1 - Nós Eternos
Os Nós fazem parte da História do Homem. Todos conhecemos a História do Nó Górdio e a "delicada" solução de Alexandre. Leite de Vasconcelos refere o "Nodus Herculaneus" dos Gregos e Romanos, um Nó mágico conhecido por Nó de Salomão na crença Judaico-Cristã (Vasconcelos 1918, p. 266). No Norte da Europa este símbolo ganha vários nomes sendo muito frequente na Heráldica. Em Portugal foi mesmo adoptado pela Casa de Bragança. Acerca da função dos Nós mágicos deixamos as palavras de Leite de Vasconcelos (1918):
"Os nós mágicos têm fundamentalmente por fim prender os espíritos, ou os bons ou os maus. Assim como o Diabo leva consigo as almas perdidas, assim se supõe que tem em seu poder qualquer cousa que se perde, e por isso prendem-no para evitarem que ele faça maior mal." (p. 267).
Figura 201 |
"The representation of this symbol, either in rock art or on stones for including in houses from the Hillfort’s Culture, had certainly an apotropaic value, which seems to persist during the Middle Ages in the Eastern Pyrenees, both in rock art (Abelanet, 1990) and scratched on the walls of some churches (Coimbra, Tosana, 2010)" (Coimbra 2015, p. 83).
O mesmo autor acerca dos Nós que "escondem" Suásticas:
"No caso das swastikas do Alto Minho castrejas elas deveriam ter um valor apotropaico, tal como os trísceles e tetrásceles que surgem em pedras semelhantes. Corno diz V. Risco, «pode que estes signos dos nosos castros e citanias pretendesem asegurar, como o nó de Gordio, algunha potência divina, persoal ou impersoal, co-a qual o que os contemplaba creia pôrse en comunicación» (RISCO, 1959: 488). Para alguns, este tipo de símbolo não é uma swastika. Nós pensamos que é..... " (Coimbra 1996, p. 370).
Os Nós de Salomão são Nós Eternos. As suas linhas não têm fim, não conseguimos encontrar a ponta. Para Matthew Champion (2015) as "forças do mal" seguem as linhas sem fim dos Nós ficando presas para eternidade. Este autor dá o exemplo do Pentagrama que serve para afastar o mal ou para o encerrar nas suas linhas eternas (p. 51). Na maneira como podemos traçar o Pentagrama, sem levantar o bico do lápis, também encontramos um Nó Eterno. Além do Pentagrama e do Rub el Hizb vários outros símbolos surgem na forma de Nós.
Acerca da decoração geométrica islâmica encontramos as seguintes hipóteses em Torres (2007):
"Um tal fascínio dos artistas muçulmanos pela decoração geométrica intriga os historiadores da Arte, que avançaram várias hipóteses. Para alguns, terá sido o peso do tabu religioso sobre a representação figurativa....Para outro, a importância conferida pelos muçulmanos ao estudo da matemática e da ciência dos números.....Para os partidários da influência do pensamento religioso e místico sobre a mentalidade dos artistas, os traçados, nas suas formas infinitas, reflectiriam o fundamento da crença na indivisibilidade de Deus. E para os adeptos do simbolismo e esoterismo, cada figura geométrica representaria um símbolo - os artesão, agrupados em confrarias de iniciados, conservariam o hermetismo dos códigos e o significado dos símbolos" (p.146-148).
Às hipóteses acima descritas acrescentamos a função apotropaica destas "redes" geométricas.
"Um tal fascínio dos artistas muçulmanos pela decoração geométrica intriga os historiadores da Arte, que avançaram várias hipóteses. Para alguns, terá sido o peso do tabu religioso sobre a representação figurativa....Para outro, a importância conferida pelos muçulmanos ao estudo da matemática e da ciência dos números.....Para os partidários da influência do pensamento religioso e místico sobre a mentalidade dos artistas, os traçados, nas suas formas infinitas, reflectiriam o fundamento da crença na indivisibilidade de Deus. E para os adeptos do simbolismo e esoterismo, cada figura geométrica representaria um símbolo - os artesão, agrupados em confrarias de iniciados, conservariam o hermetismo dos códigos e o significado dos símbolos" (p.146-148).
