Símbolos de Proteção na Casa Alentejana - Folk Religion






Indice
1 - Introdução
2 - Das Portas e Janelas
2.1 - O Cruciforme
2.2 - O Pentagrama
2.4 - A Roseta Hexapétala
2.5 - O Alquerque
2.6 - Outros Simbolos
2.7 - Nos Elementos das Portas e Janelas
3 - No Interior dos Edificios
4 - Das Fachadas
5 - Dos Portões
6 - Estruturas de Apoio
Bibliografia

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1 - Introdução


     A casa alentejana encontra-se muito bem protegida contra o mal. As chaminés alentejanas e algarvias são disso exemplo. Vamos agora apresentar exemplos de símbolos guardando portas, janelas, fachadas e portões em casas comuns, edifícios públicos, templos e fortificações. Podemos encontrá-los gravados em vários tipos de pedra, riscados na madeira ou em argamassas. Nas chaminés são mais frequentes os Cruciformes, Rosetas Hexapétalas e Lauburus, por vezes associados. No enquadramento da porta encontramos Cruciformes, Pentagramas e Rosetas Hexapétalas. Na porta em si Losangos e Espirais. Nas janelas temos Pentagramas e Rosetas hexapétalas. Nas fachadas dos edifícios o Losango é Rei. Em portões também encontramos o Losango e a Espiral. Na Figura 100 apresentamos uma casa alentejana com os símbolos e o local onde surgem com mais frequência. Verificamos assim que todas as ligações da casa como o mundo exterior se encontram protegidas do mal. Podemos questionar se todos estes símbolos são apenas decorações. Não pensamos que seja o caso.  A maneira como estes se repetem, não só nas casas alentejanas, mas nos mais variados suportes. A associação de vários destes símbolos assumindo funções claramente religiosas. A continuidade que encontramos no seu uso. Tudo isto faz-nos pensar na sua função apotropaica. Os exemplos que vamos agora apresentar vêm reforçar a nossa argumentação.

Figura 100



2 - Das Portas e Janelas


2.1 - O Cruciforme

Figura 101 - Nas próximas Figuras vamos andar por Vila Viçosa onde encontramos grande variedade de símbolos protegendo as portas. Nesta Figura temos Cruciformes gravados no mármore das ombreiras de algumas portas. Ficamos assim com uma ideia da posição em que surgem com mais frequência os grafitos. Surgem quase sempre na metade inferior da ombreira. Podemos encontrá-los  tanto do lado direito como do lado esquerdo. Surgem com mas com mais frequência no interior da ombreira. Com menos frequência  no lado da rua da ombreira. Infelizmente não sabemos se surgem no lado da ombreira que dá para o interior da casa. Se estiveram a ler este Post, verifiquem esta situação e partilhem connosco, muito agradecidos. 

Figura 102 - Podemos observar a porta e uma janela da Capela de S. João Baptista da Carrasqueira em Vila Viçosa. Ficamos com uma ideia das pequenas dimensões dos grafitos e das sua localização na metade inferior da ombreira. No entanto neste templo a maior parte dos grafitos localizam-se no lado da rua da ombreira. Este é um dos vários templos que têm as ombreiras repletas de símbolos.

Figura  103 - Na maior parte dos casos temos apenas um grafito desempenhando a sua função apotropaica. A porta de em Vila Viçosa que vemos nesta Figura é uma excepção e bate todos os recordes. Encontramos dez Cruciformes de várias formas e tamanhos, alguns invertidos, um deitado e um possível relógio de Sol. Podemos ter uma ideia dos diferentes tipos de Cruciforme que vamos encontrando. Algo de muito sério se passou nesta casa.

Figura  104 - Com a luz rasante podemos observar alguns dos mais bonitos Cruciformes gravados no mármore de Vila Viçosa. Em média os grafitos de Cruciformes têm 15x5cm. Encontramos uma excepção na Igreja de Santa Maria em Estremoz onde  um dos Cruciformes têm uns bons 80cm de altura. Encontramos também Cruciformes com apenas alguns cm. O símbolo que mais surge em pequenas dimensões é o Pentagrama.  Deixou de ser aprovado pela Igreja mas continuou a ser usado de forma mais "escondida". A Roseta Hexapétala é um símbolo que surge por vezes em grandes dimensões ou em conjunto a que chamamos a Flor da Vida. 

Figura 105 - Mais um conjunto de Cruciformes em Vila Viçosa. Nas Figuras 104 e 105 podemos observar os vários métodos de gravação dos grafitos. Podemos encontrar um grafito riscado de forma simples, ténue até. Estes riscos finos podem formar um Cruciforme simples ou representar elaboradas construções de grande beleza.  Outros são riscados várias vezes criando sulcos profundos que definem bem os símbolos. Podem até ter sido refeitos várias vezes como que fazendo parte de um ritual. Outros grafitos são picados de forma superficial dando apenas uma ideia do Cruciforme. Estes são os mais difíceis de encontrar sem a luz rasante. Por vezes  esta picagem é feita com grande afinco criando autênticas obras da Arte do Graffiti apotropaico.


Figura 106 - Visitamos agora Alpalhão no Concelho de Nisa. Grande parte dos Cruciformes que apresentamos foram identificados nos pioneiros trabalhos de Carmen Balesteros e sua equipa. Um trabalho que não pode ficar esquecido e devia ter uma maior divulgação por parte dos vários Municipios. Voltamos a Alpalhão onde encontramos vários grafitos no Granito. No Granito, dada a porosidade da pedra, os grafitos tendem a ser mais profundos e largos. No entanto apenas encontramos Cruciformes. Apesar de algumas ombreiras terem sido pintadas ainda se podem ver os cruciformes. 
Ao longo deste post vamos dar exemplos de Pentagramas em Granito, noutras localidades, apesar de mais raros. Ainda não conseguimos descobrir Hexapétalas. Não sabemos se esta predominância dos Cruciformes tem a ver com as características da pedra ou com a religiosidade das populações. Uma questão muito interessante. É no Mármore que encontramos uma maior definição, visibilidade e até  sobrevivência dos vários grafitos. Em Vila Viçosa várias das ombreiras foram infelizmente raspadas. Mas ainda vamos a tempo para fazer o registo das demais. No xisto encontramos um mundo de símbolos. Sendo esta pedra macia tornou-se a melhor palete para os nossos artistas. Por vezes as ombreiras têm várias camadas de grafitos tornando a leitura complicada. Um verdadeiro desafio mas muito interessante. Infelizmente a luz rasante não é tão útil no xisto. As características da pedra levam a que encontremos riscos muito finos. No xisto os grafitos tendem também a desaparecer mais rapidamente. Temos em braços  uma luta contra o tempo. 

