Ermida de Santa Clara em Terena - Heritage Red List




A Ermida de Santa Clara localiza-se na Freguesia de S Pedro de Terena e no Concelho de Alandroal. 
É propriedade privada e encontra-se em mau estado,  uma das fachadas e parte da cúpula já tombaram, o resto está em eminência de cair.
A Ermida cristã será do século XVI mas pode ter assimilado um monumento mais antigo, uma Qubba, desenvolvemos o tema no texto abaixo.
Esta Ermida é muito interessante, pelo monumento si, mas também pelo seu enquadramento na paisagem e elementos associados de diferentes períodos. O domínio visual da vizinhança, o Monte, o Poço - Cisterna, uma possível Necrópole, a Vila romana muito perto. Tudo isto faz da Ermida de Santa Clara não apenas um Monumento mas sim um Núcleo de Interesse Patrimonial. Se acrescentarmos a sua localização num caminho ancestral ligado a outros Núcleos então começamos a construir a História da região. 
Vamos a isso.










Na figura abaixo observamos a Ermida de Santa Clara (2) em relação a uma possível sepultura escavada na rocha (1) e em relação ao poço (3).
É uma constante as Ermidas terem água por perto. O poço abre em cisterna, um método de construção romano, mas apresenta materiais de construção modernos, terá sido reconstruido em período mais recente. 
A possível sepultura é dúbia podendo ser apenas um bebedouro de animais. Esta  foi-nos indicada pelo Sr Geadas a quem agradecemos a disponibilidade. Esperamos num futuro próximo prospectar os restantes afloramentos rochosos em busca de mais evidências. 



Sepultura ou bebedouro


Poço - Cisterna






A Ermida de Santa Clara encontra-se num caminho ancestral. Este caminho não é uma linha recta pois foge ao barranco criado por vários ribeiros. Os caminhos serpenteavam por onde era possível construir, por onde era a melhor a travessia dos ribeiros, por onde estava a água. Estes caminhos ligavam terras de melhor qualidade ou explorações mineiras. Estes sítios óptimos com água e terras de melhor qualidade foram herdados de outras culturas. Foram povoados do Neolítico marcados por Antas, foram Vilas romanas das quais nasceram os Montes e Herdades alentejanas, foram povoados medievais marcados por Qubbas e Ermidas. São grandes Herdades ainda explorada nos nossos dias.
Santa Clara faz parte de uma linha pontuada de Ermidas, agora cristãs, que podem ter nascido de Qubbas Islâmicas. Em todas encontramos a mesma forma no edifício original agora o altar-mor no templo cristão. Um corpo quadrangular e uma cúpula em meia laranja. Esta resistente solução encontra-se por toda a Ibéria e Norte de África. À localização, forma e paralelos esperamos acrescentar outras variáveis como a orientação, as medidas, os materiais de construção, ...
Só cruzando todas estas variáveis podemos passar da Hipótese à Teoria. Acrescentar as Qubbas à nossa Identidade Cultural também feita de 700 anos de Islão. Quem sabe se as Qubbas não nasceram com os primeiros Cristãos ou religiões Politeístas.
Agora andamos a ver da Toponímia onde nos surgem pistas muito interessantes. O Monte da Mesquita em Évora que assimilou uma Ermida-Qubba. A porta da Alcoba (Al Coba - A Qubba) na muralha Medieval de Monsaraz de onde o caminho descia passando pela Ermida-Qubba de S. João Baptista. Um bocadinho mais longe em Setúbal temos a Ermida- Qubba de S Pedro de Alcube (Al Cube - A Qubba).
Ao lado da Ribeira de Lucefécit, em zona mineira, temos a Ermida de NS das Neves (5) com uma Necrópole Medieval. NS das Neves está bem perto do Povoado do Neolítico, Vila e Forte romanos das Águas Frias. Caminhando para Oeste, pelas férteis terras da Casa do Infantado, chegamos à Ermida-Qubba de Santo António do Capelins (4) onde nasceu a Aldeia de Ferreira e onde está hoje o cemitério. Seguindo  a nossa rota vamos até a Ermida de Santa Clara (3) muito perto de outra Vila romana. Continuando para Oeste encontramos a Ermida-Qubba de Santiago Maior (2) vizinha da romana Vila Sara e de pelo menos uma Anta. Por aqui nasceu a Aldeia dos Marmelos e encontramos o actual  cemitério. A Ermida de Santiago foi alvo de obras em seu redor, nas valas abertas surgiram muitas ossadas estando alguns ossos em conexão. Infelizmente não foi alvo de escavação arqueológica e perdemos uma oportunidade de conhecer melhor a História da região. Se continuarmos o caminho para Oeste encontramos a monumental Pedra Alçada (1), um dos vários Geomonumentos de Santiago Maior