Às hipóteses acima descritas acrescentamos a função apotropaica destas "redes" geométricas.
2 - Quadrados Mágicos
3 - O Losango
O Losango surge muito como elemento decorativo na arquitectura portuguesa e principalmente em templos. No Alentejo, terra de forte identidade cultural, podemos encontrá-lo por todo o lado. Encontramos o Losango em platibandas, alisares, chaminés, fachadas, portas, janelas e portões. Concluímos que o Losango funciona na casa alentejana com mais um símbolo apotropaico. Um símbolo que surge em cerâmicas desde a Idade do Ferro e foi muito usado em íromano. O Losango faz hoje parte da cultura Berbere do Norte de África, dos Tamazigh de Marrocos. Para este povo o Losango, nas suas várias formas, é um talismã, um olho contra o mau-olhado.
4 - Portais e Placas Profilácticas
Os Portais surgem em várias culturas e são muito frequentes em contextos funerários. Estes portais quando esgrafitadas são por vezes confundidas com marcações dos construtores dos monumentos. Pensamos que estes Portais assumem funções apotropaicas. Em Monsaraz encontramos um original Portal em relevo gravado no xisto de um lintel. Este é o melhor exemplo deste tipo de símbolo na sua função apotropaica. Protegendo a entrada de uma habitação. Também encontramos alguns grafitos de Portais associados a Pentagramas. Esta associação é mais uma evidência da sua função apotropaica. Estes Portais surgem por vezes na forma de Placas Profilácticas. As palavras do casal Varela Gomes (1997) em relação uma Placa encontrada em Silves (em (3) na Figura 210 abaixo):
"As Placas apotropaicas são elementos arquitectónicos pouco comuns no mundo islâmico peninsular, sendo, também, conhecidas por "placas profilácticas". Elas oferecem textos ou iconografias variada, onde se destacam alguns símbolos recorrente, tidos como possuidores de propriedades capazes de afastarem o mal, e, por isso, acreditava-se serem detentoras de características que lhes conferem as denominações indicadas."(p.142).
"Os arcos simbolizam a passagem entre dois mundos, entre a luz e as trevas do mundo profano. Por eles partem influências funestas e são acolhidas as boas. Eles podem indicar a porta do Céu. Julgamos constituir importante pervivência deste aspecto o arco ultrapassado, claramente islâmico, gravado no lintel de uma porta de Monsaraz.
Tal como em Gormaz, também nos surgem em Silves, os motivos estreliformes, integrados em círculos, um de tipo fitomórfico, mas com cinco pontas e um claro pentalfa. Trata-se de símbolos que carregam a ideia de perfeição, conotada com a organização do Cosmos e, portanto, contrária ao Caos, contendo o poder de esconjurara o mal nele gerado. As suas propriedades serão ainda mais poderosas que as do hexagrama ou "selos de Salomão" observados nas placas de Gormaz." (p.146 e 147).
Acrescentamos a opinião de Fernando Coimbra sobre Estelas funerárias de período romano com Portas:
"Mais recentemente, Armando Redentor admite a possibilidade de estas «portas» representarem uma arcaria honorífica, testemunhando «uma transposição do conceito de arco honorífico enquanto monumento. Ou seja, a inclusão desses motivos decorativos nas estelas funerárias, já por si monumentos de memória, significaria a transposição da monumentalidade específica de que goza aquela construção. De facto, o arco honorífico, enquanto estrutura que materializa uma passagem, foi assumindo (…) papéis simbólicos diversos: se, inicialmente, serviu para a realização de rituais, de valor sagrado e apotropaico, tornou-se, no início do Império, num importante instrumento plástico para enaltecer e divinizar uma personagem» (Redentor, 2002: 240)" (Coimbra 2007, p.17).
Os portais no mundo funerários assumem muitas formas desde um simples grafito, passando por estelas funerárias até às Qubbas. Uma conversa que vai ter que ficar para outro post.
Os portais no mundo funerários assumem muitas formas desde um simples grafito, passando por estelas funerárias até às Qubbas. Uma conversa que vai ter que ficar para outro post.