Figura 107 - Na entrada do Forte de Vila Viçosa encontramos vários Cruciformes, de várias dimensões, gravados no mármore. Neste Forte são várias as janelas protegidas por vários símbolos de que falaremos mais adiante. É importante perceber que os símbolos apotropaicos estão em todos os tipos de edifícios. Encontramos Cruciformes em ombreiras de portas de casas comuns, edíficios públicos, de templos, de fortificações, de estruturas de apoio aos trabalhos rurais. Os Cruciformes não servem para identificar as casas de judeus ou cristão-novos.

Figura 108 - Apresentamos mais alguns Cruciformes guardando Fortificações. Em (1) temos Cruciformes simples guardando a porta da Barbacã medieval do Castelo de Monsaraz com várias dimensões. Em (2) um Cruciforme guarda uma das portas da muralha medieval, e as medidas de mercador, em Redondo (20X10cm). Em (3) uma Cruz da Ordem de Cristo guarda uma das portas da muralha medieval de Estremoz (20X20cm). Por fim em (4) encontramos um Cruz de Santiago (50X20cm) guardando uma das portas da muralha medieval de Alandroal. 


2.2 - O Pentagrama




Figura 109 - Continuamos no mundo das Fortificações e damos um salto a Elvas. Aqui encontramos um espectacular Pentagrama guardando uma das portas da segunda muralha islâmica, reforçada por D. Fernando no século XIV.  Um Pentagrama gravado em relevo no granito e com 40 cm de diâmetro. Este Pentagrama está dentro de um círculo que reforça a sua "força".  Apesar de estar num canto é bastante visível. Esta localização torna a sua função apotropaica digamos "oficial". Na foto da direita temos uma das  portas da medina de Tânger em Marrocos. Esta está bem  guardada com um Pentagrama de cada lado. Foto de Moisés Cayetano Rosado a quem agradecemos. Será o Pentagrama de Elvas parte das defesas "mágicas" islâmicas? Ou seria o Pentagrama usado "oficialmente" pelos cristãos do século XIV?  Talvez um dia possamos usar os símbolos apotropaicos para datar algumas das construções. Pelo menos no que toca a símbolos que deixaram de ser sancionados pela Igreja. Queremos agradecer ao Rui Jesuíno a visita guiada onde nos mostrou este espectacular Pentagrama e muito mais.


Figura 110 - Outra Fortificação e agora em Olivença ou Olivenza. Uma cidade com muitos espanhóis que são também portugueses. Quando subimos à Torre de Menagem medieval entramos numa máquina do tempo. As argamassas e estuques das seteiras estão repletas de vários e interessantes grafitos. Na foto da esquerda vemos um pequeno e sozinho Pentagrama de 10cm. Na foto da direita surgem vários e de diferentes dimensões. Em A com 30cm em B têm apenas 10cm.  Podemos concluir que foram gravados por diferentes pessoas (?). Umas mais expressivas que outras ou com maiores receios. A quantidade e variedade de grafitos nesta Torre é reveladora da dimensão da superstição na Idade Média.

Figura 111 - Vamos agora observar alguns Pentagramas "oficiais". Na foto da esquerda encontramos um Pentagrama protegendo a porta da escadaria que dá acesso ao campanário da Igreja de Santa Maria em Marvão. Gravado em relevo no granito do lintel e com uns 50cm de diâmetro é um dos mais espectaculares Pentagramas que já vimos. Já agora visitem a Igreja que é também o Museu Municipal de Marvão. Do lado esquerdo e numa casa de Elvas encontramos um espectacular lintel com um Pentagrama, uma Roseta Hexapétala e um Cruciforme. Os três estão dentro de círculos e medem 15cm de diâmetro.  Esta porta  fica mesmo ao lado do Convento de S. Paulo e podiamos levantar a hipótese de ser uma reutilização. Duas pistas invalidam esta hipótese. Por um lado o Convento é do século XVII quando o Pentagrama já não estava em uso pela Igreja. Por outro temos mais alguns exemplos de portas protegidas com Pentagramas em Elvas. Infelizmente falta-nos a autorização dos proprietários para a publicação das fotos destas belas portas. Aliás toda este "Alentejo Apotropaico" pode ser visto como uma invasão da privacidade. Apagámos os números das portas tentando proteger os proprietários. Se alguém se sentir desconfortável com alguma das fotos deste post entre em contacto connosco. A foto será retirada e pedimos desde já desculpa. A todos os outros os nossos agradecimentos.  


Figura 112 - Na foto da esquerda podemos ver um bonito Pentagrama gravado no mármore de Vila Viçosa com 20cm de diâmetro. Gravado na ombreira do lado da rua e bem à vista. Na foto do centro outro Pentagrama desta vez no Alandroal. Com 5 cm de diâmetro e do lado de dentro da ombreira. Apresenta-se bem mais discreto. Na foto da esquerda mais um Pentagrama agora no granito e com 25cm de diâmetro. Guarda uma porta em Montalegre e é bem visível. O mesmo símbolo em diferentes materiais e tamanhos. Diferentes atitudes na prática do mesmo ritual. Mas a mesma crença no poder protector do Pentagrama.


Figura 113 - Nas fotos da esquerda temos Pentagramas em ombreiras de portas, riscados no mármore e de forma ténue. Na foto da direita está desenhado a lápis. Todos este exemplos são em Vila Viçosa e de pequenas dimensões entre 5 e 7cm de diâmetro. Surgem em contextos mais recentes, modernos e contemporâneos, o Pentagrama surge com mais frequência assim "escondido". 



Figura 114 - Apresentamos uma porta na Lourinhã protegida por um painel de azulejos representando S. Jorge, por um Pentagrama e pelas Cinco Chagas de Cristo. Estes últimos gravados no cimento.  Muito interessante a associação destes símbolos e a sua continuidade. Foto enviada pelo Rui Couto a quem agradecemos a  partilha. 



Figura  115 - Vamos agora visitar a antiga cadeia de Marvão. Numa das janelas encontramos uma série de símbolos apotropaicos.  Os círculos amarelos nas fotos da direita. Vários Cruciformes gravados no granito e de várias dimensões. Na foto da esquerda vemos a associação entre um Cruciforme e um Pentagrama  (25cm de diâmetro). Uma janela bem protegida num lugar complicado.


Figura 116 - Continuamos nas janelas onde encontramos um espectacular Pentagrama, no granito de Trancoso, dentro de um círculo e com 25cm de diâmetro. Obrigado Manuela Tátá! Aqui está associado a um Cruciforme e a um Acrónimo. É frequente esta associação entre o Pentagrama e outros símbolos. Surge muitas vezes associado a Cruciformes, o símbolo "oficial". Esta associação pode também ser uma sacralização do Pentagrama com um Cruciforme. A religião "oficial" sacralizando a religião "popular". Se este for o caso é interessante o facto do Pentagrama não ser apagado mas sacralizado. Na foto do meio encontramos um pequeníssimo Pentagrama com apenas 3cm de diâmetro. Este guarda uma janela do Forte de Vila Viçosa e está associado a vários Alquerques. Falaremos desta janela abaixo. Na foto da direita uma bonita grade com Espirais e um Pentragama central no meio de um circulo. Esta grade fica em Setúbal, a foto não apresenta a melhor qualidade pois tive que fugir dos cães. A investigação tem destas coisas.