O Geomonumento da Pedra Alçada (1), as Ermidas-Qubbas de Santiago Maior (2), Santo António Capelins (4) e NS das Neves (5)





A descrição dos Frescos segundo Espanca:
"Apesar da sua manifesta ruína e abandono subsistem, ainda, as composições murais de características seiscentistas, que a preenchem na totalidade, distribuídas em oito quadros emoldurados, com faixas recobertas de ornatos flosculosos de nítido sentido popular. 
Conseguem ler-se as seguintes cenas: Senhora das Dores, Símbolos do Martírio de Jesus e a Virgem Dolorosa perante a cruz, S. José ensinando o ofício de carpinteiro ao Menino Jesus, Ressurreição de Cristo, Santa Inês e Santa Clara, titular. No centro da cúpula, como chave ornamental, vislumbra-se um grande medalhão formado por um coro de querubins, do estilo renascentista." 









Montagem dos Frescos


Imagens do  abandono em que se encontra a Ermida de Santa Clara.
Com a possibilidade de usar fundos da Europa não se compreende esta situação.
A falta de comunicação entre as entidades responsáveis pelo Património e os proprietários é gritante.
O Estado não pode servir só para fiscalizar e NÃO deixar fazer.
O Estado tem que ter um plano estratégico que CRIE acção.
Decididamente temos que mudar este desinteresse pelo Património no geral e pelas Ermidas rurais em particular.
Com esse intuito temos efetuado várias visitas à Ermida de Santa Clara e a integração desta numa Rota Guiada, a nossa Rota dos Ribeiros.
Os visitantes ficam maravilhados com este regresso ao passado pois a Ermida o seu enquadramento falam por si.
Infelizmente o estado ruinoso do monumento choca mas não podemos deixar de visitar e não podemos deixar cair a Ermida no esquecimento.
Estamos a perder uma oportunidade de valorizar o nosso Património na Indústria da Hospitalidade.
É na Identidade Cultural que o Alentejo deve construir um Turismo Sustentável todo o ano.







Cruzeiro destruído



Visita Guiada com Turistas Holandeses



O Núcleo de Interesse Patrimonial da Ermida de Santa Clara integrado na Rota dos Ribeiros




A Ermida de Santa Clara no Inventário SIPA:
Descrição
Planta retangular composta pelos vestígios do nartex, nave e capela-mor. Coincidência entre exterior e interior, volumes articulados. Cobertura em domo hemisférico na capela-mor. Fachada principal orientada, com nartex do qual restam apenas três arcadas plenas, uma por banda. Fachadas laterais de três panos correspondentes ao nartex, à nave do qual restam apenas os paramentos, cegos, com c. de 3m de altura, e à capela-mor cujo paramento S. se encontra completamente derrocado. Fachada E. cega em parte arruinada. No alçado O. da capela-mor, sobre o arco triunfal, campanário. INTERIOR: espaço diferenciado com restos da nave de planta rectangular, arco triunfal de volta perfeita e capela-mor de planta quadrangular: com cobertura em cúpula hemisférica sobre trompas triangulares, parcialmente destruída, e paramento S. derrocado; na parede fundeira nicho de volta perfeita; cúpula decorada com pinturas murais, divididas em oito painéis por molduras a cor amarela, figurando a traço sinopia: Senhora das Dores, Símbolos do Martírio de Jesus e a Virgem Dolorosa perante a cruz, São José ensinando o ofício de carpinteiro ao Menino Jesus, Ressurreição de Cristo, Santa Inês e Santa Clara.
Acessos
A c. de 5km do Alandroal, alcança-se pela EN 255 e por caminho vicinal da Herdade de Santa Clara.
Protecção
Inexistente
Enquadramento
Rural, isolado. Domina sobre uma imensa planície. A c. de 200m, a S., encontram-se os edifícios que constituem a Herdade de Santa Clara.
Utilização Inicial
Religiosa: ermida
Utilização Actual
Devoluto
Propriedade
Privada: pessoa singular
Afectação
Sem afectação
Época Construção
Séc. 16
Arquitecto / Construtor / Autor
Desconhecido
Cronologia
Séc. 16 - construção do templo e execução decoração mural.
Dados Técnicos
Estrutura mista de paredes maciças, com arcos e contrafortes para suporte das abóbadas.
Materiais
Alvenaria de pedra rebocada
Bibliografia
ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Évora, vol. 9, Lisboa, 1979.
Documentação Gráfica
IHRU: DGEMN/DSID
Documentação Fotográfica
IHRU: DGEMN/DSID
Autor e Data
Paula Amendoeira 1999