5 - Pregados na Porta
A porta separa o nosso mundo do desconhecido. É uma barreira que tem que ser bem protegida. Contra ladrões com trancas bem fortes. Contra o mau-olhado com uma panóplia de objectos: ferraduras, cruzes de madeira, cardos, medalhas, patas de animais, etc
A Lua sempre foi muito importante para as comunidades agrícolas. Em muitas delas o ano começava mesmo na primeira Lua Cheia depois do Equinócio da Primavera. Com o Cristianismo a importância da data é reafirmada com a Semana Santa e a Páscoa. São muitas as Festas que ainda encontramos no nosso Alentejo rural por esta altura. Aqui no Concelho de Alandroal temos a Festa dos Prazeres na Vila de Terena. Na nossa Aldeia temos a Festa de Santa Cruz. Depois é Dia da Espiga, começam as colheitas, a tosquia dos animais e as importantes sestas. Para terem uma ideia das datas aqui vão as de 2012: Domingo de Páscoa - 8 de Abril, Festa dos Prazeres -15 de Abril, Santa Cruz - 11 de Maio e Dia da Espiga - 17 de Maio.
Moisés Espírito Santo (2004, p.117 e 118) refere que por esta altura que se aspergia as ombreiras das portas com o sangue dos cordeiros. Ainda segundo este autor em relação à ancestral Festa das Maias (Espírito Santo 2013):
"A Festa das Maias (1 de Maio) foi comum a todo o País (e em muitas partes da Europa); hoje, ainda consiste em colocar ramos de flor de giesta sobre as ombreiras das portas ou nos buracos das fechaduras para que o "Maio" (ou, então, a preguiça ou os bruxedos...) não entrem; acabou por ser associada à Santa Cruz, 3 de Maio."(p. 245).
Deixamos uma interessante partilha de Jorge Castro:
" Lá por Trás-os-Montes e anos 50/60, a minha avó materna enchia cada fresta de cada janela da casa com molhinhos de giestas floridas, alegando ela que, assim, o Maio «não nos entrava pelo rabo acima» (sic).
No Dia da Espiga há o costume de fazer o ramo de espigas e flores e colocá-lo atrás da porta até ao próximo ano. Se entretanto houver uma trovoada é deitar um bocadinho da espiga no lume da lareira de maneira a que os raios não nos visitem.
Guilherme Cardoso partilha connosco dois documentos, da Câmara de Lisboa do século XIV, que pretendem acabar com alguns rituais antigos substituindo estes por rituais cristãos entre eles a Santa Cruz:
“… que daqui em diante esta cidade e em seu termo não se cantem Janeiras nem Maias, nem a outro nenhum mês do ano, nem se lance cal as portas no título de Jano, nem se furtem águas, nem se lancem sortes, nem se britem águas, nem se faça alguma outra obra, nem observância, como se antes fazia…
...Em congregação de letrados e varões religiosos, que na Câmara ajuntarão, fizeram votos, prometendo a Deus de os guardarem para sempre, e nunca mais usarem de superstições, feitiços, encantamentos, invocações de demónios, e sortes; deixarem todos os ritos gentilícios, como cantar janeiras, fazer maias, e outras festas em outros meses, nem se carpirem sobre finados…
A partir dessa data observa-se que no Distrito de Lisboa nos primeiros dias de Maio só se festejava a Bela Cruz e a Santa Cruz, através de cruzes feitas com flores ou ornamentação de cruzeiro com flores.".
...Em congregação de letrados e varões religiosos, que na Câmara ajuntarão, fizeram votos, prometendo a Deus de os guardarem para sempre, e nunca mais usarem de superstições, feitiços, encantamentos, invocações de demónios, e sortes; deixarem todos os ritos gentilícios, como cantar janeiras, fazer maias, e outras festas em outros meses, nem se carpirem sobre finados…
A partir dessa data observa-se que no Distrito de Lisboa nos primeiros dias de Maio só se festejava a Bela Cruz e a Santa Cruz, através de cruzes feitas com flores ou ornamentação de cruzeiro com flores.".