Figura 117 - Passamos o Guadiana a salto e vamos à Extremadura espanhola visitar os nossos vizinhos de Cheles. Muito perto do enorme povoado Proto-Histórico de S. Blas ficava a Vila medieval de Cheles. Infelizmente arrasada pelos terríveis portugueses, outros tempos. De alguns dos monumentos ficaram as ruínas. Nas fotos vemos as ruínas da Ermida de S. Blas. Uma das portas foi entaipada e apresenta uma das maiores concentrações de Pentagramas que já descobrimos. Na jamba, do lado de dentro e do lado de fora, são vários os Pentagramas. Terá alguma coisa a ver com esses terríveis portugueses? Agradecemos ao Joaquin Larios Cuello por nos ter lá levado, à Eunice Gomes e ao Luis Troca de Castro pelos olhos de falcão na descoberta. 


2.3 - A Roseta Hexapétala



Figura 118 - Na ombreira de uma porta em Monsaraz encontramos uma Roseta Hexapétala rodeado por um potente conjunto de Círculos. São onze Círculos Concêntricos que reforçam esta Hexapétala, como um Sol que emana os seus raios. Encontramos também uma luta simbólica com os Pentagramas. O Pentagrama  de baixo foi feito primeiro, depois a Hexapétala e os Círculos, por fim o Pentagrama mais alto foi gravado em cima dos Círculos. Muito interessante o uso alternado de Pentagramas e da Hexapétala. Os Pentagramas são pequenos com 7 e 12cm de diâmetro. O conjunto Círculos e Hexapétala tem uns bons 35cm de diâmetro. 


Figura 119 - Voltamos a Vila Viçosa para encontrar uma bonita Hexapétala no mármore da ombreira de uma porta. Com cerca de 20cm de diâmetro esta Hexapétala está dentro de um Círculo. É frequente encontramos a Hexapétala dentro de, pelo menos, um Círculo. Pensamos que estes Círculos em volta de outros símbolos  não sejam uma decoração. Os Círculos Concêntricos são um símbolo por si e surgem por vezes sozinhos. Temos então um "reforço", uma associação, entre dois símbolos. Como aliás vimos na Figura anterior. 


Figura 120 - Visitamos a vizinha Vila de Alandroal onde encontramos um elaborado conjunto no mármore de uma ombreira. Aqui encontramos uma a Hexapétala (8cm de diâmetro). associada a vários motivos Florais e Círculos. Estas Flores são também símbolos apotropaicos que infelizmente ainda não estudámos devidamente. Mas já localizámos vários exemplos de que falaremos mais abaixo. Serão provavelmente a representação de uma Flor de Lotus simbolizando o renascimento anual. Esta Flor pode ter mesmo dado origem à mais conhecida Flor de Lis. Nesta porta surgem mais Flores noutra forma e para as quais ainda não encontrámos paralelo. 



Figura 121 - Ainda na Vila do Alandroal  encontramos mais ombreiras com Hexapétalas. Na foto da direita com 10cm de diâmetro no mármore do interior da ombreira. Esta é a outra ombreira da porta da Figura 120.  Está num edifício público que tinha que ser bem protegido.  Na foto da direita encontramos duas Rosetas, que se completam. com 15 por 20cm. Esta construção atinge por vezes grandes dimensões formando uma Flor da Vida. Uma "Rede" de protecção.


Figura 122 - Em Vila Viçosa mas agora numa janela lá está a nossa Roseta Hexapétala. No mármore, do lado direito interior,  com dimensões de 8cm e dentro de um círculo. Os símbolos apotropaicos em janelas são menos frequentes do que nas portas. Esta menor frequência pode estar relacionada com o facto de as janelas terem uma armação mais elaborada. Isto torna a identificação dos símbolos mais complicada.


Figura 123 - Em Montemor-o-Novo e dentro das muralhas medievais encontramos as ruínas da Igreja de Santa Maria do Bispo. Não vamos falar do imponente e espectacular portal recheado de simbologia "oficial". Vamos visitar a janela de uma pequena divisão lateral que seria a Sacristia (?). Nesta janela encontramos uma Roseta Hexapétala, riscada no estuque e quase invisível. Dentro de um Círculo, com 30cm de diâmetro, protegendo da entrada do mal. Uma agradável descoberta num monumento muito mal tratado. 


Figura 124 - Ainda em Templos mas agora em Monsaraz encontramos mais Rosetas Hexapétalas. Na foto da esquerda na fachada da Igreja de N. S. da Lagoa. Neste exemplo podemos também observar a "Traçaria" do símbolo. A maneira como o símbolo foi traçado no xisto com um compasso. Esta Hexapétala encontra-se no meio de uma grande confusão de grafitos tornando difícil a sua visualização. Mas há sempre aquela altura do ano e do dia em que o ângulo do sol revela alguns segredos. Na foto da direita temos uma Hexapétala, dentro de um Círculo, gravada no xisto, no interior da ombreira e com 20 cm de diâmetro. Esta Hexapétala  guarda a porta da Igreja da Misericórdia. No Norte da Europa as Hexapétalas, nas suas várias representações, são mesmo chamadas de "Compass-Drawn Designs". "Desenhos feitos a compasso" numa tradução directa. Por cá encontramos dificuldades em nomear muitos dos símbolos neste trabalho que é pioneiro.


2.4 - O Alquerque



Figura 125 - O Alquerque é um Símbolo religioso e provavelmente  uma Suástica Gironada. Em Mourão vamos encontrar esta Suástica Gironada num dos mais bonitos portais de Portugal e arredores. Gravados em relevo, no xisto local, encontramos um conjunto de vários símbolos que preenchem todo o portal. Em (1) encontramos a nossa Suástica Gironada em lugar de destaque. A mesma Suástica que protege as bandeiras de todos os Concelhos de Portugal e de Ceuta. Em (2) temos Rosetas Hexapétalas em toda a volta da porta. Em (3) os Triângulos Duplos nos cantos, um Símbolo muito frequente nos mosaicos romanos e que "constrói" outros símbolos. Em (4) os Losangos que cobrem o interior da ombreira e do lintel. Encontramos também Círculos e Semi-Círculos rodeando as Hexapétalas. Um espectacular Portal que é um excelente exemplo do uso apotropaico de alguns símbolos entre eles o Alquerque.


