas brancas, ferramentas de várias profissões, de sapateiro por exemplo, até à simples ponta de um pião. O trabalho dos nossos amoladores ambulantes. Uma forma tem que transmitir uma mensagem senão não é um símbolo. O problema é que já  esquecemos o significado de maior parte destas mensagens do passado.

Figura 34 - Podemos observar marcas de afiar o gume de objectos metálicos na jamba de uma porta em Monsaraz. 


Figura 35 - Apresentamos marcas de afiar a ponta de objectos metálicos em Monsaraz (1 a 3) e numa jamba, bastante massacrada, de Castelo de Vide (4 e 5). 


Figura 36 - Podemos ver marcas de afiar na Ermida de S Sebastião em La Solana (Espanha) e a tarefa de afiar em progresso. Fotos de Eugenio Monesma Moliner a quem agradecemos. 


Figura 37 - Fotos da Igreja S. Tiago no Castelo de Montemor-o-Novo. Na jamba de uma porta lateral encontramos as nossas marcas de afiar (1). Na soleira (2) temos "covinhas" de um Alquerque dos Doze. Enquanto tabuleiro de jogo ou  um símbolo apotropaico?. Nesta Figura estão também dois elementos da equipa trabalhando afincadamente, só para a foto claro.


5.2 - A Mezuzah 

   Tivemos o privilégio de escavar a Sinagoga de Valência de Alcantára com a Professora Carmen Balesteros. Esperamos que o papel dos fiéis desta religião na construção da Península Ibérica seja reabilitado. Os Judeus viram nascer Portugal e em muito ajudaram à sua construção. Agora......não podemos associar Pentagramas e Hexagramas a Judeus. Estes símbolos chegam-nos provavelmente da Índia, foram usados por várias religiões. Estão por todo o lado e em vários tipos de suportes. Muitos em templos, igrejas cristãs ou mesquitas islâmicas, ou em fortificações. Pentagramas e Hexagramas são símbolos religiosos usados por todas as fés. Também não podemos associar Cruciformes nas ombreiras das portas a Judeus e Cristãos-Novos. Nem sequer percebo a lógica desta hipótese. Riscar ou gravar um Cruciforme na ombreira da porta é um ritual que esconde antigas superstições. Este ritual não é sancionado pela Igreja Católica. Se fosse aceite pela Igreja Católica não era feito de maneira tão dissimulada. Como vamos ver ao longo deste post são vários os símbolos usados nas casas alentejanas e principalmente nas entradas (chaminés, portas e janelas). O cruciforme é um de vários símbolos no meio de um universo de superstição. Usar um Cruciforme para impedir o mal de entrar numa casa é dar continuidade a rituais  com milénios. Se os Cristão-Novos colocavam um Cruciforme na sua porta estavam a aderir a uma prática comum. Como tal não os podemos identificar porque os Cristão-Velhos também o faziam. Os Cruciformes nem sequer servem para identificar antigas Judiarias. Pelas razões acima descritas e porque estão por todo o lado. Dou como exemplo Vila Viçosa onde temos centenas de Cruciformes espalhados por toda a parte antiga da povoação. Deixo-vos os comentário de dois autores que constataram o mesmo para Trancoso e para o Sabugal. Carmen Balesteros no seu trabalho sobre Trancoso afirma:
  "Ao analisarmos a planta acrofotogramétrica de Trancoso, onde localizámos os imóveis que apresentam marcas de simbologia no interior do recinto amuralhado, verificamos que as marcas encontram-se dispersas em quase todo o recinto urbano com especial incidência na zona oriental deste. Uma hipótese para explicar este facto poderá estar relacionada, como já afirmámos, com o facto dos cristãos-novos poderem ter procurado habitação fora da antiga judiaria. 
Difícil será sabermos alguma vez, com rigor, quem gravou estas marcas que podem ser símbolos da discriminação entre cristãos-velhos e cristãos-novos ou que podem ter sido executadas como um acto de fé, por cristãos-velho ou novos. No que diz respeito aos cruciformes identificados nas portas e muros da fortificação, parece-nos que estes devem estar relacionados com uma prática mágico/religiosa de carácter cristão, como forma de solicitar protecção divina." (Santos, Santos e Balesteros 1999, p. 214).
   Marcos Osório (2014) constata em relação aos levantamento dos Cruciformes no Concelho de Sabugal
   "As marcas cruciformes gravadas nos imóveis civis, militares ou religiosos são manifestações culturais omnipresentes por toda a região da Beira Interior. São abundantes e observam-se em todos os núcleos populacionais, não só nas primitivas vilas medievais, mas também em qualquer casario tradicional e até mesmo em moinhos, palheiros e abrigos de pastores mais rudimentares, afastados das povoações, ganhando o estatuto de principal marca da religiosidade destas gentes beirãs. .....
Diz a tradição oral que a casa com cruciforme foi habitada por judeus, contudo, a sua distribuição pelos espaços urbanos analisados tem vindo a revelar-se bastante homogénea, não se concentrando apenas em determinados arruamentos ou quarteirões correspondentes à residência de gente de particular herança cultural ou religiosa. ...... 
Mas apesar destas referências documentais, as cruzes continuam a ser sistematicamente associadas aos quarteirões das comunidades criptojudaicas por todas as povoações beirãs, considerando o facto de que, após a sua conversão a cristãos-novos (a partir dos finais do século XV), recorreram a este sinal exterior para afirmar publicamente a sua mudança de credo. E tendo presente o costume judaico de marcar a mezuzah (palavra hebraica para ombreira), ter-se-ão apropriado da cruz e mantido a tradição de sinalizar a entrada da residência com a afirmação da sua fé, identicando-se assim com a comunidade onde residiam. Ora, isto pressupõe um ato de “camulagem” entre as representações existentes das comunidades maioritárias desses aglomerados (caso contrário, o efeito pretendido não seria obtido), o que nos leva, hoje, a ter naturais dificuldades de destrinçar o que é cristão-velho e o que é cristão-novo. 
Por isso mesmo elas aparecem não só nos umbrais, mas em diversificados contextos arquitetónicos, levando-nos a desconfiar da hipótese da sua gravação apenas no contexto da problemática cripto-judaica. 
Outra irredutível prova de que a gravação de cruzes não é exclusiva dos cristãos-novos é a presença habitual à porta das fortificações, como ocorre por exemplo no castelo medieval de Sortelha e na fortificação manuelina de Alfaiate" ( p. 163).
   Na identificação de uma casa que tenha pertencido a uma família de fé judaica podem surgir símbolos como a Menorah, um candelabro com de 7 a 9 braço, ou caracteres em hebraico. No entanto a  Mezuzah é o "fóssil director" desta identificação. Mezuzah  quer dizer umbral ou ombreira, é um rasco escavado na parte superior da ombreira direita e que continha um pergaminho. Os judeus ao entrar na casa beijavam a Mezuzah e meditavam nas orações que estavam no pergaminho. Estas orações da Torá são do Deuteronômio 6: 4-9 e 11: 13-21. Temos na Mezuzah uma marca apotropaica. Deixamos o Deuteronômio 11: 13 - 21:
13 E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao Senhor vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma,
14 Então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite.
15 E darei erva no teu campo aos teus animais, e comerás, e fartar-te-ás.
16 Guardai-vos, que o vosso coração não se engane, e vos desvieis, e sirvais a outros deuses, e vos inclineis perante eles;
17 E a ira do Senhor se acenda contra vós, e feche ele os céus, e não haja água, e a terra não dê o seu fruto, e cedo pereçais da boa terra que o Senhor vos dá.
18 Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontais entre os vossos olhos.
19 E ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te;
20 E escreve-as nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas;
21 Para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o Senhor jurou a vossos pais dar-lhes, como os dias dos céus sobre a terra.
   Uma dos primeiros rituais apotropaicos chega-nos do antigo testamento. Nas palavras de Moisés Espírito Santo (2004) acerca de Nossa Senhora dos Prazeres: "Temos então na Páscoa como exemplo da continuidade duma série de cultos ao longo de, pelo menos, 4 mil anos, o que diz muito sobre a fidelidade aos calendários festivos, não obstante a sucessão de religiões..." O autor descreve as várias Páscoas e passa para a Festa das Espigas: "A Senhora dos Prazeres é a continuação desta festa da Lua: .....com o sangue do cordeiro aspergiam-se as ombreiras das portas para lembrar o facto de Deus ter poupado aos hebreus a morte dos primogénitos que infligiu aos egípcios." (p. 117 e 118). 