Figura 215 - Em (1 e 2) temos um interessante elemento apotropaico do mundo vegetal - o Cardo. Em (1) cravado numa porta e associado a outros objectos de cariz apotropaico. Segundo Cruz Sanchez e Ruiz Trueba (2019):
"Puerta de una casa de Zerain (Guipúzcoa) que acumula símbolos protectores tales como eguzkilore o flor del sol, una Sagrado Corazón y un par de medallas. Fondo Carlos Flores, 1970....
El poder de protección de la cruz se suele amplificar, con frecuencia, con otros tipos de detentes tales como las conocidas chapas esmaltadas con el sagrado corazón de Jesús, tan comunes a partir de finales del siglo XIX (Herradon, 2009: 214-216), medallas, comúnmente de San Benito con la conocida oración, eficaz detente contra el demonio o incluso partes de animales, tales como zarpas de buitre o incluso de oso —de las que aún encontramos ejemplos en Saldaña y en Navacepeda de Tormes, en Palencia y Ávila respectivamente o en el Pirineo oscense—, claveteadas en las puertas (Valverde, 2005: 32-33) y ciertas plantas con propiedades mágicas (Gonzalez, Garcia-Barriuso y Amich, 2011: 380). En este sentido, Carlos Flores fotografió numerosas puertas de caseríos vascos con la presencia de unos cardos denominados eguzkilore o flor del sol—flor de la Cardina acaulis—, cuya función, en la cosmovisión mágica del pueblo vasco, es la de ahuyentar a los malos espíritus y espantar otros males que puedan afectar a los habitantes de la casa, planta que en tierras aragonesas se denomina carlina y que se solía colocar en los pajares y en los corrales o parideras (Biarge y Biarge, 2000: 144146)." (p 194 e 195).
Muito interessante a descrição do poder do Cardo por (Navarro Lópes 2018): "Por su parecido con el Sol, la carlina se coloca en dinteles, puertas y ventanas como amunleto para elajar brujas e malos espíritus. La explicación popular para este uso asegura que las brujas, al verla, no pueden resisitir la tentación de contar las numerosas y minúsculas flores que posee en el interior del capítulo floral. Haciéndolo, se les hace de día y tienen que huir sin conseguir realizar lo que tenían planeado." (p78).
As portas também podem estar protegidas por patas de animais. Em (3) vemos uma pata de javali e em (4) temos patas de uma ave associadas a um Cruciforme.
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6 - Siglas e Acrónimos
São várias as Siglas e Acrónimos com função apotropaica. Estas estão relacionadas com o cristianismo. Entre as mais frequentes encontramos referências a Jesus Cristo: IHS representando as três primeiras letras do nome de Jesus em Grego "ΙΗΣΟΥΣ" ou o INRI para "Jesus o Nazareno rei dos Judeus" em Latim "Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum".
Algumas referem-se à Virgem Maria: o AM para "Avé Maria" ou simplesmente A em que se lê também "Avé Maria". Este tem por vezes uma forma antropomorfica. Outro forma é o W do latim "Virgo Virginum" ou "Virgem das Virgens" que também surge como M.
Figura 216 - Em (1) apresentamos uma espectacular porta medieval em Castelo de Vide. Aqui encontramos a Epigrafe do construtor, um Peixe e uma "Avé Maria" na forma de um simples de A . Em (2) o mesmo A na sua forma antropomórfica gravado no Adro da Sé de Évora. Em Terena (Alandroal) encontramos a impressionante Igreja-Fortaleza da Boa Nova. Nos muretes exteriores deste Santuário temos alguns grafitos. Em (3) encontramos o W associado às Cinco Chagas de Cristo. Em (4) um simples AM. |
7 - Zoomórficos
O simbolismo dos animais é um tema muito vasto que não vamos aprofundar por aqui. É também alvo de diferentes interpretações o que o torna muito complexo. Dou como exemplo de beleza e complexidade os frescos quinhentistas das Casas pintadas em Évora. Neste fresco surgem vários animais, alguns mitológicos, em algumas "cenas".
Passamos a apresentar alguns grafitos de animais provavelmente desempenhando funções de cariz religioso. Já falámos de figuras de animais que guardam o chapéu das chaminés funcionando como "Espanta Bruxas". Vamos agora falar brevemente de Peixes, Felinos, Pombas e Pinhas.