Figura 125 - Apresentamos a Pedra de Kermaria. Este pequeno Omphalos (centro do mundo) data da Proto-História e foi encontrado na Bretanha (França). Esta Figura foge um pouco ao tema deste post mas permite perceber a antiguidade da Suástica Gironada. Temos também uma ideia da sua dimensão enquanto símbolo religioso e associações a outros símbolos.  




Figura 126 - Na Igreja Matriz de Viana do Alentejo encontramos muita simbologia. O portal na foto da esquerda é muito rico e bem bonito. Mas vamos baixar  a cabeça e olhar para o chão. Nas fotos da direita temos os símbolos que se escondem na calçada. Na moldura encontramos a forma do Alquerque que será provavelmente uma Suástica. Mesmo encostado à porta encontramos várias Rosetas Hexapétalas formando uma Flor da Vida. Um trabalho nada fácil, numa calçada, e muito interessante.  



Figura 127 - As calçadas são uma tradição portuguesa e escondem muitos símbolos. Em cima da direita para a esquerda encontramos a Suástica Gironada, a Roseta Hexapétala e o Octagrama. Deste último símbolo já falámos na I Parte. Em baixo encontramos Pentagramas, um deles dentro de um Heptagrama, um caso único. As fotos de baixo são mais uma partilha do Vítor Rafael Sousa a quem agradecemos.


Figura 128 - Vamos agora visitar a bela Vila de Portel. No interior do Castelo medieval encontramos as ruínas da Igreja de S. Vicente. Na soleira da porta deste templo encontramos um Alquerque-Suástica. As suas pequenas dimensões (15X15 cm) e a sua localização são uma pista para a função apotropaica.   



Figura 129 - Voltamos ao mundo das Fortificações e damos um salto a Elvas. Subimos à Torre Fernandina, num banco debaixo de uma das janelas encontramos mais um Alquerque-Suástica. Riscado de forma tosca e de pequenas dimensões (20X20cm). A sua localização encostado a um canto torna difícil que seja jogado.



Figura 130 - De novo na Torre de Menagem de Olivença encontramos mais um Alquerque-Suástica gravado no estuque da parede. De pequenas dimensões (10x10cm) guarda uma das seteiras. Este é mais um  exemplo de que a forma do Alquerque representa um símbolo. A sua localização, dimensão, o facto de estar na vertical e gravado no estuque são disso evidência.




Figura 131 - Vamos à cidade de Medellin na vizinha Estremadura espanhola. Aqui no cunhal de uma das torres da muralha medieval encontramos mais um Alquerque-Suástica.  A sua localização no cunhal é uma das evidências para a sua função apotropaica. Acerca de possíveis reutilizações já falámos na I Parte. A mais flagrante evidência para a sua função enquanto símbolo é a dimensão. Este Alquerque tem 40X40cm, um tamanho exagerado e completamente desnecessário para o Jogo do Alquerque dos Três. Estes Alquerques de grandes dimensão surgem muito, por vezes com o ponto central aprofundado ou com um Círculo no meio. 


Figuras 132 - Dois exemplos no Concelho de Alandroal de Alquerques com Círculo no meio ou com o ponto central aprofundado. Na Ermida de Santo António de Capelins encontramos um Alquerque riscado no xisto do balcão, com dimensões de 40X50cm e com um Círculo no centro. De dimensões exageradas para ser um tabuleiro de jogo e associado a outros símbolos apotropaicos. Na Igreja de Montejuntos temos um Alquerque riscado no xisto do chão do Adro, com dimensões de 30X30 cm e com o ponto central aprofundado. A sua dimensão e localização são estranhas e levam a pensar num ritual antigo num chão que é relativamente novo.Um ponto central mais aprofundado surge muito nos Alquerques dos Nove que encontramos em afloramentos rochosos. Falta compreender a função deste ponto: centro do mundo? centro do universo? representação divina? Local onde se queimava algo?


Figura 134 -  Na fotos temos mais um contributo de Joaquin Larios Cuello a quem agradecemos. Aqui ao lado nas imediações da Aldeia raiana de Cheles encontramos uma casa abandonada. Na porta desta casa um dos mais bonitos Alquerques-Suástica que já vimos. Riscado no estuque, numa moldura de espigas bem bonita, associado a uma reza e desempenhando a sua função apotropaica.



Figura 135 - Em Monsaraz no murete da escadaria, no exterior do  Museu do Fresco, encontramos um Alquerque-Suástica gravado no xisto. Encontra-se encostado à parede tornando difÍcil que seja um tabuleiro de jogo. Pensamos que tenha uma função apotropaica protegendo a porta que fica mesmo atrás. Apresenta as dimensões de 15X15cm e está muito bem desenhado. Este símbolo foi identificado pela Gemma Alvarez Benitez a quem agradecemos.


Figura 136 - Passamos agora ao Alquerque dos Doze como símbolo e desempenhando funções apotropaicas. Voltamos a Elvas e visitamos  a Torre de Menagem do Castelo medieval. Protegendo uma das seteiras encontramos o nosso Alquerque. Apresenta as dimensões de 20X20cm e está riscado no estuque verticalmente. Mais um excelente exemplo que esta forma de Alquerque é também um símbolo religioso. 


Figura 137 - No Forte de Vila Viçosa na janela da antiga prisão encontramos vários símbolos. Estes símbolos têm sido sido interpretados como tabuleiros de jogo. Concordamos que são Alquerques mas desempenhando a sua função apotropaica. A quantidade de tabuleiros, todas as pedras estão esgrafitadas, é exagerada. Não havia necessidade de traçar tantos tabuleiros e tão juntos. Alguns deles são o mesmo tipo de Alquerque. A altura a que a janela se localiza também impossibilita o acesso aos Alquerques. Torna difícil que sejam jogados. Nesta janela encontramos também um pequeno Pentagrama, de que já falámos, e alguns Acrónimos. Os Alquerques são dos Três do Doze e um original Alquerque com Losangos. Esta quantidade  de símbolos reflecte o medo do desconhecido, do futuro, por parte dos indivíduos encerrados nesta sala. Descrevemos  a mesma situação na Figura 115 em relação à Cadeia de Marvão. Onde também encontrámos vários símbolos gravados nas paredes da janela.


Figura 138 - Ainda no Forte de Vila Viçosa encontramos muitas  das janelas protegidas por Alquerques com Triângulos. Alguns apresentam formas invulgares como podemos ver na foto da direita. Por vezes estão associados a Cruciformes e outros simbolos. São certamente Alquerques mas desempenhando a sua função apotropaica.



Figura 139 -  Apresentamos mais um Alquerque dos Doze enquanto símbolo apotropaico. Agora riscado no xisto da ombreira da porta da Igreja Misericórdia e com as dimensões de 25X25cm.  São vários os Alquerques nas ombreiras de Monsaraz mas infelizmente outros grafitos foram gravados por cima. As "camadas" de grafitos de algumas ombreiras de porta e afloramentos rochosos são complicadas. Identificar grafitos no xisto é um verdadeiro quebra-cabeças.