Figura 38 - Na primeiras duas fotos temos uma Mezuzah na interessante Sinagoga de Castelo de Vide. Na foto da direita temos a Mezuzah em Monsaraz. Nesta porta a Mezuzah encontra-se do lado errado pois devia de estar na ombreira do lado direito de quem entra. Uma possível reutilização ou outra função para a ranhura que desconhecemos. 


Figura 39 - A Mezuzah em três portas de Estremoz. Numa delas a Mezuzah aparece associada a Cruciformes. Muito interessante e fica aberto à discussão. 


Figura 40 - Duas Mezuzah numa das antigas judiarias de Évora.  Infelizmente a primeira Mezuzah, do lado esquerdo, já não se encontra visível. As duas fotos com a moldura escura foram retirada do Blogue "Eterna Sefarad" a quem agradecemos.


Figura  41 - Dentro da Sede do Grupo Pró-Évora, antigo Paço do Fidalgo Rui Palha, encontramos duas Mezuzah. Estas estão em portas interiores o que é muito interessante. Não me parecem reutilizações porque estão ao nível da porta exterior e foram até entaipadas. Reutilizar para entaipar? A porta exterior deste edifício, na pedra onde poderia estar a Mezuzah, a "patine" é diferente. Podendo esta pedra ter  sido substituída. Este edifício encontra-se na Rua do Salvador dentro da primeira muralha de Évora. Esta rua vai dar à provável porta dos judeus "sob a ponte". Como consta em documentos medievais do século XIII. A nosso ver a "Ponte" seria o aqueduto construído em época romana ou anterior. Temos então a Mezuzah em portas interiores, na porta exterior, muita água e uma porta dos Judeus.......fica para um próximo post. 


Figura 42 - Várias Mezuzah em Alburquerque aqui ao lado. 



Obrigado, a equipa






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