Passamos a apresentar alguns grafitos de animais provavelmente desempenhando funções de cariz religioso. Já falámos de figuras de animais que guardam o chapéu das chaminés funcionando como "Espanta Bruxas". Vamos agora falar brevemente de Peixes, Felinos, Pombas e Pinhas.
Figura 217 - O Peixe está ligado ao Cristianismo do Grego "ICHTHUS" ou "Jesus Cristo filho de Deus o Salvador". Em (1) vamos encontrá-lo no lintel de uma porta medieval em Castelo de Vide associado a outros símbolos. Em (2) está no Adro da Igreja de Nossa Senhora da Lagoa em Monsaraz. Aqui também associado a outros símbolos como por exemplo o Alquerque. Em (3) surge na placa de fundação do Castelo medieval de Borba. Em (4) encontramos um Pássaro associado a um Alquerque dos Três. Estes dois símbolos estão grafitados no estuque debaixo do fresco do "Bom e do Mau Juiz" em Monsaraz. O "Passarinho" representa um suborno. No fresco encontramos o "Mau Juiz" com mão estendida aceitando "Passarinhos". Ainda bem que já resolvemos o problema da corrupção em Portugal. Em (5) temos um Cavalo, que surge muito em grafitos com ou sem cavaleiro. Um animal importante ao longo da História do Homem. Em (6) visitamos Torre de menagem do Castelo medieval de Elvas. Aqui encontramos vários grafitos com estranhas personagens. Seres em postura vertical e vestidos mas com cauda e focinho (?). Os grafitos escondem muitos segredos. |
Figura 218 - Do lado esquerdo vemos o Chafariz de Santo Estevão em Évoramonte. Neste encontramos os Grafitos de um Lobo (1), de um Cisne (2) e de um Macaco (3). O que fazem lá e quando foram feitos não sabemos. O Macaco surge fora do seu habitat natural. Terá sido trazido de além-mares? Na Cidade de Estremoz tirámos uma foto, à direita, a uns riscos na ombreira de uma porta. Uns meses depois fomos ver a foto, com calma, e surgiu um felino. Um felino guardando um porta de Estremoz. Que mais escondem as ombreiras das nossas povoações? |
Figura 219 - Uma das tradições apotropaicas é proteger a casa com Pombas nas extremidades do telhado. Outra tradição apotropaica é pôr pinhas nos muros e portões. Duas tradições que surgem muitas vezes associadas. As pombas estão relacionadas com antigas Deusas da Lua e da fertilidade como por exemplo Ishtar e Ísis. Alguns autores associam estas Deusas à Virgem Maria mas isso já é outra história. No Antigo Testamento a pomba de Noé descobriu terra e trouxe um ramo de oliveira. No mundo europeu clássico as pombas foram associadas primeiro a Afrodite e depois a Vénus. Com o Cristianismo passaram a estar relacionadas com o Espírito Santo e com a paz. A pomba é também o sÍmbolo na nossa "Alma Mater" a Universidade de Évora. Tudo coisas boas. Os pombos continuam a ter um papel no Alentejo que tem grande número de aficionados na Columbofilia e espectaculares pombais. |
Quanto à pinha deixo a excelente explicação do Guilherme Cardoso que começa com "Ídolo de Pinha" da Pré-História:
"Entre os diversos ídolos recolhidos nas “grutas” artificiais de Alapraia está o chamado “ídolo” de pinha, esculpido em rocha calcária, recolhido no hipogeu IV . A nosso ver, não se trata, na verdade, de um ídolo, mas sim de um aspersório ou hissope, a que falta o punho.
Em vários monumentos funerários da região de Lisboa têm aparecido peças idênticas, sempre ligadas a materiais arqueológicos datados do terceiro milénio a.C. A sua raridade dentro de sepulturas, nunca mais de um exemplar por cada gruta ou dólmen em contraste com os ídolos de betilo, que são comuns em vários enterramentos no mesmo monumento funerário, bem como a sua ausência em povoados levam-nos a supor que este tipo de hissope faria parte das alfaias religiosas que os sacerdotes de algum culto pré-histórico da península de Lisboa usariam em rituais, possivelmente de bênção, e que, após a sua morte, os acompanharia na sepultura.