Figura 140 - Algumas fachadas estão muito bem protegidas com o nosso Alquerque enquanto símbolo apotropaico. É o caso da Capela do Senhor Jesus dos Aflitos em Borba. Neste templo os mármores brancos e negros formam Suásticas Gironadas, como podemos ver na foto do lado esquerdo. Na foto do lado direito temos azulejos de fabrico moderno protegendo uma fachada de Estremoz. Aqui encontramos de novo mas num contexto mais recente, a nossa Suástica Gironada.  


2.5 - Outros Símbolos 



Figura 141 - Vamos agora apresentar exemplos de símbolos que surgem com menos frequência protegendo edifícios. Ainda não encontrámos nenhum Hexagrama protegendo portas ou janelas em edifícios comuns alentejanos. Apresentamos na foto da esquerda um Hexagrama na parede da Sé de Lisboa. A foto foi retirada do Blogue "Por Terras de Sefarad". Não sabemos a localização exacta do Hexagrama nem conseguimos perceber a sua função. Na foto do centro encontramos o Hexagrama protegendo a cobertura de madeira da Igreja de São João Baptista em Chillón (Extremadura espanhola). Obrigado Carmen Corchero, e família, pela visita guiada e pelas férias. Na foto da direita temos o Hexagrama guardando uma das portas da Igreja de Santa Maria de Olivença. Riscado na ombreira e com 10 cm de diâmetro. Obrigado amigos da Associação Património de Olivenza. Especial agradecimento ao José António Carnerero e ao Juan Vazquez Ferrera que partilharam connosco vários dos símbolos de Olivença.



Figura 142 - Ainda por Olivença mas agora na Torre de Menagem temos um Octagrama protegendo uma das seteiras, nas fotos da Direita. Este tem  10 cm de diâmetro e foi riscado no estuque em posição vertical. É muito interessante a forma como foi "construído" resultando de dois Triângulos Duplos. Nas fotos da esquerda outra Torre de Menagem agora em Elvas. Na foto central um dos vários Octagramas que protegem as seteiras gravados na argamassa e com várias dimensões. Na esquerda um espectacular Octagrama riscado verticalmente no granito. Este símbolo apresenta 25 cm de diâmetro e protege a porta de acesso ao nível superior. A quantidade de Octagramas que encontramos na Torre de menagem de Elvas leva-nos a pensar que foram gravados em período islâmico. Um símbolo muito usado nesta época e que teve continuidade nas tapeçaria e olaria. Mais um caso em que podemos datar através dos símbolos. Apenas uma hipótese.


Figura 143 - O Octagrama teve alguma sobrevivência nas soleiras das portas e na forma de azulejos. Aqui desempenha uma provável função apotropaica. Em (3) encontramos coloridos Octagramas na soleira de uma porta. Hexagramas e Octagramas surgem nesta forma colorida desde  época romana. Em (1 e 2) temos mais símbolos apotropaicos em azulejos. Com a particularidade de se poder escolher a forma a pintar. À vontade do freguês. Muito interessante. Em (2) podemos ver o Octagrama associado a Cruzes Ponteagudas no azulejo da esquerda. No azulejo da direita o Octagrama surge associado ao Rub el Hizb. Estes azulejos apresentam uma tradição islâmica que pelos vistos continuou até muito recentemente. Na porta da direita, na grade da porta, encontramos Espirais e uma Cruz Ponteaguda. 



Figura 144 - Damos agora um salto ao Castelo de S. Jorge em Lisboa. Aqui encontramos uma bela colecção de azulejos Hispano-árabes. Nestes surgem vários símbolos religiosos que passamos a descrever. Em (1) encontramos o Octagrama associado ao Rub el Hizb. Em (2) o Octagrama está associado a uma Suástica. Em (3) temos um Nó de Salomão e o Rub el Hizb. Em (4)  uma Suástica ou Cruz Gamada. Em (5) o Hexagrama num ladrilho. Em (6) de novo o Octagrama associado ao Rub el Hizb.  Um mundo muito interessante. 



Figura 145 - Apresentamos a  Igreja de Nossa Senhora de Loreto em Juromenha (Alandroal). Aqui encontramos as portas e janelas muito bem protegidas. Na foto da esquerda sobre a porta temos Espirais, a Cruz da Ordem de Avis e Lauburus. Na ombeira da porta temos uma Cruz Patada e um espectacular Pentagrama, dentro de um Círculo, e com outro Círculo no centro. Um Pentagrama "oficial" e associado à Cruz Patada. Faz-nos pensar nos Templários mas isso é outra conversa. Na foto da direita temos uma janela com Lauburos protegendo todos os cantos. Um bom exemplo do Lauburu enquanto símbolo apotropaico. Lauburus, o Pentagrama e a Cruz Patada apresentam cerca de 25 cm de diâmetro. Todos estes símbolos estão dentro de círculos. Os Lauburos foram gravados no estuque. O Pentagrama e a Cruz Patada estão gravados em relevo no granito podendo ser bem mais antigos. Obrigado à Eva Maria Nevado Sanchez por nos ter chamado a atenção para a importância do Lauburu no seu País Basco. 


Figura 146 - Fotos da soleira da porta da Igreja de S. Martinho em Medellin (Extremadura espanhola). Aqui encontramos um raro símbolo, o Losango Cruzado. Símbolo que surge protegendo altares nas "Cantigas de Maria" de Afonso X no século XIII. Ver Figura 31 da I Parte. Surge aqui numa função claramente apotropaica o que nos leva a pensar nos  "supostos" tabuleiros de jogo que surgem nas soleiras de vários outros templos.  Este símbolo está gravado no granito e apresenta as dimensões de 30X30cm.



Figura 147 - Continuamos na Extremadura e vamos agora a Mérida. No Circo romano e numa das entradas para a arena lá está mais um símbolo interpretado como tabuleiro de jogo. Pensamos que este seja mais um símbolo apotropaico. Quem passava por esta porta bem precisava de protecção. Chamamos a este símbolo Roda Solar mas será provavelmente mais uma Suástica. O nosso Alquerque dos Três pode ser uma "evolução" deste símbolo. Mais fácil de traçar numa forma quadrangular. A Roseta Hexaétala também apresenta uma forma parecida. Todos estão relacionados com o número nove e com o Navagraha Hindu. Com o movimento do Universo. 


Figura 148 - A Igreja dos Agostinhos em Vila Viçosa apresenta na sua porta lateral uma bela colecção de símbolos apotropaicos. Entre eles encontramos uma Cruz Ponteaguda dentro de três Círculos Concêntricos. Um símbolo raro na ombreira de uma porta. Tem 25cm de diâmetro e está desenhado a lápis no mármore.