A Ermida de Santa Clara por Túlio Espanca no Inventário Artístico de Portugal:
"Venerável relíquia de meados do séc. XVI, situada na Herdade de Santa Clara, a 1 quilómetro de distância da Est. Nac. 255 e a c.ª de 5 quilómetros da sede de freguesia, na linha da fronteira espanhola, desconhecem-se a data e nomes dos seus fundadores. 
Acusa, actualmente, grave ruína, com o desabamento das coberturas do nartex e de nave, aquele de tabuado e este de abóbada de meio ponto, e o arranque de todos os materiais trabalhados dos portais e janelas, embora se encontre profanada somente desde alvores da década de 1930. 
Construída em grossa alvenaria num cômoro roqueiro pouco pronunciado e em terreno crivado espaçadamente de sobro, olha ao Ocidente e está muito vizinha do monte a que deu o nome. O alpendre é de três arcadas redondas, emolduradas e a nave, de notória sobriedade concepcional, despida de ornatos artísticos, pavimentada de ardósia do sítio, são corpos evidentes de um acrescentamento do primitivo templete, que, na sua origem era, apenas, constituído pela abside, como o revela o cuidadoso estudo desta parte do edifício, aliás em concordância com outros monumentos religiosos, similares, quinhentistas, abundantes no distrito de Évora. 
A capela-mor, de planta quadrada, sobrepujada, axialmente, pelo campanário despido de sino, teve, apenas, na ousia, um nicho redondo, aprofundado, mesa de altar, de alvenaria, com frescos pintados, e a cúpula hemisférica, assente em trompas simples, com meia lua exterior muito pronunciada. 
Apesar da sua manifesta ruína e abandono subsistem, ainda, as composições murais de características seiscentistas, que a preenchem na totalidade, distribuídas em oito quadros emoldurados, com faixas recobertas de ornatos flosculosos de nítido sentido popular. 
Conseguem ler-se as seguintes cenas: Senhora das Dores, Símbolos do Martírio de Jesus e a Virgem Dolorosa perante a cruz, S. José ensinando o ofício de carpinteiro ao Menino Jesus, Ressurreição de Cristo, Santa Inês e Santa Clara, titular. No centro da cúpula, como chave ornamental, vislumbra-se um grande medalhão formado por um coro de querubins, do estilo renascentista. 
Dimensões gerais, exteriores: compr. 13,50 x 4,90 m; abside. 4,80 x 4.80 m (1)."



2 comentários:

  1. Um excelente trabalho.
    Concordo que que todos os dias perdemos o nosso rico património por desleixo e incúria dos organismos (e governo) que deveriam cuidar melhor do que os antepassados nos deixaram e da sua história.
    Eu sou um apaixonado pela história e também pela fotografia, e tento nos meus tempos livres conhecer e fotografar pedaços da nossa história e cultura, que publico na minha página no Facebook dedicada a este meu hobby, onde tenho um álbum todo dedicado ao Alentejo, e que tem algumas fotos da zona de Terena, mas desconhecia esta ermida.
    Será possível darem-me indicações mais precisas talvez mesmo as coordenadas destes locais, para uma futura visita e fotografar?
    Nas minhas publicações alem da foto, tento colocar sempre um texto com um resumo histórico ou artístico do local alem da sua localização.
    Pode visitar o meu trabalho em https://www.facebook.com/fotos.djtc e o álbum dedicado ao Alentejo em https://www.facebook.com/media/set/?set=a.363702843824477&type=3
    Deixo os meus contactos email: dcalcada@gmail.com ou fotos.by.djorge@gmail.com
    Um grande abraço
    Daniel Jorge

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    1. Ora viva, obrigado pelo comentários e parabéns pelas fotos, infelizmente esta ermida encontra-se em propriedade privada, abraço

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