Representações de pinha apareceram em paredes de palácios assírios, onde são retratados deuses alados, que numa mão têm um balde e, na outra, uma pinha, como que aspergindo os moradores do palácio, o que pode exemplificar aquilo que dizemos.
Mais tarde, podemos observar que, na zona da Frígia, apareceu o culto a Dionísio. Nas imagens que o figuram, aparece normalmente a segurar um tirso (báculo), decorado com eras e parras, encimado por uma pinha.....
No culto religioso cristão, o uso da pinha como alfaia religiosa manteve-se até hoje (Bandeira de prata do Círio de Nossa Senhora da Nazaré, São João das Lampas, Sintra), sendo utilizada para representar as cinco chagas de Cristo que os sacerdotes cravam no círio pascal, que está colocado junto à pia baptismal, para iluminar os catecúmenos, quando são baptizados com a água para os purificar do pecado original."
8 - Petrosomatoglifos
O palavrão "Petrosomatoglifos" refere-se a partes do corpo, humanas ou animais, que surgem trabalhadas na pedra. Pés em relevo, mãos e pénis riscados em afloramentos rochosos, nas portas dos templos e também protegendo a entrada de casas comuns. Podem por vezes surgir na forma de "pedras grandes" sendo confundidas com a Cultura do Megalitismo. Estas "partes do corpo" também surgem em pequenas dimensões na forma de Amuletos e Talismãs. Os Votos e Ex-votos são também muito ricos em "partes do corpo". Como podem compreender é um mundo imenso. Como este post já vai longo vamos só fazer uma pequena introdução apresentando alguns Petrosomatoglifos.
Figura 220 - São muitas as "Caraças" que nos olham e protegem em vários tipos de edifícios. Em (1, 3 e 4) temos algumas das várias Caraças que protegem os cunhais das torres do Castelo Medieval de Mourão. Em (5) temos uma "Caraça" em Évora. Nesta Cidade encontramos muitas "Caraças" de vários períodos cronológicos. Estas foram usadas até ao século XX como forma de protecção. Em (2) temos uma pequena estatueta que guarda a muralha medieval das Fortificações de Elvas. Esta foi-nos apresentada pelo Tenente-Coronel Luís Ribeiro a quem agradecemos. A estatueta pode ser da Proto-História sendo posteriormente reutilizada na Idade Média com funções apotropaicas. Elvas esconde muitos segredos. |
Figura 221 - Encontramos uma porta de Castelo de Vide protegida por uma curiosa "Caraça" esculpida na madeira. Há várias interpretações para as "Caraças", desde o costume de usar cabeças cortadas para assustar os inimigos até representarem deuses protectores. Uma coisa é certa ........intimidam. |
Figura 222 - Em (1 e 2) temos um "Pé", pegada ou sapato, em relevo num afloramento rochoso aqui no Alandroal. Este está muito perto de um pequeno Santuário com mais sete Podomorfos associados ao período romano. Em (3, 4 e 5) encontramos um "Pé" riscado numa escadaria de Estremoz e associado a um Cruciforme. Estes grafitos de "Pés" surgem desde a Proto-História. Uma das interpretações é que são pedidos de protecção para jornadas perigosas. Associando o "Pé" ao acto de caminhar. Protegendo as milenares Peregrinações (?). |
Figura 223 - Em (1) temos várias "Mãos" que surgem desde a Pré-História. Em (2) uma "Mão" associada a uma serpente e protegendo uma porta (foto de Armando Biendicho a quem agradecemos). Temos encontrado muitas "Mãos" nos bancos dos adros do nosso Concelho de Alandroal. Em (3 e 4) num banco e no Cruzeiro da Ermida de Nossa Senhora das Neves em Ferreira. Em (5) num banco da Ermida de Santo António de Capelins também em Ferreira. Nesta Ermida são várias as "Mãos" riscadas no xisto e surgem associadas a Alquerques enquanto símbolo. Em (6) uma "Mão" num banco do adro da Igreja de S. Pedro em Terena, de novo associada ao Alquerque. Esta está mesmo desenhada dentro deste símbolo. A nosso ver as "Mãos" são uma maneira de identificar quem fez o pedido ou promessa. Numa sociedade onde ler e escrever era um privilégio. Parece-nos boa ideia assinar uma mensagem para os deuses com parte do corpo. |