Figura 149 - Nesta Figura apresentamos três portas protegidas por Espirais. A espiral Dupla surge muito associada a outros símbolos. Esta função "complementar" pode ter a ver com o que a Espiral representa (?). 



2.6 - Nos elementos de portas e janelas


Figura 150 - Vamos agora apresentar os símbolos que surgem nos vários elementos das portas. Na grade que protege as vidraças das portas encontramos muitas Espirais. Este é o símbolo mais frequente neste suporte. Outro símbolo que surge muito é a Cruz Ponteaguda  por vezes associada a Círculos. Vimos este símbolo protegendo a porta da Igreja dos Agostinhos na Figura 148. 



Figura 151 - Podemos ver mais grades com Espirais e por vezes associadas a Losangos. Estes  surgem muito na parte inferior da porta. Este símbolo surge muito protegendo portas, janelas  e fachadas por vezes na horizontal. Na foto da direita além do Losango temos um Alquerque provavelmente com função apotropaica. 



Figura 152 - Nesta figura temos  o Losango esculpido na madeira de duas portas e numa janela, na foto da direita.



Figura 153 - Passamos para as portas de madeira da Sé de Évora. Em (1) encontramos um Alquerque riscado na porta da Sacristia. Nesta porta assume certamente uma função apotropaica. Este é um dos melhores exemplos do alquerque enquanto símbolo apotropaico. Em (2) encontramos duas espectaculares Suásticas que fazem parte da decoração "oficial" da porta. Em (4) encontramos uma Flor da Vida  riscada no lado de dentro da porta principal.  Esta Flor da Vida é feita de Rosetas Hexapétalas que formam uma "rede". Em (3) temos uma Cruz Patada de grandes dimensões (70x70cm) e associada à Flor da Vida. 



Figura 154 - A Roseta Hexapétala também surge muito esculpida na madeira das portas. A foto da esquerda é do Vítor Rafael Sousa a quem agradecemos. Na foto da direita temos a Hexapétala riscada na madeira de uma forma mais discreta.



Figura 155 - As Suásticas também surgem gravadas na madeira de portas. Apresentamos duas nas fotos da esquerda, de pequenas dimensões. Na foto da direita encontramos um Pentagrama riscado numa porta de Vila Viçosa. 



Figura 156 - Em (1) vemos Cruciformes pintados na porta da igreja da Misericórdia no Cano em Sousel. Obrigado pela partilha Teresa Meira. Em (2) o Acrónimo AM pintado numa porta de Vilarinho dos Galegos em Mogadouro. Uma partilha de Estácio de Araújo. Em (3) dois Cruciformes gravado na madeira de uma porta em Zalamea de la Serena. Partilhado por José Jerez Linde.



Figura 157 - Em Viana do Alentejo encontramos o Oratório do Calvário. Na porta de metal deste vemos um Cruciforme e uma Suástica Gironada. É muito interessante como este símbolo foi usado até recentemente. Hoje o seu papel apotropaico parece ter sido esquecido. Uma partilha do José Figueira a quem agradecemos. 



Figura 158 - Os batentes das portas apresentam várias formas e muitos têm uma função apotropaica. Nos batentes encontramos vários tipos de Cruciformes, vários Animais, a Mão também surge muito. Os Cruciforme são claramente apotropaicos. Alguns dos animais também por exemplo o Leão ou o Cão. Encontramos vários batentes com a forma de Cão em Monsaraz.  Podem ver um deles, bem antigo, na foto de baixo da Figura 158. A Mão apresenta um simbolismo religioso noutros suportes. O investigador Luis Filipe Maçarico não pensa que a Mão que surge nos  batentes alentejanos seja a "Mão de Fátima". Vamos desenvolver esta discussão na IV Parte. 
Charles Fairey acerca do papel apotropaico dos batentes:
   "Door Knockers and Door Furniture also often took the form of protective devices, often grotesque, animalistic or symbolic ironmongery was used. Sometimes incised lines, crosses and similar marks were often included on the drop handles and latches of entranceways into the household. To a double garage door, and some of the stable doors, to the Barns at Hollyhedge Farm, Weston, Cheshire, cast iron latches exist with apotropaic markings: to the double door is a latch with three incised vertical lines of dots, with two ‘X’ details in between; and to a few of the top or bottom stable doors, either facing or on the reverse of the latch, are two incised vertical lines of dots eitherside of an ‘X’ detail."



Figura 159 - Em (1) encontramos a acrónimo AM na grade da vidraça de uma porta. Em  (2) temos dois Corações na grade de uma janela associados a Espirais. Encontramos estes pares de Corações noutros suportes e associados uma pequena chave. A chave do amor de um casal (?). Um amor trancado e bem protegido. Em (3) vemos uma janela com  Espirais na grade e Flores de Lótus em relevo na madeira. Estas "Flores" surgem muito em pequenas dimensões e nos mais variados suportes. Vão surgindo também esgrafitadas em ombreiras de portas associadas a Hexapétalas e Cruciformes. 



Figura 160 - Na moldura de janelas e portas do Alentejo encontramos os "Alisares". Uma decoração mais comum em janelas e que por vezes incorpora símbolos com função apotropaica. Da esquerda para a direita encontramos a Roseta Hexapétala, a Cruz Ponteaguda, o Octagrama, a Flor de Lótus, o Coração e o Losango. São apenas alguns dos muitos símbolos que protegem as janelas alentejanas. 

Figura 161 - As grades no topo de algumas portas e as grades das varandas também escondem símbolos. Na fotos de cima encontramos Rosetas Hexapétalas em varandas de Reguengos de Monsaraz. Estas Hexapétalas são de dimensões médias e bem visíveis.  Nas fotos de baixo encontramos pequenos Octagramas como que escondidos. Provavelmente mais um caso de símbolos aceites pela religião "Oficial" e símbolos usados na religião "Popular". Quase todos os trabalhos em ferro que vamos encontrando apresentam Espirais. Muitas destas Espirais são as mesmas que surgem na arquitectura clássica. Podemos pensar que são revivalismos neo-clássicos, mas estas espirais surgem em território alentejano desde a Proto-História. As cerâmicas da Idade do Ferro já se encontravam decoradas-protegidas com Espirais. A nosso ver as Espirais  representam continuidade. Continuidade  que é o reflexo da rica Identidade Cultural do Alentejo. A sobrevivência de tantos símbolos em tantos suportes é um tesouro que tem que ser conservado e divulgado. 



3 - No interior dos edifícios



Figura 162 - Vamos partilhar apenas alguns exemplos de símbolos apotropaicos que encontramos dentro de edifícios. Uma introdução a um universo muito vasto. Na foto do lado esquerdo, e na do centro, temos uma coluna dentro do Forte de Vila Viçosa. Esta coluna está numa das torres e em lugar de passagem. No mármores da coluna encontramos um Cruciforme picado e com as dimensões de 30X20cm. São várias as colunas do Forte onde surgem grafitos. Na foto da direita temos um Cruciforme (15X10 cm) guardando a entrada do claustro do Mosteiro de S. Francisco em Évora. 



Figura 163 - Entrámos num pátio de Estremoz e para nossa surpresa todas as colunas tinham Cruciformes gravados. Estes apresentam várias dimensões, têm formas bastante trabalhadas e originais. Que mais estará por aí escondido à vista de todos. 


Figura 164 - Na foto da direita temos um espectacular Alquerque enquanto símbolo protegendo o quarto de um monte alentejano. Muito bem traçado numa baldosa e com as dimensões de 30X30cm. A sua localização no chão directamente em frente da porta confirma a sua função apotropaica. Mais um exemplo que o Alquerque é um símbolo religioso. Na foto do meio damos um salto ao Mosteiro da Batalha. Aqui encontramos uma pequena Cruz impedindo o mal de passar. No chão em frente de uma porta, com as dimensões de 20X20cm e riscada no mármore. Na foto da esquerda vemos um belo Cruciforme com pendões, riscado no xisto do balcão e directamente em frente da porta.   


Figura 165 - Continuamos a olhar para o chão onde encontramos Octagramas e Losangos no Palácio da Ajuda. Na foto da direita  temos o "Programa da Cristina" muito bem protegido por um tapete de Hexapétalas formando uma Flor da Vida. Símbolo que encontramos por exemplo riscado na madeira das portas da Sé de Évora.


4 - Das Fachadas




Figura 166 - A forma de protecção que mais surge nas fachadas das casas alentejanas são os azulejos representando Santos, Anjos, Maria e outras figuras do Cristianismo. Muitas vezes encontram-se directamente por cima da porta. Este azulejos fazem parte da religião "oficial".


Figura 167 - Apresentamos alguma da diversidade simbólica das fachadas alentejanas onde o Losango é Rei. Em (1) vemos uma chaminé rodeada de Rosetas Hexapétalas (A), na grade da porta o Losango e Espirais (B), os alisares terminam em Círculos. Em (2) temos alisares aguçados na janela, na porta e no telheiro. Em (3) encontramos o Losango na platibanda, no cunhal, nos alisares da porta e das janelas. Em (4) temos o Losango protegendo a varanda e a chaminé de uma casa bastante recente. Em (5) encontramos a dupla protecção da Virgem e do Losango. Mais um Losango em (6). Em (7) temos uma original decoração-protecção feita de Círculos e Losangos e a janela parece ser um Cálice, muito interessante.



Figura 168 - Observamos vários Losangos Horizontais em fachadas e principalmente nas platibandas. Encontramos este símbolo associado a Cruzes Pontiagudas e Círculos. Todos estes símbolos desempenham uma provável função apotropaica. É muito interessante a continuidade desta simbologia. Continuidade que encontramos também nas cores onde predominam o azul ultramarino e o amarelo torrado.


Figura 169 - Observamos várias fachadas de edifícios na vizinha Espanha. Aqui encontramos a Roseta Hexapétala muitas vezes associada ao Losango. Ambos os símbolos desempenham a função de afastar o mal por vezes em espectaculares "redes".



Figura 170 - Cruciformes protegendo várias casas. Estes surgem em relevo, em ferro, em azulejo, em pedras de diferente cor (foto de Fernando Fidalgo)  ou são simplesmente pintados a branco. 



Figura 171 - Encontramos a Espiral em vários elementos arquitectónicos, em relevo ou pintada. Uma decoração-apotropaica muito frequente e de grande continuidade.



Figura 172 - A variedade de símbolos apotropaicos que encontramos protegendo edifícios no Alentejo é grande. Ainda não compreendemos muitos destes símbolos. Outros são diferentes formas de Cruciformes ou Suásticas. Passamos a apresentar os símbolos da Figura 172,  todos localizados na raia alentejana. Em (3) encontramos uma Espiral protegendo uma parede. Em (4) vemos um Octagrama numa platibanda. Em (5) temos uma Roseta Hexapétala também numa platibanda. Em (6) vemos uma Tripétala no canto do armazém de um monte.  Em (7) encontramos uma Suástica Flamejante num palacete. Em (8) temos uma Cruz Rasgada numa casa comum. Guardámos as fotos (1 e 2) para o fim porque não conhecemos estes originais simbolos. Apesar de ligeiramente diferentes entre si passamos a chamá-los Triângulos Antropomórficos. Encontramos o paralelo mais próximo em Idolos Pré-Históricos (?). Agora protegem casas e chaminés. Muito interessante e em estudo.  


5 - Dos Portões


Figura 173 - Os portões alentejanos são magníficos e carregados de significado. Separam o mundo conhecido do desconhecido. São  a primeira barreira na luta contra contra o mal. O símbolo que mais encontramos em portões recentes ou antigos é a Espiral. Quando o portão faz um arco encontramos a Espiral no topo. No entanto é mais frequente nos muros laterais e na forma de Espiral Dupla. A Espiral é mais um Símbolo, como o Losango, que sobreviveu na religião "oficial". A principal razão da sobrevivência destes dois símbolos é a sua interpretação como meras decorações (?). Não são meras decorações ou modas arquitectónicas, Representam a continuidade da Identidade Cultural na Arquitectura alentejana. Sobreviveram nesta região nos mais variados suportes de que temos vindo a falar. Um conjunto de  superstições que já não encontramos muito por essa Europa fora.  



Figura 174 - Nas fotos de cima vemos portões ricamente decorados e com espectaculares relevos. Os portões alentejanos são uma categoria de monumento por vezes esquecida. Nestes portões encontramos Cruciformes, Vieiras, Pinhas e Espirais, etc. Nas fotos de baixo, à direita, encontramos um portão com Rosetas Hexapétalas e Espirais (no ferro do portão). Quase todos os portões alentejanos apresentam uma simbologia "oficial", provavelmente por causa da sua visibilidade. Em baixo na foto da esquerda encontrámos um pequeno tesouro no Concelho de Reguengos de Monsaraz. Em S. Pedro do Corval temos espectacular portão com uma Espiral simples. Uma raridade e uma herança que nos chega da Pré-História. Infelizmente esta Espiral  já foi caiada. Mas que continuidade. 



Figura 175 -  Mais algumas fotos de portões e da sua rica simbologia. Espirais, Suásticas, Cruciforme, Losangos, Pinhas e formas que surgem em estelas funerárias de período romano. 



Figura 176 - Sobrevivências apotropaicas em Cascais. Fotos de Guilherme Cardoso (p. 123 e 125). Como é que nunca reparei nessa chaminé na Torre.  