Figura 224 - Apresentamos algumas partes do corpo "sagradas". Em (3) temos as pegadas de Buda. Em (4) vemos uma pegada de Alá. As mãos e os pés dos profetas marcados na pedra ou na forma de Amuletos são muito frequentes. Em (5) temos a pegada de Buda em forma de Amuleto de papel e numa Placa Profiláctica. Em relação à placa é interessante como vamos encontrando os mesmos tipos de suporte e em diferentes culturas. Em (2) temos a Mão de Fátima, Khomsa (amuleto) ou Hamsa (cinco). Esta está desenhada numa porta e numa parede da Tunísia. A sua forma sugere uma Flor de Lotus à qual surge, por vezes, associada. Esta flor vais surgindo no nosso Alentejo um pouco por todo o lado. Os símbolos apotropaicos são muito "dinâmicos" e estão em constante "mutação". Começamos também a compreender que não são assim tantos. São diferentes representações dos mesmos. Fica aqui a opinião de António Rei sobre a Mão de Fátima no lar:
"Uma outra utilização mais vulgar desta figura é a simples pintura da mão, através de uma forma estética mais ou menos conseguida, e que aparece geralmente nas portas das casas, mas surge também muitas vezes nos muros das moradias. Esta utilização ainda mais acessível e vulgar da ‘Mão de Fátima’, talvez pela facilidade de meios para a conseguir, e sem grandes exigências técnicas e artísticas, fez com que a mesma figura, tão popular na região do Magrebe, surgisse não apenas nas portas dos muçulmanos, mas também nas dos judeus." (Rei 2005, p.7).
Luís Filipe Maçarico (210, p. 222) no estudo da mão nas portas do Alentejo cita outros autores como Claudio Torres: "A mão aberta, dos rituais mágicos....Entra no imaginário de todas as civilizações. Nas portas do Magreb o batente vulgar é a mão aberta.....". Luís Filipe Maçarico não encontra a Mão de Fátima nos Batentes das portas alentejanas. Leite de Vasconcelos comenta: "... A mão, emblema do poder, tornou-se um dos mais antigos e protectores amuletos....". Em relação à figa acrescenta: "...a mão foi a figa dos romanos (quer enquanto defesa contra maus desígnios, quer enquanto signo sexual), que se guardou, para se proteger dos maus-olhados, aparecendo ainda nos anos sessenta do século...." Em (1) temos um objecto que nos é muito querido pois foi-nos oferecido por familiares quando nasceu a nossa filha. Neste conjunto de Amuletos, que ganham força juntos, temos a Figa, o Crescente, o Corno e o Sino Saimão (Pentagrama). Leite de Vasconcelos dá-lhe o nome de "Arreliques" ou "Arrelicas" derivado de "Reliquias" (1918, p. 236). Como Talismã contra o mau-olhado e a inveja foi-nos oferecido um saquinho com ervas para colocar no berço. Até agora a magia tem resultado (noc noc noc). |
Figura 225 - Em (2) temos vários Votos ou Ex-votos de cera que replicam partes do corpo. Este cumprem a função de pedir ou agradecer algo aos deuses. A cura de uma maleita numa perna por exemplo. Com o nascimento da fotografia começou-se a usar apenas uma foto para agradecer ou pedir protecção. Em (1) podemos observar paredes repletas de fotografias no Santuário de em Viana do Alentejo. Em (3) encontramos um Ex-voto pintado num pequeno quadro de madeira. Este serve para agradecer aos deuses terem "resolvido" a "cena" retratada. Encontramos muitas "cenas" riscadas nas muralhas de fortificações e nos santuários em afloramentos rochosos. Estas "cenas" estão quase sempre associadas a símbolos apotropaicos. Abaixo nos "Casos de Estudo" apresentamos alguns destes autênticos "muros das lamentações". |
Obrigado, a equipa
Bibliografia
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muito importante . existe algum livro com esses temas? Parabéns pelo Blog
ResponderEliminarOra viva, muito obrigado, na bibliografia encontra as referências sobre os vários temas, um livro que os abarque a todos não conheço......
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