6 - Estruturas de Apoio


Figura 177 - Encontramos símbolos apotropaicos em todo o tipo de estruturas de apoio às actividades rurais. De um simples abrigo de pastores num afloramento granítico até aos importantes moinhos. Apresentamos então um abrigo descoberto e fotografado por Manuel Calado. Na parede foi riscado um pequeno Pentagrama. Uma protecção do sono ou de uma tempestade mais violenta.


Figura 178 - Quase todos os moinhos têm graffiti. Encontramos riscos de contagens, relógios de sol, tabuleiros de jogo, datas, assinaturas e claro os nossos símbolos apotropaicos. Na Figura acima temos o Moinho do Lucas, um moinho de rodete na Ribeira de Lucefécit (Alandroal). Na ombreira da porta lá estão dois conjuntos de três Círculos Concêntricos (30 e 25 cm de diâmetro) com funções apotropaicas. 


Figura 179 - Nas fotos vemos dois moinhos de vento. Do lado esquerdo perto de Vimieiro (Arraiolos) encontramos um moinho com a porta protegida por uma Cruz. Do lado direito temos um moinho perto de Montoito (Redondo). Na ombreira da porta, dentro de dois círculos de igual diâmetro, cerca de 30 cm, encontramos um Lauburu e uma Roseta Hexapétala. Esta é uma associação de símbolos apotropaicos frequente nas chaminés.


   
Figura 180 - Apresentamos vários moinhos publicados por amigos e todos eles com símbolos apotropaicos. Em (1) Carmen Balesteros traz-nos um Moinho na Ribeira do Seicho (Trancoso). Este está protegido no lintel por um Pentagrama e duas Quadripétalas que formam Cruzes Patadas em negativo (Santos e Balesteros 2004, p. 30). Em (2) temos uma partilha de Guilherme Cardoso da Azenha da Cartaxa ou do Crime (Cascais). Esta está protegida por um Cruciforme na ombreira da porta. Em (3 e 4) Vítor Rafael Sousa partilha o interior de um Moinho em Agualva. Este está protegido por uma Roseta Hexapétala e por um Pentagrama na sua estrutura de madeira. Em (5) apresentamos uma foto de José de la Riera em que vemos um Moinho em Mazaricos (Galiza) protegido por um espectacular Pentagrama.


   
Figura 181 - Nos fornos também encontramos vários símbolos para afastar o mal. Na fotos de cima temos a casa do forno de um monte alentejano em Reguengos de Monsaraz. Na parede do lado direito encontramos um enorme Alquerque enquanto símbolo. Este encontra-se riscado no estuque com as dimensões de 50X40cm. Mais um exemplo do Alquerque enquanto Suástica apotropaica. Em baixo na foto da esquerda temos um forno protegido por um Cruciforme. Na foto da direita um forno na Casa do Barro em S. Pedro do Corval (Reguengos de Monsaraz). Protegendo a entrada do forno encontramos um Pentagrama e um Cruciforme gravados nos tijolos e com 5cm de diâmetro. A associação destes dois símbolos é frequente.


Figura -182 - Nas fontes encontramos muitas Espirais como podemos ver na Fonte do Telheiro, à esquerda, em Reguengos de Monsaraz. Ou na Fonte da Pedra. à direita em cima, em Arraiolos. Nesta última também encontramos um espectacular Nó de Salomão. Na Fonte Grande em Vila Viçosa, em baixo à direita, encontramos vários Cruciformes com a ajuda de luz rasante. 

Figura 183 - Continuamos no mundo da água. Na foto da esquerda vemos um pentagrama protegendo a Ponte da Ajuda em Elvas. Nas restantes fotos temos alguns das dezenas de símbolos que acompanham o percurso do Aqueduto da Água de Prata em Évora. 



Figura 184 - Fomos passear para esticar as pernas e num colmeal ali para os lados de Monsaraz demos com esta placa de xisto. Estava na entrada do colmeal mas já partida. Apresenta um Alquerque dos Doze enquanto símbolo apotropaico. Muitas destas pedras depois de soltas são confundidas com tabuleiros de jogo móveis. Pesando cerca de 10 kg não me parece que alguém andasse com ela às costas....só eu. Em (1) a placa de xisto. Em (2) o símbolo que esconde. Em (3) o pó talco como método de leitura e em (4) a luz rasante. 



Obrigado, a equipa






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11 comentários:

  1. Mru caro amigo Luis.
    Mais uma vez lhe dou os meus parabéns pelo excelente trabalho de pesquisa e em dar a conhecer a beleza que este nosso Alentejo nos dá e por vezes nos passa despercebido em especial aos menos atentos, e curiosos pelo saber,
    Nasci numa simpática aldeia rural de Elvas ( Vila Fernando) onde possui um vasto património no que se refere á simbologia nas suas chaminés como foi referenciado pelo amigo.
    Acredite que tenho sido um vilafernandense que tenho sensibilazo os proprietários onde se localizam esses símbolos para a sua preservação? Pois sendo uma aldeia pequena mas muito alentejana em que através destes símbolos pode despertar a curiosidade dos visitantes?
    Agradecido pela divulgação de tal património " escondido".
    E para quando um lançamento de documento escrito sobre este património.
    Espero que me permita partilhar estes apontamentos tão interessantes.
    Continuação de um bom trabalho, estarei sempre atento.
    Um abraço
    José Belfo (Elvas)

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  2. maravilhosoa documentação muitíssimo obrigada que lindo é Portugal! Trugarez, Kenavo!

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  3. Um interessante ,curioso e extraordinário estudo e trabalho que repassei em algumas páginas do Facebook ,especialmente nas que dizem respeito ao Alentejo.
    Os meu parabéns pela publicação .
    Já agora e a titulo de curiosidade,o seu apelido despertou-me a atenção já que como antigo tripulante da TAP fui colega e grande amigo na FAP no curso de pilotagem de 1961 e posteriormente na TAP do Gastão Lobato de Faria já falecido que deve ser seu parente .
    Cumprimentos

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  4. Ora viva, muito obrigado.
    Infelizmente não conheci muitos dos meus primos mais velhos.....

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  5. Excelente tema aqui tão bem retratado. O Alentejo é riquíssimo em tradição. Não sou alentejana de origem mas aprendi a amar o Alentejo, onde me desloco e permaneço frequentemente. Também tem sido alvo de muitos dos meus posts, não se comparando ao seus, naturalmente.
    Obrigada pela partilha.
    Cristina
    Coisas de Feltro

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  6. Fascinante! As coisas que acabo de aprender e que me abriram os olhos para tanto que vejo à minha volta sem "ver"! Muito obrigado.

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    1. Obrigado pelo comentário. Ainda temos muito para "ver". O pessoal envia muita informação que é preciso transformar em conhecimento ufa ufa. Abraço

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